O
estudo da Geografia
UM POUCO DE CONHECIMENTO
A Geografia,
atualmente, é considerada a ciência que estuda o espaço geográfico, ou
seja, o ramo do conhecimento que busca compreender a dinâmica do espaço
produzido e transformado direta ou indiretamente pelo ser humano.
A Geografia,
atualmente, é considerada a ciência que estuda o espaço geográfico, ou
seja, o ramo do conhecimento que busca compreender a dinâmica do espaço
produzido e transformado direta ou indiretamente pelo ser humano.
A própria etimologia da
palavra “Geografia” (“Geo” = Terra; “Grafia” = Descrição)
denuncia a sua premissa inicial: descrever os fenômenos da superfície
terrestre.
Em outras definições,
ela é vista como o campo do conhecimento que visa ao estudo dos lugares ou à
explicação sobre a diferenciação de áreas.
O ENSINO DE GEOGRAFIA
VALÉRIA MARQUES é Mestre em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS
Ao
analisar o ensino de Geografia nas séries iniciais, destacam-se alguns
problemas que foram herdados por medidas educacionais fundadas em políticas
momentâneas de cada
governo.
governo.
O
ensino de Geografia passou a fazer parte do currículo oficial do ensino
primário no País a partir promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário e da
Lei Orgânica do Ensino Normal em 1946, conhecida como Reforma Capanema. Até
aquele ano, a disciplina fazia parte desse nível de escolaridade de forma
indireta, pois os conteúdos geográficos eram estudados em textos dos livros
didáticos que os professores selecionavam.
Os dados geográficos eram
apresentados de forma descritiva, com a predominância do enciclopedismo e da
descontextualização.
A Reforma Capanema foi, então, a responsável pela inclusão
da Geografia nas classes do ensino fundamental elementar e complementar.
De
acordo com as propostas da Escola Nova, o ensino primário tem a função de
promover o desenvolvimento geral do aluno, e não apenas a leitura e a escrita.
Desse modo, a reestruturação curricular da educação, de forma geral, e também o
ensino de Geografia foram ao encontro das necessidades de assimilação de
conhecimentos úteis para a vida em sociedade.
HERANÇAS DA EMC E DOS ESTUDOS SOCIAIS:
Ao
analisar o ensino de Geografia nas séries iniciais, podemos destacar alguns
problemas que foram herdados no período de regime militar por meio da
implantação da Educação Moral e Cívica (EMC) e dos Estudos Sociais. Um dos
principais foi o ensino de Geografia a partir de Círculos Concêntricos e também
vinculada ao civismo e às datas comemorativas. Há que se ressaltar que, em
muitas escolas, a Geografia e a História ainda são trabalhadas como Estudos
Sociais nas séries iniciais do ensino fundamental, o que nos mostra que ainda
não conseguimos romper com essa forma de organização curricular. A partir de
meados da década de 1970, intensificaram-se os movimentos sociais para que se
restabelecesse a democracia no País. Nesse período, também aumentaram de forma
extraordinária as discussões relacionadas à educação de forma geral e
especificamente com relação à Geografia. Essa época foi marcada como um período
que as teorias críticas ficaram em maior evidência. O Movimento de Renovação
Geográfica, que já vinha sendo gestado lentamente, tomou corpo e as teorias
críticas ganharam impulso tanto na Geografia como na Pedagogia. Assim, nesse
processo de redemocratização, os conhecimentos escolares passaram a ser
questionados e as lutas de profissionais desde a sala de aula de todos os
níveis educacionais ganharam maior expressão. Diante de muitas reivindicações e
discussões, em 1979, o Conselho Federal de Educação cedeu e deu o sinal verde
para que Geografia e História voltassem a ser ensinadas separadamente. Assim,
na década de 80, aconteceu a reintrodução dessas disciplinas nas classes de 5ª
a 8ª séries.
A nossa intenção, até este momento, foi a de refletir a respeito
de como as práticas educacionais dos professores das séries iniciais do ensino
fundamental foram sendo construídas, entendendo que a forma de construção do
pensar desses professores em relação ao ensino de Geografia foi e é muito mais
complexa do que podemos detectar aparentemente.
Essa construção se deu culturalmente,
entre outros motivos, pela forma secundária como o ensino sempre foi tratado
nas séries iniciais do ensino fundamental, em especial devido a medidas
educacionais fundadas em políticas momentâneas de cada governo, medidas muitas
vezes equivocadas.
NOTA: O artigo original "Reflexões Sobre o
Ensino de Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental" foi
apresentado no 1º Simpósio de Geografia do Estado de São Paulo (SIMPGEO-SP) e
no VIII Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro de 2008.
Cap.
01
Um
breve referencial teórico e a educação geográfica
pág.1
Ensino
de Geografia
De tempos em tempos,
temos afirmado que há um vácuo entre as mudanças que ocorreram na geografia
acadêmica e na escolar.
Podemos dizer que o
mesmo ocorre entre a maneira como os alunos se relacionam com o conhecimento e
o que acontece em sala de aula, e assim, estamos mais uma vez, diante da
contradição entre geografia das universidades e das escolas básicas.
A realidade brasileira
nos revela que o discurso adotado em sala de aula pelo professor ainda está
fundamentado, na maioria das vezes, nos manuais didáticos e em discursos
apreendidos da mídia.
Nessa perspectiva, a
memorização passa a ser o objetivo das aulas, a partir das informações obtidas
por meio de jornais, programas de TV e internet.
Uma contradição
frequentemente encontrada é a escolha dos conteúdos, que deveria estar
relacionada com uma concepção geográfica para que se possam fundamentar a
seleção dos objetivos e a maneira como será ensinada.
No entanto, quando as
escolhas são feitas, acabam-se negando determinados conteúdos, por não se ter
clareza quanto ao modo de como trabalhar ou mesmo em relação às concepções
conceituais que precisam ser explor.adas
Muitos conteúdos e
conceitos ligados às áreas de cartografia e à geografia da natureza são muitas
vezes deixados de lado.
Diante disso,
perguntamos: qual o papel do ensino de geografia nas séries do fundamental I e
II e do médio?
Se for para contribuir
para a formação do aluno e ajudá-lo a entender o mundo em que vive, estabelecer
relações entre a sociedade e o meio físico, não é o caso de nos perguntarmos
quais são os princípios que norteiam a organização curricular da geografia
escolar?
Para responder a essas
perguntas, é importante definir os objetos de aprendizagem em função da
interpretação que se fará do fenômeno geográfico que será estudado.
Portanto, a necessidade
de se pensar sobre o que pretendemos ensinar passa por explicar
O como, o que e para quê
estamos ensinando
Em relação aos princípios, podemos afirmar que a geografia estuda
o significado da localização dos fenômenos, o território, as divisões em
regiões ou países, descrevendo os lugares, interpretando as diferentes seções
espaciais e os momentos históricos.
Para González (1999,
p.93),
o saber escolar,
encontra-se então, em um contexto de conhecimento e no âmbito das relações
sociais.
A obra de
Merénne-Schoumaker (1999, p.159) introduz um esquema, apresentado a seguir, que
pode nos ajudar não só a organizar uma aula específica de determinada
disciplina, mas até elaborar um planejamento que relacione conteúdos e
conceitos de diferentes disciplinas.
Nessa direção, devemos
considerar o que queremos ensinar e como vamos ensinar.
Daí, quando entendermos
o conhecimento que ensinamos, a sua função social e os princípios
epistemológicos da geografia, realizaremos uma organização curricular mais articulada
com a didática.
Ainda segundo González
(1999), pode-se organizar um curso de geografia escolar considerando:
•
As
finalidades educativas gerais do sistema escolar nas quais se inserem os
conteúdos geográficos;
•
As
metas educativas da etapa e da área de conhecimento nas quais se inserem os
conteúdos geográficos;
•
As
metas educativas da escola em que estamos trabalhando, o que poderá ajudar na
escolha dos conteúdos;
•
O
interesse de cada atividade didática por meio da explicação dos objetivos dessa
atividade.
O propósito do esquema apresentado é mostrar como os objetivos da
área podem auxiliar nas escolhas didáticas e, assim, entendê-las como um
caminho mais adequado para organizar a aula e atingir a aprendizagem.
Um exemplo de um desenho curricular mais significativo foi a
proposta apresentada em 1962, quando o Ministério da Educação e Cultura,
publicou um manual de estudos sociais na escola.
Para a 1ª. Série, por exemplo, foi proposto: adquirir
conhecimento em relação aos fatos geográficos: dia e noite, luz e sombra, calor
e frio, nuvens e chuva, localização da casa do aluno, planificação.
Esse exemplo nos fornece parâmetros sobre os princípios
norteadores de um currículo escolar que cabe à escola estimular: o interesse que
o aluno tem no conhecimento do ambiente em que vive e nas novas experiências.
No entanto, o ensino de geografia não conseguiu, nem nas séries
iniciais do ensino fundamental I nem ao final do ensino fundamental II,
incorporar propostas metodológicas que contribuíssem para melhorar a didática
da disciplina em sala de aula.
A principal questão está relacionada com a aprendizagem e o
domínio dos saberes. Quando o aluno apenas memoriza, ou não vê objetivos no que
aprende, acaba esquecendo os conteúdos após aplicá-los em uma avaliação.
Entende-se que a geografia é uma disciplina escolar que possui
seus objetos de aprendizagem e núcleos conceituais a partir de uma abordagem
filosófica comprometida com a realidade social.
Ao selecionar os conteúdos, devem-se escolher a abordagem
metodológica com a qual se vai trabalhar e as bases teóricas da aprendizagem do
conceito.
Ao tratarmos do domínio dos saberes, entendemos que não é só
aplicá-los de maneira mecânica em situações do cotidiano, mas compreendê-los,
para que haja sentido e coerência com a realidade, ou seja, articular as
referências teóricas com a práticas.
É um processo no qual a aprendizagem significativa se contrapõe a
uma abordagem repetitiva, com um método de ensino que substitui práticas
viciadas em memorização relacionadas às atividades de repetição.
Espera-se, em uma prática de ensino mais dinâmica, que o aluno
possa não só dar significado, mas compreender o que está sendo ensinado.
O professor, ao organizar os conteúdos, deve pensar sobre eles e
planejá-los para o seu curso, imaginar como será a aula e, em seguida,
reorganizá-la, isto é, pensar em como organizá-la desde os objetivos e
conteúdos até o passo-a-passo das atividades.
Para isso, vale considerar os objetivos que serão trabalhados com
os alunos. Alguns dos objetivos para o ensino de geografia são:
a)
Capacidade de aplicação
dos saberes geográficos nos trabalhos relativos a outras competências e, em
particular, capacidade de utilização de mapas e métodos de trabalho de campo.
b)
Ampliação dos
conhecimentos e compreensão dos espaços nos contextos locais, regionais,
nacionais e globais. Destaque para o reconhecimento do território e a
compreensão das características culturais dos lugares em estudo.
c)
c) Compreensão das
semelhanças e das diferenças entre os lugares, garantindo o domínio sobre os
conhecimentos relativos ao tempo e clima, aos recursos hídricos, ao solo e à
cobertura vegetal, à população, espaços rurais e urbanos.
d)
d) Compreender os
conceitos geográficos a partir do uso da linguagem cartográfica e gráfica;
fazer uso dessas linguagens para propor soluções em situações do cotidiano.
A função do objetivo se dá em relação ao que se quer que o aluno
aprenda e não em função daquilo que se ensina.
Deve-se considerar que o currículo escolar não é permanente. Os
conteúdos podem ser substituídos à medida que ocorram mudanças na realidade e
no mundo tecnológico e científico.
É essencial dar a todos não o ensino de geografia, mas uma
“educação geográfica” cujo fim:
É conseguir que os homens não se sintam mal nos seus espaços e
meios, dentro de suas próprias paisagens e regiões, mas também nas paisagens e
regiões de civilizações que não são as suas... Porque aí conhecerão as origens
e as evoluções; ainda porque, compreendendo-as, estarão aptos a agir e
transformá-las com conhecimento de causa (Merénne-Schoumaker, 1999, p. 32)
A educação geográfica contribui para que os alunos reconheçam a
ação social e cultural de diferentes lugares, as interações entre as sociedades
e a dinâmica da natureza que ocorrem em diferentes momentos históricos.
Cabe destacar a importância do papel da geografia como disciplina
escolar para conhecer e compreender o mundo.
A seguir, uma proposta de como isso poderia ser realizado, tomando
como exemplo o tema dos transportes.
Na educação geográfica, para obter a compreensão necessária do
mundo, é importante formular hipóteses a partir de observações, para posterior
comprovação e análise.
O passo fundamental para esse processo de análise é ter a prática
científica articulada com o desenvolvimento teórico, ou seja, a dimensão da
prática pedagógica e da epistemologia da ciência geográfica.
Nessa perspectiva, a educação geográfica contribui para a formação
do conceito de identidade: na consciência de que somos sujeitos da história,
nos costumes que resgatam a nossa memória social.
O problema não é tanto o de definir o saber geográfico que deve
ser ensinado, mas o de como o aluno está aprendendo. Daí que um aluno pode
formular um enunciado, mas não entender seu verdadeiro significado. Portanto, é
importante estabelecer quais são os níveis de formulação de um conceito para
cada série e idade.
Ensinar geografia significa possibilitar ao aluno raciocinar
geograficamente o espaço terrestre em diferentes escalas, numa dimensão
cultural, econômica, ambiental e social.
Além disso, significa permitir que o aluno perceba a imagem
gráfica ou a representação cartográfica da superfície da Terra de forma
criteriosa e com o devido rigor científico.
Vejamos, a seguir, um exemplo de organização de um plano de
trabalho, que pode servir como orientação para o trabalho que o professor
desenvolve em classe.
Essa tabela é um modelo para se estruturar melhor o planejamento
semestral, trimestral ou anual.
É importante não tê-la como uma “camisa de força”, mas como uma
orientação para o percurso da condução da aula.
Bibliografia
CASTELLAR, Sônia (org.); ABUD, Katia. Ensino de Geografia e
História - Volume Único. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. (PLT nº
492)
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