SUMÁRIO
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . 7
1 Um olhar para as brincadeiras . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1 A PERSPECTIVA SÓCIO CULTURAL E O BRINCAR .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O
BRINCAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
2 Brinquedoteca: Um mergulho em seu universo .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1 TIPOS DE BRINQUEDOTECAS . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 FUNCIONAMENTO DE UMA BRINQUEDOTECA . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO PSICOPEDAGÓGICO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. 30
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, a infância vem sendo
marcada, pela diminuição de espaços, a correria do cotidiano e a falta de tempo dos pais para
brincar com os filhos. Fazendo-se necessária a criação de espaços privilegiados e
estimulantes, como as “brinquedotecas”, onde as crianças sozinhas ou junto com os adultos, possam
desenvolver brincadeiras e atividades lúdicas, para que o brincar e o aprender aconteçam de forma
prazerosa.
A mediação entre o brinquedo e a brincadeira
ocorre através de alguns critérios, como ter sentido experimental, valor de
estruturação, condições de relacionamento, caráter lúdico e causar prazer.
As atividades lúdicas oportunizam às crianças
explorarem aspectos da vida cotidiana e de seu mundo interno. Constituem-se formas
importantes de comunicação e relacionamento com outras crianças. Através das atividades
lúdicas a criança convive com diferentes sentimentos que fazem parte da sua realidade
interior e permite a ela estabelecer melhores relações sociais.
Vários autores que estudam o “brincar” falam
da relevância dessa atividade como parte do desenvolvimento global do indivíduo.
Como diz Piaget (1976), a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais
da criança. Em vista disso, observa-se a real necessidade de fazer um resgate das
brincadeiras como algo que faça parte efetiva da vida das crianças. Isso implica vê-la como criança e
não como um adulto que ainda não cresceu.
Neste trabalho tivemos como objetivo discutir
a importância da brinquedoteca como instrumento para a aprendizagem e
desenvolvimento motor, sócio emocional e cognitivo, num contexto psicopedagógico. Tais atividades
constituem-se ferramentas de expressão, dramatização, socialização e ludicidade
individual e coletiva que contribuem para o desenvolvimento motor, sócio emocional e
cognitivo das crianças.
Apoiando-nos em Azevedo (2008), partimos do
pressuposto que em brinquedotecas as atividades podem mobilizar ações familiares e
comunitárias que visam a qualidade de vida das crianças. Garante-lhes, assim, seu
desenvolvimento e auxilia a sanar dificuldades relacionadas ao comportamento social e
emocional.
A fundamentação teórica que norteou esse
estudo baseia-se em Vigotski (1994), Kishimoto
(2007), Wajskop (1997), Weiss (1992), Cunha (2007), Azevedo (2008), Winnicot (1975), com ênfase na perspectiva sócio
cultural do brincar. Consideramos que esses autores abordam a importância do brincar no processo
de desenvolvimento da criança.
O primeiro capítulo de nosso trabalho
conceitua o brincar enquanto promotor da capacidade e potencialidade da criança;
discute a importância das brincadeiras como auxiliar do processo de aprendizagem e apresenta a
perspectiva sócio cultural relacionada ao brincar.
O capítulo seguinte discorre sobre a
brinquedoteca: histórico, conceito, tipos existentes e funcionamento. Além disso, aponta sua
possibilidade como espaço essencialmente pedagógico, de aprendizagem e de
possibilidades de intervenção psicopedagógica em crianças que apresentam insucesso escolar.
Para o desenvolvimento do trabalho, optou-se
pela pesquisa bibliográfica por meio de levantamento de obras relacionadas ao tema em
questão.
1 UM OLHAR PARA AS BRINCADEIRAS
A palavra brincar é predominantemente
pertencente ao vocabulário da Língua Portuguesa quando se trata de atividade
lúdica infantil. Advém de brinco, do latim vinculo que significa divertir-se infantilmente;
entreter-se; recrear-se e distrair-se.
Outra expressão usada é o jogo para
referir-se ao brincar que se origina do vocábulo latino ludos que significa diversão e
brincadeira. O jogo pode ser uma forma de propiciar as crianças um lugar agradável, planejado e rico
possibilitando a aprendizagem de diversas
habilidades e conceitos.
Para Kishimoto (2007), as expressões como
brinquedos e brincadeiras passam a conotar a palavra criança a partir do
desenvolvimento de um conceito de infância. A dimensão infantil está sempre presente em
tais termos.
Segundo Kishimoto (2007, p. 18):
Admite-se que o brinquedo represente certas
realidades. O brinquedo
coloca a criança na presença de reproduções:
tudo o que existe no
cotidiano, a natureza e as construções
humanas. Pode-se dizer que um
dos objetivos do brinquedo é dar a criança um
substituto dos objetos
reais, para que possa manipulá-los. O
brinquedo estimula a
representação, a expressão de imagens que
evocam aspectos da
realidade. [...] entendido como objeto,
suporte da brincadeira, supõe
relação íntima com a criança, seu nível de
desenvolvimento e
indeterminação quanto ao uso, ou seja, a
ausência de um sistema de
regras que organize sua utilização [...].
De acordo com Wajskop (1997), na antiguidade,
o brincar começa a fazer parte da vida das crianças e também dos adultos, sendo
uma atividade que trazia satisfação e havia trocas de experiência entre as gerações. A
partir dos trabalhos de Comenius (1593 - 1670), Rousseau (1712 - 1778) e Pestalozzi (1746
-1827), surge um novo “sentimento da infância” que protege as crianças e auxilia este grupo
etário a conquistar um lugar enquanto categoria social.
Começam a surgir neste período histórico,
brinquedos educativos auxiliando no processo de aprendizagem e desenvolvimento
das habilidades sensoriais das crianças. A valorização da brincadeira infantil apoia-se,
portanto, no mito da criança portadora da verdade, cujo comportamento verdadeiro e
natural, por excelência é o seu brincar desprovido de razão e desvinculado do contexto social.
Segundo Wajskop (1997, p.25), a “brincadeira
é uma atividade humana, na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em
um modo de assimilar e recriar a experiência sócio cultural dos adultos”. Essa atividade
garante a interação e construção de conhecimento da realidade pelas crianças, pois permite
estabelecer um vínculo com a função pedagógica nas instituições. A criança que brinca pode
adentrar o mundo pela via de representação e da experimentação; o espaço da instituição
escolar deve ser um local de vida e interação e os materiais fornecidos para as crianças podem
ser uma das variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e apropriar-se do
conhecimento universal.
A forma como se apresenta a brincadeira
infantil, para Brougère (apud WAJSKOP, 1997 p. 20) “não existe na criança um jogo
natural”, sendo que a brincadeira é o resultado das relações interindividuais, portanto de
cultura, antecedendo a aprendizagem social. Aprende-se a brincar. Por meio das brincadeiras, as
crianças, utilizando-se da imaginação e da criatividade, vivenciam o real, explorando os
espaços e objetos existentes no seu cotidiano.
Kishimoto (2007) afirma que, diferente do
jogo, o brinquedo propõe um mundo imaginário à criança colocando-a em uma
relação íntima com o mesmo, devido sua fácil manipulação e ausência de regras. Desse modo,
o brinquedo estimula a representação e vincula-o com aspectos da realidade.
A brincadeira é um fenômeno cultural e
configura-se como um conjunto de práticas e conhecimentos, construídos e acumulados pelos
sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem. O brincar é um dos pilares da
constituição de cultura da infância, compreendidas como significações e forma de
ação social específica que estruturam as relações das crianças entre si, bem como,
pelo qual interpreta, representa e age sobre o mundo.
Para Borba (2006), a brincadeira inverte a
ordem, vira o mundo de ponta cabeça, faz o que parece impossível, transita em
diferentes tempos – presente, passado e futuro, desafia os seus limites da realidade. Cabe ressaltar que
a ideia de liberdade está associada não a ausência de regras mas sim, na criação de formas de
expressão e ação.
Conforme Borba (2006), brincar com o outro é
uma experiência de cultura, um processo interativo que envolve a construção
de habilidades, conhecimentos e valores sobre o mundo, assim como novas formas de
expressá-lo, pensá-lo e recriá-lo. Jogos e brincadeiras contribuem para a criação de possibilidades
de interações e diálogos, assim como suas lógicas e formas próprias de pensar, sentir e fazer.
Piaget, citado por Azevedo (2008), destaca
que a brincadeira não é apenas uma forma de entretenimento que “gasta” a energia das
crianças, mas atividades que ajudam e enriquecem o desenvolvimento intelectual.
Essas atividades favorecem progressos intelectuais, emocionais e comportamentais,
pois as crianças por meio delas vão elaborando e reelaborando seu pensamento e agindo de
diversas formas e em diferentes contextos. Essas afirmações vão ao encontro da posição de
Pinto (2003) para quem o brincar é essencial para as crianças e apresenta um poder terapêutico “natural”
que auxilia a formação infantil nas esferas emocional, intelectual e física.
Vigotski (1994, p. 126) utiliza a expressão
brinquedo para designar as brincadeiras e jogos, em geral. Para ele, “é no brinquedo
que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa,
dependendo das motivações e tendências internas”.
Através do brinquedo a criança utiliza sua
capacidade de separar significado do objeto sem ter noção do que faz, chegando a uma conclusão de
conceitos ou de objetos, e as palavras
tornam-se algo real para ela. Para Vigotski
no brinquedo:
[...] a criança projeta-se nas atividades
adultas de sua cultura e ensaia
seus futuros papéis e valores. Assim o
brinquedo antecede o
desenvolvimento; com ele a criança começa a
adquirir a motivação, as
habilidades e as atitudes necessárias a sua
participação social, a qual
só pode ser completamente atingida com
assistência de seus
companheiros da mesma idade ou mais velhos
(1994, p. 173).
Para Winnicot (1975, p.63), o brincar começa
na relação mãe e bebê, bem como, das experiências realizadas entre eles, tendo um
lugar e um tempo. Os objetos usados por bebês ou crianças que são normalmente dados pelas
mães iniciam as crianças no processo do brincar. O autor assinala que:
É a brincadeira que é universal e que é
própria da saúde: o brincar
facilita o crescimento e, portanto, a saúde;
o brincar conduz aos
relacionamentos grupais, o brincar pode ser
uma forma de
comunicação.
Heinkel (2003) comenta que o bebê, ao brincar
com suas mãos balbuciando, está recriando atitudes que a mãe realiza com ele.
A inteligência do bebê faz com que ele aja sobre o objeto, construindo e reconstruindo seus
conhecimentos sobre ele e sobre si mesmo. Isso porque a aprendizagem desde seu início passa
pelo corpo como um ato de prazer, uma vez que o prazer está aí situado.
Nos dias atuais, a infância vem sendo marcada
pela redução de espaços públicos de brincadeira e falta de tempo para o lazer.
Neste caso, a escola é, muitas vezes, o principal local de construção de sociabilidade. São
necessários lugares privilegiados e espaços estimulantes, onde crianças e pais possam
encontrar-se e compartilhar de momentos prazerosos. Ou seja, fazer valer o direito da
criança garantido por lei. O direito ao brincar é um dos direitos da cidadania e o mesmo vem
acompanhado a cultura, arte ao esporte e ao lazer. A Constituição Brasileira de 1988:
art. 227, diz que:
[...] é dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar a criança e
ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito a VIDA, à SAÚDE
, à ALIMENTAÇAO, à EDUCAÇAO, ao LAZER, à
PROFISSIONALIZAÇAO, à CULTURA, à DIGNIDADE,
ao
RESPEITO, à LIBERDADE, á CONVIVÊNCIA FAMILIAR
E
COMUNITARIA, além de colocá-las a salvo de
toda forma de
negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e
opressão. (BRASIL, 1988, p.10).
Para Heinkel (2003), a criança que brinca
está em constante processo de construção e reconstrução, pois é brincando que revela
seus medos, alegrias, angústias, tristezas, frustrações, ansiedades, sentimentos esses
importantes para sua formação. A criança expressa nas brincadeiras aquilo que tem dificuldade
de colocar nas palavras. É no brincar que a criança investe toda sua história pessoal até
então construída. Portanto, ao mesmo tempo, que comunica consigo mesma e com o mundo, produz
conhecimento.
2.1 A PERSPECTIVA SÓCIO CULTURAL E O BRINCAR
Vigotski entre outros temas, se dedicou ao
estudo das funções psicológicas superiores tipicamente humanas e acreditava que é
através do processo da mediação que elas se desenvolvem.
Para ele, brinquedo e brincar apresentam um
sentido amplo. O desenvolvimento da criança é determinado pela ação na esfera
imaginativa, intenções voluntárias motivações.
Assim, o brincar assume duas facetas no
desenvolvimento infantil: a de passado, através da resolução simbólica de problemas
não-resolvidos pela criança; e a de futuro, na forma de preparação para a vida adulta. Dessa maneira,
o brinquedo fornece a estrutura básica para as mudanças das necessidades da consciência.
Apesar de fazer referência a outros tipos de
brincadeira, Vygotsky privilegia a brincadeira de faz de conta na discussão
sobre o papel do brinquedo. Assim:
[...] o grande desafio proposto pelo
brinquedo e pelas atividades
principais é “compreender, a partir da origem
e do desenvolvimento
do próprio brinquedo, as conexões psíquicas
que aparecem e são
formadas na criança durante o período em que
essa é a atividade
principal” (VIGOTSKI, 2001, p.122).
Vigotski (1998) compreende que o brinquedo
tem intrínseca relação com o desenvolvimento infantil, especialmente na
idade pré-escolar, proporcionando o maior avanço na capacidade cognitiva da criança. É por
meio do brinquedo que a criança se apropria do mundo real, domina conhecimentos, se
relaciona e se integra culturalmente.
Ao brincar e criar uma situação imaginária, a
criança pode assumir diferentes papéis:
ela pode se tornar um adulto, outra criança,
um animal, ou um herói de televisão; ela pode mudar o seu comportamento e agir e se
comportar como se ela fosse mais velho do que realmente. Ou seja, ao representar o papel de
“mãe”, ela irá seguir as regras de comportamento maternal, porque agora ela pode
ser a “mãe”, e ela procura agir como uma mãe age. Por meio do brinquedo a criança
consegue ir além do seu comportamento habitual, atuando num nível superior ao que ela
realmente se encontra.
O autor lembra que é no brinquedo que a
criança aprende a agir numa esfera cognitiva que depende de motivações internas. Para uma
criança muito pequena os objetos têm força motivadora, determinando o curso de sua ação.
Na situação de brinquedo os objetos perdem essa força motivadora e a criança, quando vê
o objeto, consegue agir de forma diferente em relação ao que vê, pois ocorre uma
diferenciação entre os campos do significado e da visão, e o pensamento que antes era determinado pelos
objetos do exterior, passa a ser determinado pelas ideias.
A criança pode, por exemplo, utilizar um
palito de madeira como uma seringa, folhas de árvore como dinheiro, enfim, ela pode
utilizar diversos materiais que venham a representar outra realidade. Nesse contexto para Vigotski
afirma:
É no brinquedo que a criança aprende a agir
numa esfera cognitiva, ao
invés de uma esfera visual externa,
dependendo das motivações e
tendências internas, e não dos incentivos
fornecidos pelos objetos.
(VIGOTSKI, 2001, p. 109-110)
Na fase pré-escolar o brinquedo torna-se a
atividade principal na criança, que se caracteriza como uma atividade cujo motivo
estabelece no próprio processo e não no resultado da ação. A atividade da criança não
a leva a um resultado de modo que satisfaça suas reais necessidades. O motivo que a leva
a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade.
Conforme Vigotski (1998), a evolução da
brincadeira vai desde uma situação imaginária com regras ocultas, para um jogo
com regras às claras, contendo uma situação imaginária oculta. Toda situação imaginária
criada pela criança no início da idade pré-escolar possui regras de comportamento implícitas,
evoluindo para o jogo com regras explícitas e uma situação imaginária implícita.
A imaginação da criança, segundo Vigotski
(1998), é uma atividade especificamente humana e consciente, que surge da ação. Em
suas ações, a criança representa situações que foram, de alguma forma, vivenciadas por ela
em seu meio sócio cultural. Sua representação no brinquedo está muito mais próxima de uma
lembrança de algo que já tenha acontecido do que da pura imaginação.
O prazer também pode ser reconhecido como um
elemento presente na maioria dos brinquedos e brincadeiras. Entretanto, para
Vigotski (1998), o brinquedo não pode ser definido somente pelo prazer que a atividade
lúdica dá à criança, pois a criança pode ter mais prazer em outras atividades e também porque,
algumas vezes, o brinquedo pode causar desprazer. Nesta perspectiva Vigotski (1998)
afirma também:
[…] que uma brincadeira que interessa a uma
criança de três anos
pode não despertar nenhum interesse a uma
criança de seis anos ou
mais; isso ocorre porque a brincadeira não é
uma atividade estática,
ela evolui e se modifica na medida em que a
criança cresce
(VIGOTSKI, 1998, p 108).
Segundo Vigotski (apud, WAJSKOP, 1997), é na
brincadeira que a criança se comporta além do comportamento habitual de
sua idade. A criança vivencia uma experiência no brinquedo como se ela fosse maior do que é
na realidade. O brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das necessidades da
consciência da criança. É na situação do brincar que as crianças podem colocar desafios e
questões além do seu comportamento diário, quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem
sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras
de organização e convivência.
Segundo Wajskop (1997), outro estudioso dessa
perspectiva teórica, a brincadeira infantil é uma atividade em que as crianças,
individualmente ou coletivamente compreendem o mundo e as ações humanas onde estão
inseridas. Esta atividade pode ser compreendida por alguns itens como:
A criança pode assumir outras personalidades,
representando papéis
como se fosse um adulto, outra criança, um
boneco, um animal; A
criança pode utilizar-se de objetos
substitutos, conferir significados
diferentes aos objetos, daqueles que
normalmente estes possuem;
Existe uma situação imaginária; As crianças
realizam ações que
representam as interações, os sentimentos e
conhecimentos presentes
na sociedade na qual vivem;As regras
constitutivas do tema que
orienta a brincadeira devem ser respeitadas
(WAJSKOP, 1997 p.).
Para Vigotski (apud WAJSKOP, 1997), a aprendizagem
configura-se no desenvolvimento das funções superiores,
através da apropriação e internalização de signos e instrumentosem um contexto de interação.
Para ele a brincadeira:
[...] cria na criança uma nova forma de
desejos. Ensina-a desejar,
relacionando os seus desejos a um “eu”
fictício, ao seu papel na
brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as
maiores aquisições de
uma criança são conseguidas no brinquedo,
aquisições que no futuro
torna-se ao seu nível básico de ação real e
moralidade (p. 34).
Vigotski (1994) considera que a brincadeira
cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que não é outra
coisa senão a distância entre o nível atual de
desenvolvimento determinado pela capacidade
de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a
colaboração de um companheiro mais capaz.
A brincadeira possui três características: a
imaginação, a imitação e a regra. Estas características estão presentes em todos os
tipos de brincadeiras infantis, sejam elas
tradicionais, de faz de conta, de regras e
podem aparecer também no desenho, considerado enquanto atividade lúdica. Tais
características apresentam-se de forma mais evidente em uma ou outra brincadeira, tendo em vista a idade
e a função específica que desempenham junto às crianças.
Outro aspecto importante referente ao
brinquedo e a brincadeira infantil é a sua função no desenvolvimento da criança, cujo
conceito Vigotski propõe de “zona de desenvolvimento proximal”. Para ele:
O brinquedo cria na criança uma zona de
desenvolvimento proximal,
que é por ele definida como a distância entre
o nível de
desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas
sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros
mais capazes
(VIGOTSKI, 1998, p.112).
Para o autor, o nível de desenvolvimento real
refere-se a tudo aquilo que a criança já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que
ela é capaz de realizar sozinha sem a interferência de um adulto ou de uma criança
mais experiente. A “zona de desenvolvimento proximal” refere-se aos processos mentais que
estão em construção na criança, ou que ainda não amadureceram.
A “zona de desenvolvimento proximal” é, pois,
um domínio psicológico em constantes transformações, aquilo que a criança é capaz
de fazer com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. É nesse
sentido que a brincadeira pode ser considerada um excelente recurso a ser usado quando a
criança chega à escola, por ser parte essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto aqueles
processos que estão em formação, como outros que serão completados.
Dessa forma, não há dúvidas do quanto o
brinquedo influencia no desenvolvimento da criança, pois o mesmo é um dos elementos que
cria uma zona de desenvolvimento proximal, uma vez que, a criança é levada a agir num
mundo imaginário, onde a situação é definida pelo significado da brincadeira e não pelos
elementos reais presentes.
O brinquedo é também uma atividade de regras
e são justamente estas que fazem com que a criança se comporte de forma mais
avançada que aquela habitual para sua idade. Nesse sentido, a brincadeira tem uma importância
fundamental no processo de ensino/aprendizagem, pois favorece a construção da reflexão, da
autonomia e ainda da criatividade. O que consequentemente contribuirá para sua
afirmação pessoal e integração social.
1.2 ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O BRINCAR
Para Jean Piaget a conduta humana organiza-se
em esquemas de ações ou de representações adquiridos, elaborados pelo indivíduo a
partir de sua experiência individual, que podem coordenar-se variavelmente em função de uma
meta intencional e formar estruturas de conhecimento de diferentes níveis. A função
que integra essas estruturas e sua mudança é a inteligência.
A Inteligência é definida por
dois aspectos:
Organização: forma determinada de organização
do conhecimento. Exemplo: não pensamos em como caminhamos, simplesmente caminhamos,
ou seja, tenho uma estrutura conhecido, a ação é o plano representativo deste esquema.
Adaptação: realiza-se através da assimilação
e acomodação.
Assimilação e Acomodação
Assimilação: transforma o objeto de
conhecimento de acordo com o que temos construído.
Exemplo: comer maçã o organismo absorve, faz
parte dele.
Acomodação: adaptar-se ao objeto de
conhecimento através do sujeito. O sujeito se transforma para acomodar o objeto. Exemplo: a
criança difere que existem vários tipos de cães, pequeno, grande, feroz, amigo.
Segundo Cunha (2007 p. 36), “os brinquedos
são convites ao brincar desde que provoquem vontade de interagir, um ursinho
nos convida a abraçá-lo, a bola nos convida a jogá-la e um quebra-cabeça nos convida a
montá-lo”. Para que os brinquedos realmente representem desafios para a criança devem
estar adequados ao interesse, às necessidades e às capacidades da etapa de desenvolvimento em
que se encontra.
Embora os estágios do desenvolvimento pelos
quais toda criança passa sejam semelhantes, a época e a forma como se
processam podem variar bastante. Cunha (2007), valendo-se da descrição das etapas do
desenvolvimento infantil sistematizado por Piaget, destaca algumas características básicas para
a utilização de brinquedos e brincadeiras, conforme a idade.
· Período sensório-motor
O bebê apresenta comportamentos reflexos. Por
volta do segundo mês surgem às reações circulares, uma fase que propicia
para estimulação visual e sonora, e recursos como:
móbiles coloridos, móbiles que se movimentam,
móbiles sonoros. É importante enriquecer o campo visual e auditivo da criança, variando
as oportunidades para que ela fixe o olhar e
perceba estímulos diferentes.
Aos seis meses a criança começa a perceber
que os objetos existem, mesmo não estando ao alcance de seus olhos, daí a
importância de brincar de esconde-esconde;
brinquedos sugeridos: móbiles colocados ao
alcance da mão da criança; chocalhos pequenos; brinquedos para morder; bichinhos de vinil;
bola - bebê de diferentes texturas; martelo de borracha, entre outros.
De oito a doze meses ocorre um significativo
desenvolvimento motor, a criança senta e se locomove mais facilmente. Realiza
movimentos de pinça e passa os objetos de uma mão para outra, imita gestos e sons. É necessário
oferecer vários materiais para a criança manipular: brinquedos de puxar e empurrar;
livros de panos; argolas de plásticos para encaixar; cubos de panos, bichos de pelúcia;
João Bobo; caixa com diversos objetos para por e tirar; caixa de música; vasilhas para
encaixar umas nas outras; bonecas de panos; cavalinhos de pau entre outros.
Dos doze aos dezoito meses a criança aprende
a andar, explora espaços, corre de um lado para outro, aprende a usar as duas mãos
ao mesmo tempo, pede os objetos apontando-o, age por tentativas sucessivas até acertar o
que deseja. É interessante oferecer nesta fase: brinquedos pedagógicos, principalmente os
encaixes; brinquedos que abrem portinhas, que saltem, que se apertem botões.
Dos dezoito a vinte e quatro meses a criança
começa a lembrar das pessoas e coisas, sua memória está ativa, desenvolve a
capacidade de imitar, inicia o processo de representação mental, a criança é capaz de correr e subir
nos obstáculos começa a querer fazer sozinha mesmo que não consiga. Nesse período, os
brinquedos que satisfaçam as necessidades de movimentação são imprescindíveis: brinquedos
de empurrar; carrinhos e outros brinquedos de puxar; blocos de construção; bate-estacas;
brinquedos de desmontar; degraus e pequenos escorregadores; túneis; carro ou bicicleta
sem pedal, que a criança movimenta com os pés no chão.
b) Período das operações concretas (2 a 12
anos): subdividido em:
- Período pré-operacional: 2 a 7 anos
Por volta dos dois anos a criança já é capaz
de planejar suas ações e de usar um objeto para representar outro. Seu pensamento ainda
tem algumas limitações que precisam ser conhecidas e entendidas pelas pessoas que
interagem com ela.
- Período pré-conceitual: 2 a 4 anos
A criança ainda não é capaz de elaborar
conceitos corretos, pois não sabe generalizar para formar classes. A linguagem verbal
desenvolve-se bastante, quer saber o nome de tudo e define as coisas pela sua função. É
importante que a criança usufrua dos seguintes brinquedos: livros de panos; telefones;
panelinhas e todo o tipo utensílios de cozinha; mobilhas e objetos domésticos; bonecas;
máscaras, chapéus, fantasias e capas; fantoches; bichinhos de plásticos e pelúcia; massa de
modelar; quebra-cabeças simples; tambor, pandeiro e corneta; carros, caminhões, trenzinhos e
aviões; pianinho ou xilofone; cabanas e casinhas; balde e pazinhas; triciclo; material para fazer
bolinha de sabão;
Período intuitivo: 4 a 7 anos
A criança começa a argumentar, embora suas
razões ainda não sejam lógicas. Elas são baseadas em seus desejos ou temores. Quer
saber o porquê de tudo e faz muitas perguntas.
Gosta de montar e desmontar, classificar e dá
nomes, faz ordenações por tamanho e estabelece sequências. Gosta de ouvir histórias e é
capaz de interferir o final, gosta de fazer construções com blocos, gosta de competições e jogar com
os amigos, sua linguagem se amplia, assim como o interesse pela leitura e pela escrita.
Alguns brinquedos sugeridos: blocos de
construção; material para pintura e desenho; jogos de dominó, loto, damas; jogos de
circuito; carrinho de boneca; livros de história.
- Período das operações concretas: 7 a 12
anos
Neste período o pensamento da criança
ultrapassa o nível sensorial, passando a formar classes e séries mentalmente, relaciona fatos
e tira conclusões. Apresenta interesse por coleções e pode colecionar desde tampinhas,
figurinhas, até selos ou papéis de carta. Cabe ressaltar, que se o interesse pelas coleções
for subsidiado, poderá evoluir e se transformar em interesse por pesquisa. Assume pequenas
tarefas, escolhe companheiros por afinidades, gosta de receber elogios, possui conceitos espaciais,
noção de tempo, senso de responsabilidade, compreende as consequências de seus atos.
Sente-se atraído por esportes realiza com prazer, pode desenvolver preferência por um esporte
específico.
É importante que o espaço de brincar, como a
brinquedoteca, tenha jogos e material esportivo que possam ser utilizados ao ar
livre. Sugere-se nesta fase: bolas e raquetes; boliche; futebol e botão; peteca; jogos de
montar (desafiantes), jogos de construção, de circuito, de perguntas e respostas, de damas,
de xadrez; mini laboratórios; quebra-cabeças mais elaborados; ferramentas para construção
de brinquedos e assim por diante.
c) Períodos das operações formais (12 anos em
diante)
Os pré-adolescentes precisam de seu espaço,
os adultos, entre eles os brinquedistas, poderão criar um ambiente agradável,
proporcionando um ponto de encontro, jogos divertidos além de tratar sobre assuntos e temas atuais.
2 BRINQUEDOTECA: UM MERGULHO EM SEU UNIVERSO
A brinquedoteca, segundo Azevedo (apud CUNHA,
2008), é uma instituição que surgiu no século XX, assegurando à criança um
lugar específico com inúmeros brinquedos e brincadeiras, sendo um espaço aconchegante,
alegre e colorido, com diversas atividades lúdicas propiciando incondicionalmente o ato
de brincar.
Em 1934, conforme o autor, em Los Angeles surge
a primeira ideia de brinquedoteca.
Um diretor de escola, ao receber reclamações
de que os alunos estavam roubando brinquedos de uma loja, iniciou um serviço para
emprestar brinquedos como recurso comunitário, serviço este que existe até hoje com o nome de “Toy
Loan”.
Na área da educação especial, em meados do
século XX surgiram na Suécia, as ludotecas, tendo como objetivo de orientar os
pais de crianças excepcionais no empréstimo de brinquedos, auxiliando no desenvolvimento da
aprendizagem. Neste local, adultos capacitados brincam com as crianças e seus
familiares, ensinando-os e orientando-os a continuarem as brincadeiras em casa, fazendo
parte de um trabalho terapêutico e também como forma de prevenção.
Segundo Santos (1997), as brinquedotecas
surgiram no Brasil nos anos 80, como um espaço criado com objetivo principal de
possibilitar estímulos para que a criança possa brincar livremente. É um espaço que ocorre a
interação educacional, onde as pessoas que trabalham nesse lugar como os “brinquedistas”,
que tem formação especializada, se preocupam com a alegria e com o
desenvolvimento emocional, social e intelectual das crianças.
Para a organização de uma brinquedoteca, os
objetivos são enumerados como principais finalidades do trabalho nela
desenvolvidos, descritos a seguir, conforme Santos (1997, p.14):
• proporcionar um espaço onde a criança possa
brincar sossegada, sem cobranças e sem sentir que está atrapalhando
ou perdendo tempo;
• estimular o desenvolvimento de uma vida
interior rica e da capacidade de concentrar a atenção;
• estimular a operatividade das crianças;
• favorecer o equilíbrio emocional;
• dar oportunidade a expansão de
potencialidades;
• desenvolver a inteligência, criatividade e
sociabilidade;
• proporcionar acesso a um número maior de
brinquedos, de experiências e de descobertas;
• dar oportunidade para que aprenda a jogar e
a participar;
• incentivar a valorização do brinquedo como
atividade geradora de desenvolvimento intelectual, emocional e
social;
• enriquecer o relacionamento entre as
crianças e suas famílias;
• valorizar os sentimentos afetivos e
cultivar a sensibilidade.
Na brinquedoteca, conforme o autor, a
implicação educacional é a valorização da atividade lúdica, respeitando as necessidades
afetivas da criança, diminuindo assim, a opressão dos sistemas educacionais rígidos.
Nesse espaço, além de resgatar o direito a infância, dá ênfase a criatividade e
espontaneidade da criança quase extinta pela tecnologia educacional de massa.
Para Cunha (2007, p.13) “brinquedoteca é um
espaço criado para favorecer as brincadeiras. É um espaço onde as crianças (e
os adultos) brincam livremente, com todo o estímulo a manifestação de suas potencialidades
e necessidades lúdicas”.
Ao encontro deste posicionamento, Azevedo
(apud KISHIMOTO, 1994) afirma que a brinquedoteca estimula não só as atividades
lúdicas individuais e coletivas, como também
permite um conhecimento maior das crianças
por meio dos brinquedos com os quais brinca ou das brincadeiras em que escolhe participar. A
brinquedoteca é concebida como espaços de animação sociocultural encarregados de
transmissão da cultura infantil, assim como do desenvolvimento da socialização, integração
social e construção de representações infantis.
Enfim, das brinquedotecas existentes no
mundo, cada uma com características específicas, todas voltadas ao mesmo
objetivo, o desenvolvimento integral da criança em todos os seus aspectos: emocional, intelectual
e social. A seguir são descritos algumas modalidades de brinquedoteca.
2.1 TIPOS DE BRINQUEDOTECAS
Segundo Cunha (2007), as brinquedotecas
buscam atender as necessidades lúdicas e afetivas das crianças. Sabemos que há
crianças diferentes e situações diferentes, no entanto, para atender essas diferenças, necessita-se
de diferentes brinquedotecas. Hoje elas existem em favelas, museus, circos, creches, escolas,
presídios, hospitais e caminhões.
Cunha (2007) nos apresenta alguns tipos de
brinquedotecas:
· Brinquedoteca Hospitalar:
Tem como finalidade, alegrar a criança
durante sua permanência no hospital, tornar esse período menos traumatizante,
possibilitando melhores condições para o restabelecimento da saúde. A rotina na vida da criança é
interrompida, a partir do momento que ocorre a internação num hospital, pois a mesma fica
privada da companhia de seus parentes e amigos, de seus brinquedos, na verdade de tudo que
lhe é familiar. A brinquedoteca Hospitalar tem como objetivos:
a. Preparar a criança para as situações novas
que irá enfrentar como vestir roupas de médicos ou de enfermeira, brincar com
instrumentos cirúrgicos de brinquedo e, através de situações lúdicas, tomar
conhecimento sobre detalhes de vida no hospital e sobre o tratamento que vai ser
submetida.
b. Preservar sua saúde emocional, ou seja,
proporcionar oportunidades para brincar e encontrar outras crianças, que também estão
passando por situação semelhante. As atividades lúdicas contribuem para manter
a autoconfiança.
c. Dar continuidade ao processo de
estimulação de seu desenvolvimento. Ocorre quando a criança é submetida a internamento
muito prolongado, para que a mesma não seja prejudicada, oportunidades de
interação precisam ser proporcionadas a elas, onde se sintam bem.
d. Tornar o ambiente agradável, proporcionar
condições para que os familiares e amigos que vão visitar a criança a encontrem
num ambiente favorável, tanto o jogo como o brinquedo facilita o relacionamento
tornando-o mais alegre.
e. Preparar a criança para a volta ao lar, no
hospital a criança pode encontrar mais atenção e alimento que em sua casa, em alguns
casos readaptação ao lar, pode ser mais difícil do que sua estadia no
hospital.
MODELO BRINQUEDOTECA HOSPITALAR - IMAGEM EXTRAÍDA DA INTERNET
· Brinquedoteca Circulante:
Este tipo de brinquedoteca funciona dentro de
um veículo adaptado, pode ser ônibus, caminhão ou trailer, esta alternativa tem a
finalidade de atender as comunidades mais distantes, ou atender vários lugares no
sistema de rodízio. Cunha (2007) faz algumas sugestões ao implantar este tipo de
brinquedoteca:
a. Planejar os lugares onde serão visitados,
observando as condições de segurança e higiene;
b. Combinar os dias e horários que serão
visitados;
c. Fazer um levantamento sobre a clientela
que será atendida (idades, necessidades principais e preferências)
d. Escolher e selecionar os brinquedos;
e. Programar a volta, limpeza e recuperação
dos brinquedos;
f. Avaliar o trabalho realizado;
g. Parceria com a comunidade para auxiliar na
recuperação e construção de brinquedos.
MODELO BRINQUEDOTECA CIRCULANTE - IMAGEM
EXTRAÍDA DA INTERNET
· Brinquedoteca Terapêutica:
São espaços onde são ofertadas atividades lúdicas
que através destas aproveitam as oportunidades auxiliando as crianças em suas
dificuldades específicas. Segundo Cunha (2007) existem dois tipos de brinquedotecas
mais comum: terapêutica que atende portadores de deficiências; e, em segundo lugar, atende
crianças com dificuldades escolares. A primeira, por sua vez, tem como objetivos proporcionar
a criança os estímulos e benefícios oferecidos pelos brinquedos e pelo brincar; dar
orientação aos pais de como brincar de forma enriquecedora; emprestar brinquedos para as
crianças e suas famílias fortalecendo os relacionamentos.
No entanto, para atingir a meta desejada,
este tipo de brinquedoteca necessita de uma equipe de profissionais especializados na
deficiência que se propõe atender, ou supervisão de um especialista eficiente. Este por sua vez,
vai observar o desempenho da criança através da interação lúdica; verifica quais suas
necessidades; proporcionar atividades que ofereçam estímulos mais adequados; pré seleciona os
brinquedos mais interessantes, pertinentes ao estágio de desenvolvimento. Quando a criança
não demonstra muito interesse pelo brinquedo, o terapeuta deverá interagir com a mesma,
sempre de forma lúdica e afetiva, procurando motivá-la e apresentando o uso funcional do
brinquedo.
O segundo tipo de brinquedoteca terapêutica
atende as crianças com dificuldades escolares, precisa de uma professora
especializada ou de um psicopedagogo. A indicação dos brinquedos e jogos será através do
diagnóstico psicopedagógico, mas a escolha da criança deverá ser respeitada.
Cunha (2007) sugere alguns tipos de
brinquedos e jogos para se trabalhar em uma brinquedoteca deste tipo: blocos de
construção, brinquedos de afeto, brinquedos de berço, brinquedos de armar, brinquedos de
faz-de-conta, brinquedos de manipulação, brinquedos de montar, brinquedo hipnótico, brinquedo
musical, brinquedo pedagógico, brinquedo sonoro; jogo de sorte, jogo de baralho, jogo de
circuito, jogo de cooperação, jogo de destreza, jogo de domino, jogo de loto, jogo de memória, jogo
de paciência, jogo de perguntas e respostas, jogo de tarefas, jogo didático, jogo esportivo,
jogo de estratégia, jogo de RPG. Ressalta, ainda, o quebra-cabeça e seus diferentes tipos:
encaixes planos, verticais, peças para serem montadas e por fim o material pedagógico, que tem por
objetivo uma aprendizagem específica sem conter obrigatoriamente uma proposta lúdica. Pode
ser autocorretivo ou não.
“A descontração, a afetividade e
principalmente, a ausência de cobrança que caracterizam o ambiente de uma BRINQUEDOTECA,
fazem com que as crianças manifestem capacidades que, em clima de
tensão, não conseguem manifestar” (CUNHA, 2007 p. 101).
Assim a brinquedoteca deve ser um espaço onde
a criança sinta – se bem, para que possa desenvolver suas capacidades e
manifestar seus desejos.
2.2 FUNCIONAMENTO DE UMA BRINQUEDOTECA
Cunha (2007) destaca que o primeiro contato
da criança com a brinquedoteca tem a finalidade de satisfazer sua curiosidade,
precisa explorar livremente todo o espaço. Nas próximas visitas saberá escolher os espaços
que mais lhe agrada.
Todavia, os diferentes tipos de
brinquedotecas indicam diferentes formas de funcionamento: a clientela vai só para
brincar e outro para escolher brinquedos para levar para casa, aconselha-se que a mesma torne-se
sócia. Esse formato possibilita melhor controle de empréstimo, assim como, cria um vínculo maior
com a mesma.
Na brinquedoteca, as atividades desenvolvidas
podem ser as mais variadas; a criança pode brincar sozinha, participar de jogos com
outros companheiros ou com os brinquedistas;
o importante é que sejam criadas muitas
opções para que os frequentadores tenham sempre novidades (CUNHA, 2007, p. 63). Para o autor,
o importante na brinquedoteca é que nenhuma criança deve ser obrigada a realizar
atividades se não quiser, pode inclusive ficar parada, seu direito deverá ser respeitado. O
brinquedista pode motivá-la, mas não impor.
A escolha do brinquedo deve sempre partir das
crianças, pois as razões que as levam a essa escolha são muitas: as emoções,
experiências vividas, restrições entre outros. Neste momento são manifestados através de um
impulso aparentemente sem explicação, e que nenhuma outra proposta sugerida naquele
momento atenderia suas necessidades. Quando ocorre a interferência do adulto na atividade
da criança, esta pode deixar de ter o sentido de prazer, descoberta de novas formas, melhores
resultados, passando a ser vista como tarefa tal qual tarefa como ocorre nas escolas.
O empréstimo de brinquedos proporciona maior
número de brinquedos e maior variedade de estímulos às crianças,
despertando maior interesse quando são novidades, estimulando o pensamento e as habilidades.
Este sistema traz inúmeras vantagens como:
conhecer e utilizar brinquedos diferentes;
levar o brinquedo para brincar com amigos e irmãos; enriquecer o ambiente familiar ao
introduzir um elemento que possibilitara uma melhor integração; desenvolver o senso de
responsabilidade e o habito de zelar pelo que não é seu, pois a criança terá que devolver o
brinquedo; aprender a usufruir sem ter que possuir os objetos; recuperar o valor do brinquedo pelo
que ele realmente representa para a criança, desvinculado do seu valor monetário.
Segundo Cunha (2007), a brinquedoteca pode
possuir ambiente ou cantinhos de acordo com sua finalidade:
a) Canto do faz-de-conta: Cantinhos com
mobílias infantis como: jogo de quarto, cozinha, supermercado, camarim, hospital,
consultório medico e outros.
b) Canto da leitura: Canto para ver figuras,
ouvir histórias, os livros são manuseados como brinquedos sem a seriedade que seriam
utilizados em uma biblioteca, tapetes e almofadas devem compor este ambiente afim de
tornar acolhedor. Neste espaço a criança entra em contato com a literatura de forma
prazerosa e descontraída.
c) Canto das invenções: Espaço para inventar
coisas, construir através de jogos de construção ou material de sucata.
d) Sucatoteca: Neste espaço, são guardados os
objetos que podem servir para fazer coisas diferentes, como: materiais
descartados lavados e classificados, transformados em matéria-prima para subsidiar as criações dos
inventores. A coleta da sucata deve ser contínua.
e) Teatrinho: Criar histórias e manusear
fantoches.
f) Mesa de atividades: Em torno da qual
poderão reunir-se para jogar ou fazer trabalho coletivo.
g) Estantes com brinquedos: Para serem
manuseados livremente, propiciando diferentes formas de brincar.
h) Oficina: Espaço destinado a construção de
brinquedos e de restauração de brinquedos quebrados.
i) Acervo: Local com estantes repletas de
jogos e quebra-cabeças à disposição das crianças, que poderão retirá-los um de cada
vez.
O autor lembra que é importante que a
brinquedoteca tenha um espaço para os adultos que ficam a espera, ou que trabalhem, pois
com a circulação dos mesmos, podem atrapalhar a liberdade das crianças enquanto brincam.
Enfim, o que caracteriza a brinquedoteca é o espaço para brincar e a oportunidade de desenvolver
atividades de forma lúdica, divertida e prazerosa.
2.3 BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO PSICOPEDAGÓGICO
A brinquedoteca terapêutica é considerada uma
das modalidades possíveis de espaço para atendimento de crianças com dificuldades
de aprendizagem. Neste caso, pode vir a se constituir num importante espaço de atuação
do psicopedagogo que concebe o fracasso escolar decorrente não apenas da escola, mas
sim de todas as relações sociais em que o educando está inserido.
Consideramos que entender a brinquedoteca
como uma possibilidade de espaço para a realização de diagnóstico psicopedagógico,
supõe, como Weiss (1994), entender o contexto do aprendente de forma ampla: escolas
desestruturadas, carência de recursos e apoio pedagógico, profissionais desestimulados que não
conseguem transmitir conhecimento de forma qualitativa, bem como as dificuldades da
dinâmica familiar.
Weiss (1994, p.4) discute a aprendizagem
humana e os aspectos que desencadeiam o fracasso escolar, explicando que este
significa uma resposta insuficiente do aluno que não alcança os objetivos propostos e esperados
pela instituição escolar. Em razão disso, “é preciso que o professor competente e valorizado,
encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender”.
Dessa maneira, o papel da escola seria formar
cidadãos críticos e pensantes, como não consegue atingir a totalidade de seus
objetivos, encaminham os alunos com déficit de aprendizagem a profissionais como:
neurologista, terapeuta e psicopedagogo. Nos dias atuais, além disso, conforme a autora, os pais por
inúmeros fatores acabam não exercendo seu papel de forma satisfatória, assim as crianças são
privadas das brincadeiras, interferindo no seu desenvolvimento integral, influenciando na
aprendizagem escolar.
Azevedo (2008) explica que, ao utilizar a
brinquedoteca como um espaço de diagnóstico psicopedagógico, os profissionais
devem respeitar seu comportamento e suas necessidades brincando junto com elas. Em
parceria, pode ir questionando e analisando a maneira como a criança brinca e busca
soluções de problemas através de suas ações.
Desde o primeiro contato da criança com a
brinquedoteca e com os objetos nela dispostos, o psicopedagogo é capaz de
perceber seus comportamentos. Se realizada uma intervenção terapêutica neste espaço, aos
poucos as condutas da criança vão se modificando. Condutas como a timidez, a seleção do
brinquedo, a não participação em brincadeiras e a dificuldade de relacionamentos com o
avaliador. As crianças acabam refletindo as suas dificuldades através de suas ações, aquilo
que as mães e professores às vezes não relatam.
Neste caso, tais dados devem ser coletados
dentro de uma perspectiva bioecológica da criança, ou seja, conceito da família e da
escola, brinquedos prediletos e rejeitados, relação brinquedo idade, brinquedo sexo e brinquedo
história de vida.
Azevedo destaca (apud BOMTEMPO, 1998 p.64),
O brinquedo faz parceria com a criança na
brincadeira. Ao se observar
a criança brincar, pode-se obter uma serie de
informações sobre ela,
considerando algumas características da
relação criança-brinquedo,
tais como: preferência por este ou aquele
brinquedo; tempo de
permanência no Brinquedo escolhido; contato
com a variedade e
numero de desafios que o brinquedo
proporciona; quantidade de
brinquedos com que a criança brinca ao mesmo
tempo; material com o
qual o brinquedo é construído e sua
atratividade sobre a criança.
A interação criança - adulto é fundamental na
brinquedoteca, pois se caracteriza como instrumento de diagnóstico interventivo em
crianças com dificuldades escolares. Este profissional tem que estabelecer com cada
criança uma relação única, a de presença - ausência na brincadeira. Sua ação deve ser discreta,
momentos fica distante, com o intuito de permitir que as crianças se organizem e estruturem
sozinhas as suas brincadeiras. Outros devem estar conscientes da necessidade de sua
intervenção.
A brinquedoteca, conforme Azevedo (apud BOSSA
e OLIVEIRA, 1996), é um espaço privilegiado de encontro com a criança, em
que todos que nela, devem dar a criança a mesma oportunidade, na sua própria dimensão
psicológica e sociocultural, e constatar com seu desejo de aprender. Esse deve ser o primeiro
compromisso do processo de diagnóstico. Os desencontros dos desejos que geram as
dificuldades de aprendizagem.
Ao abrir um espaço de brincar durante o
diagnóstico, segundo Weiss (1994 p.59), o psicopedagogo “está possibilitando um
movimento em direção da saúde, da cura, pois brincar é universal e saudável. Rompe-se assim a fronteira
entre o diagnóstico e o tratamento, já que o próprio diagnóstico passa a ter um caráter
terapêutico”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Objetivando discutir a importância da
brinquedoteca como espaço para brincar e, em decorrência, para a aprendizagem e o desenvolvimento
motor, sócio emocional e cognitivo, concluímos que se trata de um local
fortemente privilegiado.
Além disso, verificamos que a brinquedoteca
pode ser utilizada satisfatoriamente pelo profissional do campo da Psicopedagogia, uma
vez que permite a observação das condutas do indivíduo em diferentes áreas de seu
desenvolvimento. O psicopedagogo pode utilizar o espaço da brinquedoteca para diagnosticar
alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem através da observação e análise
do mesmo. Isso porque, enquanto brinca o indivíduo revela seu pensamento, assim como
seus medos, alegrias, frustrações, angústias, tristezas e ansiedades. O profissional pode
intervir por meio de jogos e brincadeiras buscando fortalecer o vínculo terapeuta - paciente,
filho-família e aluno - escola.
O psicopedagogo pode contribuir desse modo
com os profissionais da instituição escolar auxiliando sua prática pedagógica.
Através da ludicidade pode fortalecer o processo ensino-aprendizagem e garantir o
desenvolvimento integral dos alunos, tendo a brinquedoteca como estratégia de diagnóstico e intervenção
psicopedagógica.
Levando em conta sua importância, constatamos
a necessidade de criar espaços lúdicos como as brinquedotecas nas quais as
crianças possam encontrar-se, compartilhar momentos prazerosos, aprenderem e se
desenvolverem. Essa medida é uma das maneiras possíveis da sociedade garantir o direito da
criança ao lazer em oposição à tendência atual de encurtamento e empobrecimento lúdico da
infância.
REFERÊNCIAS
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CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um
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HEINKEL, Dagma. O brincar e a aprendizagem
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KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, brinquedo,
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PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia.
4. Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1976.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca:
o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
VIGOTSKI, Lev Semenovitch. A formação
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VYGOTSKY, L. A formação social da mente:
o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6 ed. São Paulo,
Martins Fontes,1998.
VYGOTSKY, Leontiev, Luria. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. SP, Icone, 2001.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola.
São Paulo: Cortez, 1997.
WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia
Clinica: uma visão diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
WINNICOT, D. W. O brincar e a realidade.
Rio de Janeiro: Imago, 1975.
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