PRIMEIRAS REFLEXÕES
Concepção é
ponto de partida que norteia um pensamento, um argumento, uma prática.
Discutir a Educação de Jovens e Adultos é
primeiramente admitir que o seu público foi excluído da escola ainda quando
criança ou adolescente. É pensar no acanhamento que os alunos da EJA manifestam
quando são julgados pela sociedade e inclusive pelo poder público como um mal
do sistema regular de ensino.
“São pessoas que não
deram certo!”
1ª Concepção: o
aluno da EJA é um “coitado”. Concepção de EJA como suplência da educação
fundamental, colocando como seu primordial objetivo, a reintrodução dos jovens
e adultos, principalmente os analfabetos, no sistema formal de educação. Essa
concepção de EJA compreendida como suplência (TRADICIONAL), via o
analfabetismo como uma chaga. “O Supletivo”: o aluno “perdeu muito tempo” –
Visão ainda recorrente.
“A EJA na lógica do atalho”: ênfase quase exclusiva nos processos de certificação e
pela insipiência ou pela total ausência de apropriação e valorização das
experiências culturais vivenciadas pelos sujeitos jovens e adultos. O educando
como um indivíduo incapaz de participar de diálogos com os educadores.
(VIDE
PLT – pg. 115, 118, 120)
Outra
característica da “EJA na lógica do atalho” está na concepção de uma educação
para a apropriação de um “mínimo” de conteúdos. “A lógica do pouco para quem é
pouco”: atingiu o mínimo, ganha o certificado. Não existe dúvida quanto o valor
social dos certificados, mas limitar os processos formativos ao objetivo da
certificação é bastante questionável do ponto de vista pedagógico e político.
Educadores e Educandos ainda estão impregnados com esta concepção. É
compreensível que alguns docentes adotem tal perspectiva não como opção, mas
como uma imposição. Para obter uma remuneração suficiente diante das
necessidades de sobrevivência são obrigados a submeterem-se a excessivas
jornadas de trabalho; ao lecionarem na EJA, muitos estão na sua terceira
jornada de trabalho em sala de aula: EJA COMO “BICO”!
Nesse sentido, a possível solução advogada pelos
docentes que adotam tal perspectiva para atenuar as dificuldades dos alunos da
EJA estaria no aligeiramento, na redução dos conteúdos e na
simplificação das avaliações para facilitar ao máximo a
permanência e a aprovação, o que concomitantemente
também facilitaria seu trabalho na EJA.
Persiste
entre docentes e discentes da EJA uma concepção restrita sobre os seus sujeitos
e suas experiências, percebendo-os como aqueles que “não estudaram no tempo
certo”, indicando a crença de que existiria uma época “certa” para
aprendizagem.
Na
concepção “A EJA como direito mutilado” as experiências culturais dos
alunos da EJA são consideradas nos processos educativos, mas em uma perspectiva
de certificação para a inserção subordinada no mercado, mantendo-se o paradigma
da dualidade do sistema educativo (uma escola para ricos, outra para os
pobres). Nessa concepção, além da finalidade da certificação são consideradas
as experiências culturais vivenciadas pelos jovens e adultos. Todavia, os
objetivos dessa educação estão vinculados com as demandas da preparação de
mão-de-obra para atender às necessidades de reprodução da força de trabalho, em
funções subordinadas ou de menor qualificação. Há o reconhecimento da
identidade dos jovens e adultos trabalhadores na EJA, sem contudo, pensar numa
mudança dessa condição.
A Conferência Internacional sobre Educação de Adultos
(1960) trouxe duas concepções distintas: a primeira como continuação da
educação formal e a segunda como educação de base comunitária. Essa
educação de base comunitária também ficou reconhecida, devido à influência dos
ideais de Paulo Freire, como educação popular.
A
educação de jovens e adultos é uma modalidade de ensino, amparada por lei e
voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino
regular na idade apropriada. Porém são pessoas que tem cultura própria.
Apenas em 1997, na V Conferência Internacional de
Educação para Adultos, formou-se um conceito de Educação de Jovens e Adultos
que se tornou referência para EJA. Ela aprovou a Declaração de Hamburgo que
definiu em seu terceiro artigo:
A EJA passa a ser vista como uma formação contínua,
que tenha por finalidade uma aprendizagem por toda a vida, numa construção
coletiva.
A Educação é direito de todos.
Concepção Dialógica / Problematizadora
(VIDE
PLT – pg. 116)
BRASIL:
Documentos Oficiais – Concepção de EJA emancipadora.
Na
Prática: concepção tradicional, supletiva e comprometedora de EJA
- programas de
curto prazo, de baixo custo e de qualidade questionáveis.
O PROFESSOR FRENTE ÀS CONCEPÇÕES DE EJA
•Sabe-se que o papel docente é de
fundamental importância no processo de reingresso do aluno às turmas de EJA.
Por isso, o professor da EJA deve, também, ser um professor especial, capaz de
identificar o potencial de cada aluno.
•É preciso que a sociedade compreenda que alunos
de EJA vivenciam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas
dentre tantos outros. E que tais questões são vivenciadas tanto no cotidiano
familiar como na vida em comunidade.
Faz-se necessário evidenciar que a EJA é
uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa,
permitindo-lhe reescrever sua história de vida.
•A história da EJA no Brasil está muito ligada a Paulo
Freire. O Sistema Paulo Freire, desenvolvido na década de 60, teve sua primeira
aplicação na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. E, com o sucesso da
experiência, passou a ser conhecido em todo País, sendo praticado por diversos
grupos de cultura popular.
EJA E O PROCESSO DE EXCLUSÃO
SOCIAL
•Desemprego estrutural (geração);
•Desemprego juvenil;
•Baixa escolaridade;
•Qualificação insuficiente;
•Concentração de riqueza;
•Incorporação das tecnologias da Informação;
•Políticas públicas comprometidas com
transformações estruturais.
QUESTÕES NORTEADORAS
Quais reais necessidades
de aprendizagem dos alunos da EJA?
Como produzem ou produziram os conhecimentos
que postam? (conhecimento de mundo)
Quais suas lógicas, estratégias e táticas de
resolver situações e enfrentar desafios?
Como articular os conhecimentos prévios (seu estar no mundo) frente aos disseminados pela
cultura escolar?
Como
o sujeito-professor da EJA pode interagir com os sujeitos-alunos EJA nessa
relação de múltiplas aprendizagens?
É
preciso reinventar a didática cotidiana para a organização do Trabalho Pedagógico,
de acordo com a concepção de EJA que se pretende seguir.
AÇÕES:
Formular respostas político-pedagógicas
específicas que:
Atenda
as necessidades de todos os envolvidos (nem puramente academicista, nem
puramente instrumental);
Dialogar sobre:
O campo de atuação profissional;
O mundo do trabalho;
Sobre
a vida.
Os alunos da EJA não têm garantia de emprego
e melhoria material de vida, mas pela EJA abrirão possibilidades de alcançar
esses e outros objetivos.
Professor com formação diferente para atuar
nesta esfera de ensino;
Compreender a realidade deste público para
descobrir seus modos de aprender e favorecer essas lógicas de aprendizagem no
ambiente escolar;
Compreender e aprender uns com os outros
(atividades cognitivas, afetivas, emocionais = prazerosas)
Atuar positivamente sobre o estigma do preconceito no
retorno a escola: Estudos interrompidos; Idade/retorno; Dificuldades de
adaptação; Baixa autoestima.
•Sólida formação continuada para ser também sujeito
determinante e determinado em processo de aprender por toda a vida.
•Teorias da Educação (filosóficas, sociológicas,
psicológicas e pedagógicas;
•Estudos específicos no campo da EJA;
•Reflexões teórico-práticas (EJA, Ensino Médio e
cursos de formação profissional – Rede Federal de Educação Profissional).
PRINCÍPIOS DA EJA
Primeiro princípio:
Compreensão da
inclusão da EJA.
Segundo princípio:
EJA integrada a
educação profissional.
Terceiro princípio:
Universalização do Ensino Médio.
Quarto princípio:
Trabalho como princípio educativo
Quinto princípio:
Pesquisa
Sexto princípio:
Gênero
e relações étnico-raciais
ALGUMAS ESTATÍSTICAS
•Analfabetismo – Maior na Zona Rural e entre Negros
•Mulheres
estudam mais que Homens
Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire
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