RELATO:
Existe uma
relação entre o condicionamento de Pavlov, na psicologia da aprendizagem, e o
ensino de matemática?
Ailton Barcelos da Costa
Aluno de Matemática/ UFSCar
Ao me deparar em sala de
aula com a professora, que após mostrar como se fazia o ângulo de 45° na lousa,
foi nas carteiras atender aos alunos, e mostrar como se fazia ou verificar se
estava certo, reforçando os corretos. Neste ponto me lembrei de PSICOLOGIA DE
APRENDIZAGEM, a respeito de condicionamento de Pavlov, de reforço positivo.
Na verdade estamos nos
referindo ao conceito de reflexo condicionado, descoberto por Ivan Pavlov
(1849-1936), que deu uma das primeiras abordagens realmente objetivas e científicas
ao estudo da aprendizagem, principalmente porque forneceu um modelo que podia
ser verificado e explorado de inúmeras maneiras, usando a metodologia da
fisiologia. Pavlov inaugurava, assim, a psicologia científica, acoplando-a a
neurofisiologia. Por seus trabalhos, recebeu o prêmio Nobel concedido na área
de Medicina e Fisiologia em 1904.
A experiência clássica de
Pavlov é aquela do cão, a campainha e a salivação à vista de um pedaço de
carne. Sempre que apresentamos ao cão um pedaço de carne, a visão da carne e
sua olfação provocam salivação no animal. Se tocarmos uma campainha, qual o
efeito sobre o animal? Uma reação de orientação. Ele simplesmente olha, vira a
cabeça para ver de onde vem aquele estímulo sonoro. Se tocarmos a campainha e
em seguida mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e fizermos isso repetidamente,
depois de certo número de vezes o simples tocar da campainha provoca
salivação no animal, preparando o seu aparelho digestivo para receber a carne.
A campainha torna-se um sinal da carne que virá depois. Todo o organismo do
animal reage como se a carne já estivesse presente, com salivação, secreção
digestiva, motricidade digestiva etc. Um estímulo que nada tem a ver com a
alimentação, meramente sonoro, passa a ser capaz de provocar modificações
digestivas.
As respostas condicionadas
podem ser motoras, secretoras ou neurovegetativas. Podem ser condicionadas
reações voluntárias ou reações vegetativas involuntárias. Podemos fazer com que
respostas involuntárias apareçam de acordo com a nossa vontade, se usarmos o
condicionamento adequado. “As respostas condicionadas podem ser excitadoras
(com aumento de função) ou inibidoras (com diminuição de função)”, (Amaral
e Sabbatini, 2007).
Assim, ao relembrar este
conceito aprendido em PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM, devemos nos perguntar qual a
diferença entre a teoria do reflexo condicionado e a hipótese freudiana do
inconsciente em sala de aula?
Afinal de contas a
descoberta do reflexo condicionado por Pavlov e a invenção da psicanálise por
Freud, fatos que marcaram o limiar do século XX é de inegável valor. A
diferença aqui referida diz respeito à concepção de aprendizagem derivada
dessas duas escolas. Uma concepção de aprendizagem baseada na descoberta de
Pavlov vê a aprendizagem como um processo de condicionamento, enquanto que uma
concepção baseada na invenção de Freud vê a aprendizagem como um processo
psíquico inconsciente. Assim, há diferenças marcantes entre propostas de ensino
orientadas por um ou outro desses dois caminhos.
O leitor deve estar
estranhado porque invocar a hipótese freudiana do inconsciente, mas pelo que li
em diversos artigos, parece difícil falar em Pavlov, sem evocar Freud. Estas
duas teorias nortearam o século XX na aprendizagem.
Bem, conceber a
aprendizagem como um processo de condicionamento, implica ver ao aluno como
objeto da aprendizagem, segundo Ribas (2007). Ele diz que o aprender é visto
como um simples esquema de estímulo-resposta, um reflexo condicionado. O motor
da aprendizagem, nesta visão é o condicionamento. Por outro lado, conceber a
aprendizagem como um processo psíquico inconsciente, movido pelo desejo,
implica ver o aluno não só como objeto, mas também como sujeito de sua própria
aprendizagem. O aprender passa a ser visto como um fato singular, adquirindo um
sentido muito mais amplo e significativo na vida do sujeito que aprende. O
aluno deixa de ser apenas um número na lista de chamada, passando a ser visto
como um sujeito aprendente, sujeito de seu desejo, sujeito de sua própria
aprendizagem e de sua própria vida.
O motor da aprendizagem
nesta visão é o desejo, singular em cada sujeito aprendente e que é sustentado
pelo outro, aquele que ocupa o lugar de encinte.
Mas, voltando a nossa
questão sobre as diferenças temos que: enquanto no modelo pavloviano o
motor da aprendizagem é o condicionamento, no modelo freudiano o motor é o
desejo. Convém fazer um pequeno parêntese aqui e mencionar que um dos
fundamentos da teoria freudiana é que: o sonho é uma realização de desejo. O
sonho é um dos processos psíquico mais detidamente pesquisado por Freud para
explicar o inconsciente.
Dado a importância que o
sonho ocupou em suas pesquisas, ele o denominou de via régia do
inconsciente.
Assim, há diferenças
marcantes entre propostas de ensino orientadas por um ou outro desses dois
caminhos, entre outros. E, eu diria que uma pequena diferença no ensinar,
resulta numa grande diferença no aprender, e que o professor, a meu ver, deve
estar sempre atento para estas chamadas sutilizas no processo
ensino-aprendizagem em sala de aula.
BIBLIOGRAFIA
Amaral, Julio Rocha do;
Sabbatini, Renato M. E. O
que é reflexo condicionado. Publicado
em: http://www.cerebromente.org.br/n09/mente/pavlov.htm
Consultado em: 15/05/2007.
Ribas, Paulo Antônio
Viegas. APRENDIZAGEM, UM
PROCESSO DE NATUREZA CEREBRAL OU PSÍQUICA? Publicado em: http://www.pp.ufu.br/Cobenge2001/trabalhos/APP035.pdf Consultado em: 15/05/2007.
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