domingo, 20 de julho de 2014

O ENSINO DE GEOGRAFIA E O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS




O estudo da Geografia

UM POUCO DE CONHECIMENTO

A Geografia, atualmente, é considerada a ciência que estuda o espaço geográfico, ou seja, o ramo do conhecimento que busca compreender a dinâmica do espaço produzido e transformado direta ou indiretamente pelo ser humano.
A Geografia, atualmente, é considerada a ciência que estuda o espaço geográfico, ou seja, o ramo do conhecimento que busca compreender a dinâmica do espaço produzido e transformado direta ou indiretamente pelo ser humano.
A própria etimologia da palavra “Geografia” (“Geo” = Terra; “Grafia” = Descrição) denuncia a sua premissa inicial: descrever os fenômenos da superfície terrestre.
Em outras definições, ela é vista como o campo do conhecimento que visa ao estudo dos lugares ou à explicação sobre a diferenciação de áreas.

O ENSINO DE GEOGRAFIA

      














VALÉRIA MARQUES é Mestre em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).







O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS


Ao analisar o ensino de Geografia nas séries iniciais, destacam-se alguns problemas que foram herdados por medidas educacionais fundadas em políticas momentâneas de cada
governo. 


O ensino de Geografia passou a fazer parte do currículo oficial do ensino primário no País a partir promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário e da Lei Orgânica do Ensino Normal em 1946, conhecida como Reforma Capanema. Até aquele ano, a disciplina fazia parte desse nível de escolaridade de forma indireta, pois os conteúdos geográficos eram estudados em textos dos livros didáticos que os professores selecionavam. 
Os dados geográficos eram apresentados de forma descritiva, com a predominância do enciclopedismo e da descontextualização. 
A Reforma Capanema foi, então, a responsável pela inclusão da Geografia nas classes do ensino fundamental elementar e complementar. 
De acordo com as propostas da Escola Nova, o ensino primário tem a função de promover o desenvolvimento geral do aluno, e não apenas a leitura e a escrita. 
Desse modo, a reestruturação curricular da educação, de forma geral, e também o ensino de Geografia foram ao encontro das necessidades de assimilação de conhecimentos úteis para a vida em sociedade.

HERANÇAS DA EMC E DOS ESTUDOS SOCIAIS: 

Ao analisar o ensino de Geografia nas séries iniciais, podemos destacar alguns problemas que foram herdados no período de regime militar por meio da implantação da Educação Moral e Cívica (EMC) e dos Estudos Sociais. Um dos principais foi o ensino de Geografia a partir de Círculos Concêntricos e também vinculada ao civismo e às datas comemorativas. Há que se ressaltar que, em muitas escolas, a Geografia e a História ainda são trabalhadas como Estudos Sociais nas séries iniciais do ensino fundamental, o que nos mostra que ainda não conseguimos romper com essa forma de organização curricular. A partir de meados da década de 1970, intensificaram-se os movimentos sociais para que se restabelecesse a democracia no País. Nesse período, também aumentaram de forma extraordinária as discussões relacionadas à educação de forma geral e especificamente com relação à Geografia.  Essa época foi marcada como um período que as teorias críticas ficaram em maior evidência. O Movimento de Renovação Geográfica, que já vinha sendo gestado lentamente, tomou corpo e as teorias críticas ganharam impulso tanto na Geografia como na Pedagogia. Assim, nesse processo de redemocratização, os conhecimentos escolares passaram a ser questionados e as lutas de profissionais desde a sala de aula de todos os níveis educacionais ganharam maior expressão. Diante de muitas reivindicações e discussões, em 1979, o Conselho Federal de Educação cedeu e deu o sinal verde para que Geografia e História voltassem a ser ensinadas separadamente. Assim, na década de 80, aconteceu a reintrodução dessas disciplinas nas classes de 5ª a 8ª séries. 
A nossa intenção, até este momento, foi a de refletir a respeito de como as práticas educacionais dos professores das séries iniciais do ensino fundamental foram sendo construídas, entendendo que a forma de construção do pensar desses professores em relação ao ensino de Geografia foi e é muito mais complexa do que podemos detectar aparentemente. 
Essa construção se deu culturalmente, entre outros motivos, pela forma secundária como o ensino sempre foi tratado nas séries iniciais do ensino fundamental, em especial devido a medidas educacionais fundadas em políticas momentâneas de cada governo, medidas muitas vezes equivocadas. 

NOTA: O artigo original "Reflexões Sobre o Ensino de Geogra­fia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental" foi apresentado no 1º Simpósio de Geogra­fia do Estado de São Paulo (SIMPGEO-SP) e no VIII Seminário de Pós-Graduação em Geogra­fia da UNESP Rio Claro de 2008.

Cap. 01
Um breve referencial teórico e a educação geográfica
pág.1



   






Ensino de Geografia

De tempos em tempos, temos afirmado que há um vácuo entre as mudanças que ocorreram na geografia acadêmica e na escolar.
Podemos dizer que o mesmo ocorre entre a maneira como os alunos se relacionam com o conhecimento e o que acontece em sala de aula, e assim, estamos mais uma vez, diante da contradição entre geografia das universidades e das escolas básicas.
A realidade brasileira nos revela que o discurso adotado em sala de aula pelo professor ainda está fundamentado, na maioria das vezes, nos manuais didáticos e em discursos apreendidos da mídia.
Nessa perspectiva, a memorização passa a ser o objetivo das aulas, a partir das informações obtidas por meio de jornais, programas de TV e internet.
Uma contradição frequentemente encontrada é a escolha dos conteúdos, que deveria estar relacionada com uma concepção geográfica para que se possam fundamentar a seleção dos objetivos e a maneira como será ensinada.
No entanto, quando as escolhas são feitas, acabam-se negando determinados conteúdos, por não se ter clareza quanto ao modo de como trabalhar ou mesmo em relação às concepções conceituais que precisam ser explor.adas
Muitos conteúdos e conceitos ligados às áreas de cartografia e à geografia da natureza são muitas vezes deixados de lado.
Diante disso, perguntamos: qual o papel do ensino de geografia nas séries do fundamental I e II e do médio?
Se for para contribuir para a formação do aluno e ajudá-lo a entender o mundo em que vive, estabelecer relações entre a sociedade e o meio físico, não é o caso de nos perguntarmos quais são os princípios que norteiam a organização curricular da geografia escolar?
Para responder a essas perguntas, é importante definir os objetos de aprendizagem em função da interpretação que se fará do fenômeno geográfico que será estudado.
Portanto, a necessidade de se pensar sobre o que pretendemos ensinar passa por explicar

O como, o que e para quê estamos ensinando

Para González (1999, p.93),

o saber escolar, encontra-se então, em um contexto de conhecimento e no âmbito das relações sociais.

A obra de Merénne-Schoumaker (1999, p.159) introduz um esquema, apresentado a seguir, que pode nos ajudar não só a organizar uma aula específica de determinada disciplina, mas até elaborar um planejamento que relacione conteúdos e conceitos de diferentes disciplinas.


Nessa direção, devemos considerar o que queremos ensinar e como vamos ensinar.
Daí, quando entendermos o conhecimento que ensinamos, a sua função social e os princípios epistemológicos da geografia, realizaremos uma organização curricular mais articulada com a didática.
Ainda segundo González (1999), pode-se organizar um curso de geografia escolar considerando:
         As finalidades educativas gerais do sistema escolar nas quais se inserem os conteúdos geográficos;
         As metas educativas da etapa e da área de conhecimento nas quais se inserem os conteúdos geográficos;
         As metas educativas da escola em que estamos trabalhando, o que poderá ajudar na escolha dos conteúdos;
         O interesse de cada atividade didática por meio da explicação dos objetivos dessa atividade.

O propósito do esquema apresentado é mostrar como os objetivos da área podem auxiliar nas escolhas didáticas e, assim, entendê-las como um caminho mais adequado para organizar a aula e atingir a aprendizagem.

Um exemplo de um desenho curricular mais significativo foi a proposta apresentada em 1962, quando o Ministério da Educação e Cultura, publicou um manual de estudos sociais na escola.
Para a 1ª. Série, por exemplo, foi proposto: adquirir conhecimento em relação aos fatos geográficos: dia e noite, luz e sombra, calor e frio, nuvens e chuva, localização da casa do aluno, planificação.
Esse exemplo nos fornece parâmetros sobre os princípios norteadores de um currículo escolar que cabe à escola estimular: o interesse que o aluno tem no conhecimento do ambiente em que vive e nas novas experiências.
No entanto, o ensino de geografia não conseguiu, nem nas séries iniciais do ensino fundamental I nem ao final do ensino fundamental II, incorporar propostas metodológicas que contribuíssem para melhorar a didática da disciplina em sala de aula.
A principal questão está relacionada com a aprendizagem e o domínio dos saberes. Quando o aluno apenas memoriza, ou não vê objetivos no que aprende, acaba esquecendo os conteúdos após aplicá-los em uma avaliação.
Entende-se que a geografia é uma disciplina escolar que possui seus objetos de aprendizagem e núcleos conceituais a partir de uma abordagem filosófica comprometida com a realidade social.
Ao selecionar os conteúdos, devem-se escolher a abordagem metodológica com a qual se vai trabalhar e as bases teóricas da aprendizagem do conceito.
Ao tratarmos do domínio dos saberes, entendemos que não é só aplicá-los de maneira mecânica em situações do cotidiano, mas compreendê-los, para que haja sentido e coerência com a realidade, ou seja, articular as referências teóricas com a práticas.
É um processo no qual a aprendizagem significativa se contrapõe a uma abordagem repetitiva, com um método de ensino que substitui práticas viciadas em memorização relacionadas às atividades de repetição.
Espera-se, em uma prática de ensino mais dinâmica, que o aluno possa não só dar significado, mas compreender o que está sendo ensinado.
O professor, ao organizar os conteúdos, deve pensar sobre eles e planejá-los para o seu curso, imaginar como será a aula e, em seguida, reorganizá-la, isto é, pensar em como organizá-la desde os objetivos e conteúdos até o passo-a-passo das atividades.
Para isso, vale considerar os objetivos que serão trabalhados com os alunos. Alguns dos objetivos para o ensino de geografia são:

a)    Capacidade de aplicação dos saberes geográficos nos trabalhos relativos a outras competências e, em particular, capacidade de utilização de mapas e métodos de trabalho de campo.
b)    Ampliação dos conhecimentos e compreensão dos espaços nos contextos locais, regionais, nacionais e globais. Destaque para o reconhecimento do território e a compreensão das características culturais dos lugares em estudo.
c)    c) Compreensão das semelhanças e das diferenças entre os lugares, garantindo o domínio sobre os conhecimentos relativos ao tempo e clima, aos recursos hídricos, ao solo e à cobertura vegetal, à população, espaços rurais e urbanos.
d)    d) Compreender os conceitos geográficos a partir do uso da linguagem cartográfica e gráfica; fazer uso dessas linguagens para propor soluções em situações do cotidiano.
A função do objetivo se dá em relação ao que se quer que o aluno aprenda e não em função daquilo que se ensina.
Deve-se considerar que o currículo escolar não é permanente. Os conteúdos podem ser substituídos à medida que ocorram mudanças na realidade e no mundo tecnológico e científico.
É essencial dar a todos não o ensino de geografia, mas uma “educação geográfica” cujo fim:
É conseguir que os homens não se sintam mal nos seus espaços e meios, dentro de suas próprias paisagens e regiões, mas também nas paisagens e regiões de civilizações que não são as suas... Porque aí conhecerão as origens e as evoluções; ainda porque, compreendendo-as, estarão aptos a agir e transformá-las com conhecimento de causa (Merénne-Schoumaker, 1999, p. 32)
A educação geográfica contribui para que os alunos reconheçam a ação social e cultural de diferentes lugares, as interações entre as sociedades e a dinâmica da natureza que ocorrem em diferentes momentos históricos.
Cabe destacar a importância do papel da geografia como disciplina escolar para conhecer e compreender o mundo.
A seguir, uma proposta de como isso poderia ser realizado, tomando como exemplo o tema dos transportes.

Na educação geográfica, para obter a compreensão necessária do mundo, é importante formular hipóteses a partir de observações, para posterior comprovação e análise.
O passo fundamental para esse processo de análise é ter a prática científica articulada com o desenvolvimento teórico, ou seja, a dimensão da prática pedagógica e da epistemologia da ciência geográfica.
Nessa perspectiva, a educação geográfica contribui para a formação do conceito de identidade: na consciência de que somos sujeitos da história, nos costumes que resgatam a nossa memória social. 

 Em relação aos princípios, podemos afirmar que a geografia estuda o significado da localização dos fenômenos, o território, as divisões em regiões ou países, descrevendo os lugares, interpretando as diferentes seções espaciais e os momentos históricos.



O problema não é tanto o de definir o saber geográfico que deve ser ensinado, mas o de como o aluno está aprendendo. Daí que um aluno pode formular um enunciado, mas não entender seu verdadeiro significado. Portanto, é importante estabelecer quais são os níveis de formulação de um conceito para cada série e idade.
Ensinar geografia significa possibilitar ao aluno raciocinar geograficamente o espaço terrestre em diferentes escalas, numa dimensão cultural, econômica, ambiental e social.
Além disso, significa permitir que o aluno perceba a imagem gráfica ou a representação cartográfica da superfície da Terra de forma criteriosa e com o devido rigor científico.
Vejamos, a seguir, um exemplo de organização de um plano de trabalho, que pode servir como orientação para o trabalho que o professor desenvolve em classe.
Essa tabela é um modelo para se estruturar melhor o planejamento semestral, trimestral ou anual.
É importante não tê-la como uma “camisa de força”, mas como uma orientação para o percurso da condução da aula. 



Bibliografia

CASTELLAR, Sônia (org.); ABUD, Katia. Ensino de Geografia e História - Volume Único. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. (PLT nº 492)





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