sábado, 28 de maio de 2016

POLÍTICA EDUCACIONAL

POLÍTICA EDUCACIONAL

Entendese por política educacional as decisões que o Poder Público, isto é, o Estado, toma em relação à educação. No Brasil, ela é marcada por uma sucessão de reformas que visam solucionar os problemas encontrados na área, e acabam por caracterizála como descontínua e pouco efetiva (SAVIANI, 2008).  
Estudos apontam que as políticas públicas destinadas à educação são reflexos da contradição própria do ajuste neoliberal que tem norteado a educação latino-americana e brasileira, especialmente após o chamado Consenso de Washington (1989). Tal contradição se manifesta quando o Estado se torna mínimo no que concerne à gestão dos recursos e à descentralização financeiro-administrativa. No entanto, este mesmo Estado mínimo cumpre o papel de agente regulador e controlador dos serviços públicos, como a educação, na medida em que norteia o trabalho e o currículo realizado pelos professores, realiza avaliações, por meio das quais supostamente verifica a qualidade da Educação e distribui prêmios para as escolas e docentes com melhor desempenho nestas avaliações, praticando uma política meritocrática, que em nada contribui para as reais condições de trabalho dos professores e nem para a melhoria da qualidade da educação para os educandos.
Ao propor que a educação, assim como tantos outros elementos, é uma mercadoria, o neoliberalismo também interfere nas práticas pedagógicas, no entanto, não cria nada de novo neste campo, apenas recria o produtivismo, o escolanovismo, o construtivismo e o tecnicismo (Saviani 2007)
Como o importante no momento é dar aos indivíduos o status de empregabilidade basta uma formação superficial e de caráter utilitarista, portanto, os professores estão sendo formados sob esta lógica e formam seus alunos da Educação Básica sob o mesmo parâmetro. Portanto, o neoliberalismo já imprimiu suas marcas na educação brasileira e suas contradições se fazem presentes cada dia mais em nossas escolas.
A partir da década de 1990, políticas educacionais semelhantes e homogeinizadoras têm sido aplicadas a diferentes países da América Latina, sem levar em conta as suas especificidades e com o apoio das elites locais, conforme afirma Saviani (2007).
Outro aspecto importante desta nova lógica que mercantiliza um direito social como a educação, se manifesta em novas formas de atuação pedagógica que recriam o antigo e o condiciona à nova lógica. Estamos nos referindo àquilo que Saviani (2007) nomeou como neoprodutivismo, neo-escolanivismo, neoconstrutivismo.
Saviani analisa como os preceitos da pós-modernidade e do neoliberalismo se manifestam nas ideias pedagógicas. O autor parte da alteração que ocorreu, a partir da década de 1990, nas bases produtivas, ou seja, na substituição do modelo fordista/taylorista pelo modelo toyotista, e explica como isso se manifesta na educação. Assim, no atual modelo produtivo, no qual já não existe mais a estabilidade no emprego, nem a instalação de grandes conglomerados industriais com produção em larga escala visando à estocagem de produtos, o que prevalece é o Just in time, ou seja, um sistema produtivo que requer trabalhadores polivalentes que trabalhem sob a dependência da chamada flexibilidade e da empregabilidade – flexibilidade que esvazia os direitos trabalhistas e empregabilidade que força o trabalhador a se tornar competitivo no mercado de trabalho, ou seja, o trabalhador precisa o tempo todo buscar adquirir as novas competências que o mercado oferece para manter-se empregado.
Como a educação, na ótica neoliberal é encarada como um produto a ser consumido com retorno no mercado de trabalho e não como um direito social, a escolarização passou a ser adequada a esse novo paradigma, ou seja, à escola cabe a tarefa de oferecer a seus alunos um “preparo polivalente apoiado no domínio de conceitos gerais, abstratos, de modo especial aqueles de ordem matemática” (SAVIANI, 2007, p.427).
 Essa busca pela empregabilidade via escolarização, é o que Saviani (2007) denomina de neoprodutivismo, que, por sua vez é uma consequência da exclusão que o capitalismo gera – não existe emprego para todos e o crescimento econômico pode perfeitamente coexistir com altas taxas de desemprego – assim é, pois, que se configura a chamada “pedagogia da exclusão”.
O que diferencia o construtivismo do neoconstrutivismo na análise de Saviani (2007) é que enquanto o primeiro se pautava na compreensão científica do desenvolvimento da inteligência, o segundo, em sintonia com a pósmodernidade, valoriza essencialmente o pragmatismo e o espontaneísmo. Daí o verdadeiro abandono de muitos professores neoconstrutivistas para com seus alunos, os quais se vêem obrigados a “construir” sozinhos o seu próprio conhecimento – como se isso fosse possível. O neoconstrutivismo também se manifesta na formação de professores – tanto na formação inicial quanto na continuada. É do neoconstrutivismo que emerge, por exemplo, a “teoria do professor reflexivo”. Tal teoria considera mais importante o refletir sobre a prática cotidiana do que a aquisição de pressupostos teóricos na formação do professor. daí os muitos cursos de formação continuada serem fundamentalmente reflexões sobre a prática cotidiana em sala de aula. Talvez nem coubesse o termo reflexão para muitos dos cursos e reuniões que dizem contribuir para a formação continuada e em serviço dos professores, reflexão é um processo de esforço e coerência em relação a uma determinada ação. A partir desta noção de reflexão, fica claro que muitas ações de formação continuada que dizem estimular a reflexão não passam de simples desabafos e trocas de experiências e não estimulam a reflexividade do professor sobre sua ação e sua prática.
Mais uma vez, o objetivo é a adaptação do sujeito às forças produtivas que se encontram no jogo de mercado. Mais uma vez a ênfase está na aquisição individual das tais competências que habilitam o indivíduo a encontrar espaço no disputado mercado de trabalho e, mais uma vez, o sucesso ou o fracasso escolar, profissional e pessoal são colocados como problemas individuais e não sociais.
Originalmente, o tecnicismo, tem como base a racionalidade e maximização dos resultados com o mínimo de recursos e tempo. No Brasil, tal função foi posta como responsabilidade do Estado entre os anos de 1970 e 1990, porém com a adoção do neoliberalismo como política de Estado, o desenvolvimento de técnicas de produção foi transferido para a iniciativa privada e para as organizações não-governamentais – dessa forma o Estado se minimizava, bem como as suas responsabilidades para com o setor social. Em Educação, esta passagem do tecnicismo para o neotecnicismo fica clara em programas e propagandas do próprio Governo Federal que estimulam a participação da sociedade civil, o trabalho voluntário e parcerias de escolas com empresas, ou seja, a sociedade civil assume “voluntariamente” responsabilidades que seriam do Estado e as empresas investem recursos e desenvolvem técnicas em um espaço que é público tendo em vista um retorno privado. Outro reflexo do neotecnicismo está no deslocamento do processo para o resultado (Saviani, 2007), ou seja, o Estado não tem mais tanta responsabilidade em financiar o desenvolvimento do setor educacional, pois divide esta responsabilidade com outras instâncias como a sociedade civil, as empresas, as ONGs, os organismos multilaterais, etc., mas tem em suas mãos os resultados deste processo por meio das avaliações que aplica sobre todo o sistema educacional em nome da qualidade do ensino, vale dizer, da “qualidade total” – termo tomado do setor de produção de mercadorias e que para os neoliberais pode tranquilamente ser aplicado à avaliação da educação, pois, estes têm “... a tendência a considerar aqueles que ensinam como prestadores de serviço, os que aprendem como clientes e a educação como produto que pode ser produzido com qualidade variável. No entanto, sob a égide da qualidade total, o verdadeiro cliente das escolas é a empresa ou a sociedade e os alunos são produtos que os estabelecimentos de ensino fornecem a seus clientes. (SAVIANI, 2007, p.438)
Novamente a educação, a escola, os educadores, os alunos são postos à mercê da força do mercado, que, com sua “mão-invisível”, exerce enorme peso, ao ponto de ofuscar o educador quando o transforma em mero treinador e de fazer da educação um trabalho de doutrinação, convencimento e treinamento para a eficácia no mercado de trabalho, quando na verdade, a função da educação é realizar um trabalho de esclarecimento, de abertura das consciências (SAVIANI, 2007).


SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores e Associados, 2007.

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