PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - Saberes
Necessários à Prática Educativa - Paulo Freire (1996)
152 páginas
Editora Paz e Terra – 1ª edição – 2002 / 37ª edição – 2008.
A obra aborda a ideologia de Paulo Freire sobre a prática educativa, apresentada como um otimismo consciente e esperançoso por mudanças que privilegiem as classes menos favorecidas. Tece suas críticas sobre o sistema neoliberal por seu determinismo e condena as mentalidades fatalistas e o conformismo.
Na busca da construção da autonomia do ser, educar é construir, libertar o ser humano, reconhecendo que a História é fundamental, pois consiste nas possibilidades dessa construção que deve ser norteada pelo “pensar certo”, isto é uma reflexão crítica e prática em busca de uma ética universal. “Formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas”.
Apresenta, inicialmente, a prática pedagógica que considera necessária para que o professor desenvolva a autonomia dos seus educandos, enfatizando a necessidade do respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, uma vez que ele é um sujeito histórico-social e possuidor de vários saberes aprendidos em seu cotidiano.
O primeiro capítulo: Não existe docência sem discência, propõe a discussão sobre os saberes fundamentais para a prática educativo-crítica ou progressista, abordando a necessidade do professor estar aberto a aprender com a realidade de seus educandos e que esteja consciente de seu papel em sala de aula, o que demanda uma metodologia rigorosa de trabalho. O preparo das aulas é importante para que mostre aos alunos a importânia da pesquisa como instrumento do desenvolvimento do pensamento autônomo. O autor faz um alerta para que os professores não se acomodem na educação “bancária”, mas que estimulem a criticidade sobre as pequisas. Defende que a metodologia a ser usada em sala é aquela que melhor atender às necessidades do desenvolvimento de seus educandos, sem discriminação e sem rigidez. Para isso, o professor deve sempre rever sua prática para adequar a metodologia a ser usada e não ter receio de mudar quando for necessário. Aborda ainda que ensinar exige o reconhecimento da identidade cultural, de sua construção ao longo da história e o respeito à diversidade.
No segundo capítulo: Ensinar não é transferir conhecimento, o autor defende que o professor não é o dono da verdade, tudo pode ser questionado, pois não há conhecimento acabado, assim como o homem não está acabado. Somos eternos aprendizes, caminhantes no conhecimento, pois o ser humano é um ser condicionado que se desenvolve ao longo do tempo, conforme a história e cultura. Cabe assim ao professor levar o aluno à reflexão de sua própria existência, respeitando o momento de aprendizagem de seus alunos e a realidade em que vivem. Acredita que aqueles que se dedicam ao trabalho das licenciaturas têm espírito otimista, pois através do seu trabalho podem ajudar a melhorar o mundo. Acreditar na mudança é uma prerrogativa do educador, pois é o primeiro a mudar e, sendo exemplo, estimula seus alunos a mudarem a forma de pensar. Todo educador deve ser curioso e estimular a curiosidade, pois dessa forma poderá estimular o conhecimento em diversas áreas. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção”, desse modo, a reflexão crítica sobre a prática pedagógica torna-se extremamente necessária para que a relação teoria/prática seja verdadeiramente significativa.
No terceiro capítulo Ensinar é uma especificidade humana, a abordagem feita é sobre a necessidade da boa preparação e qualificação do professor para que exerça seu trabalho com segurança. Enfatiza que para o professor ajudar o educando a superar a sua ignorância, antes deve superar as suas, aprendendo ao longo do processo de ensino-aprendizagem realizado com o aluno. Para tanto é preciso que esteja aberto às apreciações dos alunos sobre, inclusive, sua prática pedagógica, pois ensinar exige uma tomada de consciência, de ações e decisões. Cabe assim ao professor exercitar a escuta para aprofundar a sua arte da docência. Ao escutar, ele dá voz ao outro. Dar voz ao outro e ouvir implicam numa postura afetiva e numa postura dialógica onde a política e a ética se fazem presentes. Daí a sua defesa de que não existe neutralidade na educação. “ É preciso que desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” ( 2002, p.25). Defende que o ideal seria o aluno possa participar da avaliação do professor, pois o trabalho do professor é o trabalho com os alunos e não dele consigo mesmo.
“A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre grande. A natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublima a maneira como a realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que nenhum professor ou professora escapa ao juízo que dele ou dela fazem os alunos. E o pior juízo é o que considera o professor uma ausência na sala” ( 2002, p. 73)
A obra é um importante instrumento para todos os envolvidos no sistema educacional. A linguagem é simples e clara. Apresenta relatos de vivências do autor que mostram a sua esperança e paixão por educar. Longe de ser ingênua, é fruto de longos anos de experiência e reflexão séria sobre as necessidades para a realização de um processo educacional realmente valoroso na construção da autonomia do indivíduo e na construção da identidade de um povo.
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152 páginas
Editora Paz e Terra – 1ª edição – 2002 / 37ª edição – 2008.
A obra aborda a ideologia de Paulo Freire sobre a prática educativa, apresentada como um otimismo consciente e esperançoso por mudanças que privilegiem as classes menos favorecidas. Tece suas críticas sobre o sistema neoliberal por seu determinismo e condena as mentalidades fatalistas e o conformismo.
Na busca da construção da autonomia do ser, educar é construir, libertar o ser humano, reconhecendo que a História é fundamental, pois consiste nas possibilidades dessa construção que deve ser norteada pelo “pensar certo”, isto é uma reflexão crítica e prática em busca de uma ética universal. “Formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas”.
Apresenta, inicialmente, a prática pedagógica que considera necessária para que o professor desenvolva a autonomia dos seus educandos, enfatizando a necessidade do respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, uma vez que ele é um sujeito histórico-social e possuidor de vários saberes aprendidos em seu cotidiano.
O primeiro capítulo: Não existe docência sem discência, propõe a discussão sobre os saberes fundamentais para a prática educativo-crítica ou progressista, abordando a necessidade do professor estar aberto a aprender com a realidade de seus educandos e que esteja consciente de seu papel em sala de aula, o que demanda uma metodologia rigorosa de trabalho. O preparo das aulas é importante para que mostre aos alunos a importânia da pesquisa como instrumento do desenvolvimento do pensamento autônomo. O autor faz um alerta para que os professores não se acomodem na educação “bancária”, mas que estimulem a criticidade sobre as pequisas. Defende que a metodologia a ser usada em sala é aquela que melhor atender às necessidades do desenvolvimento de seus educandos, sem discriminação e sem rigidez. Para isso, o professor deve sempre rever sua prática para adequar a metodologia a ser usada e não ter receio de mudar quando for necessário. Aborda ainda que ensinar exige o reconhecimento da identidade cultural, de sua construção ao longo da história e o respeito à diversidade.
No segundo capítulo: Ensinar não é transferir conhecimento, o autor defende que o professor não é o dono da verdade, tudo pode ser questionado, pois não há conhecimento acabado, assim como o homem não está acabado. Somos eternos aprendizes, caminhantes no conhecimento, pois o ser humano é um ser condicionado que se desenvolve ao longo do tempo, conforme a história e cultura. Cabe assim ao professor levar o aluno à reflexão de sua própria existência, respeitando o momento de aprendizagem de seus alunos e a realidade em que vivem. Acredita que aqueles que se dedicam ao trabalho das licenciaturas têm espírito otimista, pois através do seu trabalho podem ajudar a melhorar o mundo. Acreditar na mudança é uma prerrogativa do educador, pois é o primeiro a mudar e, sendo exemplo, estimula seus alunos a mudarem a forma de pensar. Todo educador deve ser curioso e estimular a curiosidade, pois dessa forma poderá estimular o conhecimento em diversas áreas. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção”, desse modo, a reflexão crítica sobre a prática pedagógica torna-se extremamente necessária para que a relação teoria/prática seja verdadeiramente significativa.
No terceiro capítulo Ensinar é uma especificidade humana, a abordagem feita é sobre a necessidade da boa preparação e qualificação do professor para que exerça seu trabalho com segurança. Enfatiza que para o professor ajudar o educando a superar a sua ignorância, antes deve superar as suas, aprendendo ao longo do processo de ensino-aprendizagem realizado com o aluno. Para tanto é preciso que esteja aberto às apreciações dos alunos sobre, inclusive, sua prática pedagógica, pois ensinar exige uma tomada de consciência, de ações e decisões. Cabe assim ao professor exercitar a escuta para aprofundar a sua arte da docência. Ao escutar, ele dá voz ao outro. Dar voz ao outro e ouvir implicam numa postura afetiva e numa postura dialógica onde a política e a ética se fazem presentes. Daí a sua defesa de que não existe neutralidade na educação. “ É preciso que desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” ( 2002, p.25). Defende que o ideal seria o aluno possa participar da avaliação do professor, pois o trabalho do professor é o trabalho com os alunos e não dele consigo mesmo.
“A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre grande. A natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublima a maneira como a realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que nenhum professor ou professora escapa ao juízo que dele ou dela fazem os alunos. E o pior juízo é o que considera o professor uma ausência na sala” ( 2002, p. 73)
A obra é um importante instrumento para todos os envolvidos no sistema educacional. A linguagem é simples e clara. Apresenta relatos de vivências do autor que mostram a sua esperança e paixão por educar. Longe de ser ingênua, é fruto de longos anos de experiência e reflexão séria sobre as necessidades para a realização de um processo educacional realmente valoroso na construção da autonomia do indivíduo e na construção da identidade de um povo.
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Regina RoppaEvilasio
Enviado por Regina RoppaEvilasio em
02/03/2011
Código do texto: T2824631
Classificação de conteúdo: seguro
Código do texto: T2824631
Classificação de conteúdo: seguro
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
Capítulo I: “Não há docência sem discência”.
O livro dedica-se a apresentar os saberes indispensáveis à prática docente focado para educadores e educadoras críticos progressistas e também à educadores conservadores segundo o próprio autor. Independente da opção política do docente os saberes apresentados são essenciais à prática educativa em si. Segundo Freire: “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo” (FREIRE, 2007, p. 22).
O autor elenca o primeiro saber necessário colocando que ele deveria ser conteúdo obrigatório do programa da formação docente. A compreensão de que ensinar não é transferir conhecimento é extremamente necessária para o formando, para que ele compreenda que é necessário criar possibilidades para a produção ou construção do saber e não uma mera transferência de conteúdos e conhecimentos acumulados pelo sujeito que sabe e transfere ao outro.
Quem forma também passa por profundas transformações, aprendizados e reaprendizados enquanto formador e quem é formado também passa pelo mesmo processo. “Não há docência sem discência” (FREIRE, 2007, p. 23), as duas se completam, no processo do ensinar e aprender, e como coloca o autor “ensinar inexiste sem aprender”.
Ao longo da história foram descobrindo maneiras, métodos e caminhos para se ensinar. O ensinar e aprender quando exercido de forma autêntica possibilita uma experiência total que o autor caracteriza como: diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética. Conforme Freire a capacidade de aprender criticamente desenvolve a curiosidade ao conhecimento. O ensino bancário não promove a curiosidade epistemológica, pois neste tipo de ensino o professor é o sujeito e o aluno objeto, ou seja, um receptor de informações e repetidor delas. Paulo Freire destaca que esse tipo de ensino é prejudicial e deforma a criatividade necessária tanto do educador como do educando, porém o educando pode recuperar e superar o autoritarismo do erro do ensino bancário, o educando de ir além dos seus condicionantes.
É necessário ao educador que ele reforce a capacidade crítica, a curiosidade e a insubmissão nos alunos, por meio de métodos rigorosos, para isso tanto o educador quanto o educando devem ser criativos, questionadores, não viver no conformismo, ter uma curiosidade aguçada, ter humildade e persistência. O educador precisa ter em mente que o saber não deve ser simplesmente transferido, mas sim deve ser passado aos alunos de forma que se evidenciem todos os aspectos citados anteriormente. O educando deve ser sujeito construtor e reconstrutor dos saberes a eles transmitidos. Dessa forma que se caracteriza o verdadeiro saber ensinado, transmitido e aprendido pelos educandos.
Ensinar, aprender e pesquisar são processos importantes na formação do educando, pois se aprende o conhecimento já existente e pode se produzir conhecimento ainda não existente ou pouco enfatizado. Paulo Freire destaca a importância da ligação entre ensino e pesquisa na educação: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (p. 29). A prática docente exige a busca, a indagação que se concretiza por meio da pesquisa.
A pesquisa visa o conhecimento do não conhecido, é uma descoberta que deve ser anunciada as outras pessoas. Ela concretiza ou busca concretizar uma indagação e por meio da pesquisa e intervindo na mesma o educador se educa e educa aos outros. O saber comum é resultado da pura experiência.
É necessário valorizar as experiências, ou seja, os saberes que os estudantes trazem de sua vivência social, mas, esses saberes trazidos para a escola devem ter relação com os conteúdos a serem estudados e valorizados de forma que levem os alunos à reflexão e crítica da realidade a qual vivem, pois
Capítulo I: “Não há docência sem discência”.
O livro dedica-se a apresentar os saberes indispensáveis à prática docente focado para educadores e educadoras críticos progressistas e também à educadores conservadores segundo o próprio autor. Independente da opção política do docente os saberes apresentados são essenciais à prática educativa em si. Segundo Freire: “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo” (FREIRE, 2007, p. 22).
O autor elenca o primeiro saber necessário colocando que ele deveria ser conteúdo obrigatório do programa da formação docente. A compreensão de que ensinar não é transferir conhecimento é extremamente necessária para o formando, para que ele compreenda que é necessário criar possibilidades para a produção ou construção do saber e não uma mera transferência de conteúdos e conhecimentos acumulados pelo sujeito que sabe e transfere ao outro.
Quem forma também passa por profundas transformações, aprendizados e reaprendizados enquanto formador e quem é formado também passa pelo mesmo processo. “Não há docência sem discência” (FREIRE, 2007, p. 23), as duas se completam, no processo do ensinar e aprender, e como coloca o autor “ensinar inexiste sem aprender”.
Ao longo da história foram descobrindo maneiras, métodos e caminhos para se ensinar. O ensinar e aprender quando exercido de forma autêntica possibilita uma experiência total que o autor caracteriza como: diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética. Conforme Freire a capacidade de aprender criticamente desenvolve a curiosidade ao conhecimento. O ensino bancário não promove a curiosidade epistemológica, pois neste tipo de ensino o professor é o sujeito e o aluno objeto, ou seja, um receptor de informações e repetidor delas. Paulo Freire destaca que esse tipo de ensino é prejudicial e deforma a criatividade necessária tanto do educador como do educando, porém o educando pode recuperar e superar o autoritarismo do erro do ensino bancário, o educando de ir além dos seus condicionantes.
É necessário ao educador que ele reforce a capacidade crítica, a curiosidade e a insubmissão nos alunos, por meio de métodos rigorosos, para isso tanto o educador quanto o educando devem ser criativos, questionadores, não viver no conformismo, ter uma curiosidade aguçada, ter humildade e persistência. O educador precisa ter em mente que o saber não deve ser simplesmente transferido, mas sim deve ser passado aos alunos de forma que se evidenciem todos os aspectos citados anteriormente. O educando deve ser sujeito construtor e reconstrutor dos saberes a eles transmitidos. Dessa forma que se caracteriza o verdadeiro saber ensinado, transmitido e aprendido pelos educandos.
Ensinar, aprender e pesquisar são processos importantes na formação do educando, pois se aprende o conhecimento já existente e pode se produzir conhecimento ainda não existente ou pouco enfatizado. Paulo Freire destaca a importância da ligação entre ensino e pesquisa na educação: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (p. 29). A prática docente exige a busca, a indagação que se concretiza por meio da pesquisa.
A pesquisa visa o conhecimento do não conhecido, é uma descoberta que deve ser anunciada as outras pessoas. Ela concretiza ou busca concretizar uma indagação e por meio da pesquisa e intervindo na mesma o educador se educa e educa aos outros. O saber comum é resultado da pura experiência.
É necessário valorizar as experiências, ou seja, os saberes que os estudantes trazem de sua vivência social, mas, esses saberes trazidos para a escola devem ter relação com os conteúdos a serem estudados e valorizados de forma que levem os alunos à reflexão e crítica da realidade a qual vivem, pois
Pedagogia da Autonomia1 é um livro da autoria do educador brasileiro Paulo Freire,
sendo sua última obra publicada em vida. Apresenta propostas de práticas pedagógicas necessárias
à educação como
forma de construir a autonomia dos
educandos, valorizando e respeitando sua cultura e seu
acervo de conhecimentos empíricos junto à
sua individualidade.
A obra reúne
experiências e novos métodos, que valorizam a curiosidade dos educandos e educadores,
condenando a rigidezética que se volta aos interesses capitalistas, que
deixam à margem do processo de socialização os menos favorecidos.
O autor baseou-se
durante o desenvolvimento do livro, em ideias progressistas de ensino, isto é,
levando em conta, principalmente, o conhecimento do aluno em diálogo com a
disciplina, porém oposto ao caráter autoritário e assinalando a atitudes para
estimulação da liberdade para obter a disciplina, e também valorizando a
experiência de vida como primordial para o efetivo aprendizado. Além de
evidenciar severas críticas ao fatalismo, ao neoliberalismo e a globalização.
Primeiramente Paulo Freire enfatiza
que para um educador cuja perspectiva seja progressista, é
necessário estar de acordo que só é possível ensinar em processo que é obtido
socialmente e, não se trata de um ato de transmissão de conhecimentos, mas sim
criação de oportunidades para a construção dos saberes,representando um
processo de formação,na qual o educando se torna sujeito de seu
conhecimento,porém, ambas as partes desse processo passam por um aprendizado.
Entretanto, nesta
formação é indispensável que o docente possibilite ao aluno um objetivo a ser
traçado em sua busca ao conhecimento. Dessa maneira, os alunos vão ter
qualidades críticas e serão capazes de criar. Da mesma forma, cabe a ele
estimular os seus alunos a verificarem os conteúdos de suas próprias descobertas,
assim, os formará autônomos de seus conhecimentos e disciplinados
metodologicamente.
Antagônico aos alunos de
um professor com raízes tradicionais, que repetirá tudo que já foi lido depositando os
conhecimentos, anulando o poder de indagação, de curiosidade do educando para
construir o próprio saber. Ou seja, as dúvidas e curiosidades são silenciadas
pelo autoritarismo do educador, que se enxerga como possuidor de um
conhecimento indiscutível.
As ideais progressistas
pedagógicas, de forma alguma, devem ser confundidas com um ato de
espontaneidade e liberdade dos professores e alunos diante da construção desse
conhecimento.Cabe aos educadores conduzirem de forma metodológica os conteúdos
ensinados para que essa prática seja eficiente.
Como eixo norteador de
sua prática pedagógica, Freire defende que "formar" é muito mais que
formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de formação ética dos
educadores, conscientizando-os sobre a importância de estimular os educandos a
uma reflexão crítica da realidade em que está inserido.
Assim como defende o ideal
o qual , o indivíduo deve se comportar como ser histórico e ativo de suas
opiniões e atitudes. Para a inexistência de seres que apenas se adaptam se
tornando objetos da sociedade, faz-se necessário a conscientização não como
solução utópica para qualquer eventualidade, e sim, com a finalidade de formar
uma nova consciência crítica para enfrentar barreiras em sua trajetória e em
seu autoconhecimento. Sendo radical às ideias fatalistas e às doutrinas neoliberais.
Possuir uma visão fatalista significa enxergar o destino como irrevogável, e
apenas esperar o futuro acontecer, sem qualquer possibilidade de mudança
através da capacidade crítica que possuímos. Essa ideologia é
disseminada pelo sistema dominante, o qual vê vantagem em ter uma população que
enfrente os problemas passivamente.
Para o encorajamento de
seres críticos, dentro do espaço escolar, é fundamental ao educador contrapor
com seu discernimento necessário para o engajamento às melhores condições
estruturais à educação. E adentrar-se sem contradizer o partidarismo político
que esteja envolvido, exigindo garantia de causas relacionadas à educação.
Por isso, a prática
educativa consiste em uma forma de politizar e nunca ser indiferente a diversos
olhares sobre a realidade e possuir esperanças na melhora do que ainda não está
no ideal para a situação da educação brasileira.
Enfatiza também alguns aspectos primordiais, porém nem sempre adotados pela sociedade atual, como: simplicidade, humanismo, ética e esperança, já que, na sua visão, o capitalismo leva a sociedade a um consumismo exacerbado e a uma alienação coletiva, através, principalmente, dos veículos de comunicação de massa. Nota-se também um saber de extrema importância dentro da pedagogia que é o saber ético, ou seja, nunca impedir o outro de refletir.
Ainda mais que, dentro
da sociedade, os valores morais e éticos estão
cada vez mais perdendo seu respeito. Com a globalização, a ética está agindo a
favor dos interesses da economia e do lucro que dela é gerado e não favorecendo
os interesses humanos de convívio, respeito e justiça. A ética só diz respeito,
dentro do sistema, a minorias protegidas pelo lucro, havendo um domínio sobre
as outras classes quanto a ideologias a serem seguidas, à educação a serem
transmitidas,etc.
Segundo o autor, o
fracasso educacional deve-se em particular a técnicas de ensino ultrapassadas
e sem conexão com o contexto social e econômico do aluno, mantendo-se assim o status quo,
pois a escola ainda é um dos mais importantes aparelhos ideológicos do
Estado.
Quanto a disciplina dentro do
espaço pedagógico em que o educando está inserido é inadmissível qualquer tipo
de permissividade, pelo contrário, Freire atenta seu olhar ao fato de que o professor tende a
estimular a liberdade por meio da disciplina. E manter esse ambiente, por meio
de sua figura como autoridade, isso é, de quem coordena as atividades,
consciente do respeito, possuindo humildade e ética necessária para a prática
educativa se efetivar, e depositar responsabilidade em seus alunos e a partir
dessa atitude, impor os limites de comportamentos dentro do espaço escolar para
de fato usarem de maneira correta a liberdade concedida.
Em sua obra Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, 1996, Paulo Freire sugere que o docente tem que ter consciência e a responsabilidade na qualidade de construtor do conhecimento. Conhecimento esse que não deve jamais ser apenas transferido para o aluno, mas sim estimulá-lo na busca de novos conhecimentos. O livro é dividido em três capítulos. Em cada capítulo, Freire apresenta sua visão de uma educação autônoma, tanto por parte dos docentes quanto dos discentes. O livro de Freire é de total importância para a relação docente-discente na busca de um aprendizado de qualidade.
No capítulo um, Freire deixa clara a essência dele, como educador e mais, como ser humano, principalmente. “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro.” (p. 23) Ouso dizer que, essa exata passagem de Freire complementa a frase escolhida para capa do livro: “Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém.” Educando e educador trabalhando em conjunto, construindo o saber com coerência e ética.
Ensinar exige que o professor, capacitado, aguce a curiosidade nos alunos a fim de que se tornem pessoas críticas, capazes de entender, analisar e levantar dúvidas que estudadas geram novos conhecimentos ao tema estudado. Paulo Freire defende uma pedagogia em que o educador precisa buscar novos estímulos didáticos para vencer as dificuldades e assim encontrar meios de despertar o interesse pelo aprender. É preciso ensinar os alunos a pensar, porém, é impossível aprender a pensar sob um regime em que os alunos passam pela tortura de repetir, copiar e decorar. Não há desenvolvimento da autonomia num ambiente onde prevalece o autoritarismo do professor, em que os alunos veemmm o professor como dono exclusivo do saber.
“Fala-se quase exclusivamente do ensino dos conteúdos, ensino lamentavelmente quase sempre entendido como transferência do saber. Creio que uma das razões que explicam este descaso em torno do que ocorre no espaço-tempo da escola, que não seja a atividade ensinante, vem sendo uma compreensão estreita do que é educação e do que é aprender.” (p. 43-44)
No capítulo dois, Freire frisa ainda mais o que defendeu ao fim do capítulo um: ensinar não é transferir conhecimento. Como futura professora, concordo com Paulo no aspecto que devemos respeitar opiniões, respeitar a essência do ser humano e não nos sentirmos “soberanos” em sala de aula, pois não é porque sou educadora que sei tudo e sou a dona da verdade. Aprenderei, ainda mais, literalmente falando, com a integração educador-educando que terei em sala de aula. Ali sim, será um verdadeiro laboratório. Tem forma melhor do que se aprender algo quando ele nos leva para a nossa realidade? Essa realidade está em sala de aula, na convivência diária do educador com o educando. Lendo Freire, não pude deixar de comparar sua pedagogia defendida nesse livro com a didática de José Carlos Libâneo em “Adeus professor, adeus professora? – novas exigências educacionais e profissão docente”, 1998, cujo Libâneo também defende uma nova escola, uma nova didática, com esse senso crítico do saber, o trabalho intelectual, interativo e comunicacional, onde professor e aluno são iguais em sala de aula, transferindo mutuamente conhecimentos.
No terceiro e último capítulo, Freire diz que ensinar não é para qualquer um. O professor tem que ter prazer em fazer isso. Transmitir alegria, confiança e generosidade ao educando. Mas sempre com seriedade docente e respeito aos discentes.
Minha conclusão é que a essência da autonomia que Freire desperta no livro é que os indivíduos se tornam capazes de tomar decisões por conta própria, porém essa autonomia não pode ser confundida com liberdade incondicional. Ser autônomo é ser capaz de conhecer o problema, considerar os fatores e decidir qual deve ser o melhor caminho a seguir, considerando o ponto de vista do outro sem egoísmo ou egocentrismo, e perceber que não somos livres para agir sem refletir. Por isso, as melhores formas de desenvolver essa autonomia é o trabalho cooperativo, a afetividade e a reciprocidade.
Vera Barberino
Publicado no Recanto das Letras em 25/04/2009
Código do texto: T1560012
Resumo do livro - PAULO FREIRE “
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”
Resumo do livro da parte geral do concurso para docentes da rede
estadual de São Paulo (2013):
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.
CAPÍTULO 1 - NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM
DISCÊNCIA
A reflexão crítica da prática é uma
exigência da relação teoria/ prática, sem a qual a teoria irá virando apenas
palavras, e a prática, ativismo.
Há um processo a ser considerado na experiência
permanente do educador. No dia-a-dia ele recebe os conhecimentos – conteúdos
acumulados pelo sujeito, o aluno, que sabe e lhe transmite.
Neste sentido, ensinar não é transferir
conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá
forma, alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as
duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças, não se reduzem à
condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender.
Ensinar é mais que verbo-transitivo relativo, pede um objeto direto:
quem ensina, ensina alguma coisa; pede um objeto indireto: à alguém, mas também
ensinar inexiste sem aprender e aprender inexiste sem ensinar.
Só existe ensino quando este resulta
num aprendizado em que o aprendiz se tornou capaz de recriar ou refazer o
ensinado, ou seja, em que o que foi ensinado foi realmente aprendido pelo
aprendiz.
Esta é a vivência autêntica exigida
pela prática de ensinar-aprender. É uma experiência total, diretiva, política,
ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética.
Nós somos “seres programados, mas, para
aprender” (François Jacob). O processo de aprender pode deflagrar no aprendiz
uma curiosidade crescente que pode torná-lo mais e mais criador, ou em outras
palavras: quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto
mais se constrói e desenvolve a “curiosidade epistemológica”, sem a qual não
alcançamos o conhecimento cabal do objeto.
1. ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE
METODOLÓGICA
O educador democrático, crítico, em sua
prática docente deve forçar a capacidade de crítica do educando, sua
curiosidade, sua insubmissão. Trabalhar com os
educandos a rigorosidade metódica com
que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, é uma de suas tarefas
primordiais. Para isso, ele precisa ser um educador criador, instigador,
inquieto, rigorosamente curioso, humilde e persistente. Deve ser claro para os
educandos que o educador já teve e continua tendo experiência de produção de
certos saberes e que estes não podem ser simplesmente transferidos a eles.
Educador e educandos, lado a lado, vão
se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber. É
impossível tornar-se um professor crítico, aquele que é mecanicamente um
memorizador, um repetidor de frases e idéias inertes, e não um desafiador.
Pensa mecanicamente. Pensa errado. A verdadeira leitura me compromete com o
texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou
tornando também sujeito.
Só pode ensinar certo quem pensa certo,
mesmo que às vezes, pense errado. E uma das condições necessárias a pensar
certo é não estarmos demasiados certos de nossas certezas. O professor que
pensa certo deixa transparecer aos educandos a beleza de estarmos no mundo e
com o mundo, como seres históricos, intervindo no mundo e conhecendo -o
.Contudo, nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o
conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho, e se “dispõe”
a ser ultrapassado por outro amanhã.
Ensinar, aprender e pesquisar lidam com
dois momentos do ciclo gnosiológico: o momento em que se ensina e se aprende o
conhecimento já existente, e o momento em que se trabalha a produção do
conhecimento ainda não existente.
É a prática da “do-discência” :
docência- discência e pesquisa.
2. ENSINAR EXIGE PESQUISA
Não há ensino
sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
Educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e para
comunicar o novo.
3. ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES
DO EDUCANDO
A escola deve respeitar os saberes socialmente construídos pelos
alunos na prática comunitária. Discutir com eles a razão de ser de alguns
saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Discutir os problemas por eles
vividos. Estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais
aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos. Discutir as
implicações políticas e ideológicas, e a ética de classe relacionada a
descasos.
4. ENSINAR EXIGE CRITICIDADE
Entre o
saber feito de pura experiência e o resultante dos procedimentos metodicamente
rigorosos, não há uma ruptura, mas uma superação que se dá na medida em que a
curiosidade ingênua, associada ao saber do senso comum, vai sendo substituída
pela curiosidade crítica ou epistemológica que se rigoriza metodicamente.
5. ENSINAR EXIGE ESTÉTICA E ÉTICA
Somos
seres históricos – sociais, capazes de comparar, valorizar, intervir, escolher,
decidir, romper e por isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos
sendo. Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é
amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu
caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos
conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Divinizar ou
diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa
de pensar errado.
Pensar certo demanda profundidade na
compreensão e interpretação dos fatos. Não é possível mudar e fazer de conta
que não mudou. Coerência entre o pensar certo e o agir certo. Não há pensar
certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito,
cabe a quem muda, assumir a mudança operada
6. ENSINAR EXIGE A CORPOREIFICAÇÃO DA
PALAVRA PELO EXEMPLO
O professor que ensina certo não aceita
o “faça o que eu mando e não o que eu faço”. Ele sabe que as palavras às quais
falta corporeidade do exemplo quase nada valem. É preciso uma prática
testemunhal que confirme o que se diz em lugar de desdizê-lo.
7. ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO
NOVO E REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO
O novo não pode ser negado
ou acolhido só porque é novo, nem o velho recusado, apenas por ser velho. O
velho que preserva sua validade continua novo.
A prática preconceituosa de raça,
classe, gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a
democracia.
Ensinar a pensar certo é algo que se faz
e que se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho; exige
entendimento co-participado. É tarefa do educador desafiar o educando com quem
se comunica e a quem comunica, produzindo nele compreensão do que vem sendo
comunicado. O pensar certo é intercomunicação dialógica e não polêmica.
8 ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE
A PRÁTICA
Envolve o movimento dinâmico, dialético entre o fazer e o pensar
sobre o fazer. É fundamental que o aprendiz da prática docente saiba que deve
superar o pensar ingênuo, assumindo o pensar certo produzido por ele próprio,
juntamente com o professor formador. Por outro lado, ele deve reconhecer o
valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição.
Através da reflexão crítica sobre a
prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática. E, ainda,
quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a razão de ser como estou
sendo, mais me torno capaz de mudar, de promover-me do estado da curiosidade
ingênua para o de curiosidade epistemológica. Decido, rompo, opto e me assumo.
9. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A
ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
Uma das tarefas mais importantes da prática
educativo-crítica é propiciar condições para que os educandos em suas relações
sejam levados à experiências de assumir-se. Como ser social e histórico, ser
pensante, transformador, criador, capaz de ter raiva porque capaz de amar.
A questão da identidade cultural não
pode ser desprezada. Ela está relacionada com a assunção do indivíduo por ele
mesmo e se dá, através do conflito entre forças que obstaculizam essa busca de
si e as que favorecem essa assunção.
Isto é incompatível com o treinamento
pragmático, com os que se julgam donos da verdade e que se preocupam quase
exclusivamente com os conteúdos.
Um simples gesto do professor pode
impulsionar o educando em sua formação e auto-formação. A experiência informal
de formação ou deformação que se vive na escola, não pode ser negligênciada e
exige reflexão. Experiências vividas nas ruas, praças, trabalho, salas de aula,
pátios e recreios são cheias de significação.
CAPÍTULO 2 - ENSINAR NÃO É TRANSFERIR
CONHECIMENTO
à formação do docente, numa perspectiva progressista. É uma postura difícil a assumir diante dos outros e com os outros, face ao mundo e aos fatos, ante nós mesmos. Fora disso, meu testemunho perde eficácia.
1. ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO
INACABAMENTO
Como professor crítico sou predisposto à mudança, à aceitação do
diferente. Nada em minha experiência docente deve necessariamente repetir-se. A
inconclusão é própria da experiência vital. Quanto mais cultural o ser, maior o
suporte ou espaço ao qual o ser se prende “afetivamente” em seu desenvolvimento.
O suporte vai se ampliando, vira mundo e a vida, existência na medida em que
ele se torna consciente, apreendedor, transformador, criador de beleza e não de
“espaço” vazio a ser preenchido por conteúdos.
A existência envolve linguagem,
cultura, comunicação em níveis profundos e complexos; a “espiritualização”,
possibilidade de embelezar ou enfear o mundo faz
dos homens seres éticos, portanto
capazes de intervir no mundo, de comparar, ajuizar, decidir, romper, escolher.
Seres capazes de grandes ações, mas também de grandes baixezas. Não é possível
existir sem assumir o direito e o dever de optar, decidir, lutar, fazer
política.
Daí a imperiosidade da prática
formadora eminentemente ética. Posso ter esperança, sei que é possível intervir
para melhorar o mundo. Meu “destino” não é predeterminado, ele
precisa ser feito e dessa
responsabilidade não posso me eximir. A História em que me faço com os outros e
dela tomo parte é um tempo de possibilidades, de problematização do futuro e
não de inexorabilidade.
2. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO DE
SER CONDICIONADO
É o saber da nossa inconclusão
assumida. Sei que sou inacabado, porém consciente disto, sei que posso ir mais
além, através da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social,
cultural e historicamente. Lutando deixo de ser apenas objeto, para ser também
sujeito da História.
A consciência do mundo e de si como ser
inacabado inscrevem o ser num permanente movimento de busca. E nisto se
fundamenta a educação como processo permanente.
Na experiência educativa aberta à
procura, educador e alunos curiosos, “programados, mas para aprender”,
exercitarão tanto melhor sua capacidade de aprender e ensinar, quanto mais se
façam sujeitos e não puros objetos do processo.
3. ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA
DO SER DO EDUCANDO
. . . à sua dignidade e identidade.
Isto é um imperativo ético e qualquer desvio nesse sentido é uma transgressão.
O professor autoritário e o licencioso são transgressores da eticidade.
Ensinar, portanto, exige respeito à curiosidade e ao gosto estético do
educando, à sua inquietude, linguagem, às suas diferenças. O professor não pode
eximir-se de seu dever de propor limites à liberdade do aluno,
nem de ensiná-lo. Deve estar
respeitosamente presente à sua experiência formadora.
4. ENSINAR EXIGE BOM SENSO
Quanto
mais pomos em prática de forma metódica nossa capacidade de indagar, aferir e
duvidar, tanto mais crítico se faz nosso bom senso. Esse exercício vai
superando o que há de instintivo na avaliação que fazemos de fatos e acontecimentos.
O bom senso tem papel importante na nossa tomada de posição em face do que
devemos ou não fazer, e a ele não pode faltar a ética.
5. ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA
E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS EDUCADORES
A luta dos professores em defesa
de seus direitos e dignidade, deve ser entendida como um momento importante de
sua prática docente, enquanto prática ética. Em conseqüência do desprezo a que
é relegada a prática pedagógica, não posso desgostar do que faço sob pena de
não fazê-lo bem. Necessito cultivar a humildade e a tolerância, afim de manter
meu respeito de professor ao educando. É na competência de profissionais
idôneos que se organiza politicamente a maior força dos educadores. É preciso
priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como
tarefa altamente política, e repensar a eficácia das greves.
Não é parar de lutar, mas reinventar a
forma histórica de lutar.
6. ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE
Preciso conhecer as diferentes dimensões da prática educativa, tornando-me
mais seguro em meu desempenho. O homem é um ser consciente que usa sua
capacidade de aprender não apenas para se adaptar, mas sobretudo para
transformar a realidade.
A memorização mecânica não é
aprendizado verdadeiro do conteúdo. Somos os únicos seres que social e
historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Para nós, aprender é
aventura criadora, é construir, reconstruir, constatar para mudar, e isto não
se faz sem abertura ao risco.
O papel fundamental do professor
progressista é contribuir positivamente para que o educando seja artífice de
sua formação, e ajudá-lo nesse empenho. Deve estar atento à difícil passagem da
heteronomia para a autonomia para não perturbar a busca e investigações dos
educandos
7. ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA
Esperança de que professor e alunos juntos podem aprender, ensinar,
inquietar-se, produzir e também resistir aos obstáculos à alegria. O homem é um
ser naturalmente esperançoso. A esperança crítica é indispensável à experiência
histórica que só acontece onde há problematização do futuro. Um futuro não
determinado, mas que pode ser mudado.
8. ENSINAR EXIGE A COVICÇÃO DE QUE A
MUDANÇA É POSSÍVEL
É o saber da História como possibilidade e não como
determinação. O mundo não é, está sendo. Meu papel histórico não é só o de
constatar o que ocorre, mas também o de intervir como sujeito de ocorrências.
Constato não para me adaptar, mas para mudar a realidade.
A partir desse saber é que vamos
programar nossa ação político-pedagógica, seja qual for o projeto a que estamos
comprometidos. Desafiando os grupos populares para que percebam criticamente a
violência e a injustiça de sua situação concreta; e que também percebam que
essa situação, ainda que difícil, pode ser mudada. Como educador preciso
considerar o saber de “experiência feito” pelos grupos populares, sua
explicação do mundo e a compreensão de sua própria presença nele. Tudo isso vem
explicitado na “leitura do mundo” que precede a “leitura da palavra”.
Contudo, não posso impor a esses grupos
meu saber como o verdadeiro. Mas, posso dialogar com eles, desafiando-os a
pensar sua história social e a perceber a necessidade de superarem certos
saberes que se revelam inconsistentes para explicar os fatos.
9. ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE
Procedimentos autoritários ou paternalistas impedem o exercício da curiosidade
do educando e do próprio educador. O bom clima pedagógico-democrático levará o
educando a assumir eticamente limites, percebendo que sua curiosidade não tem o
direito de invadir a privacidade do outro, nem expô-la aos demais. Como
professor devo saber que sem a curiosidade que me move, não aprendo nem ensino.
É fundamental que alunos e professor se assumam epistemologicamente curiosos.
Saibam que sua postura é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
apassivada, enquanto fala ou ouve.
O exercício da curiosidade a faz mais
criticamente curiosa, mais metodicamente “perseguidora” do seu objetivo. Quanto
mais a curiosidade espontânea se intensifica e se “rigoriza”, tanto mais
epistemologicamente vai se tornando. Um dos saberes fundamentais à prática
educativo-crítica é o que adverte da necessária promoção da curiosidade
espontânea para curiosidade epistemológica.
CAPÍTULO 3 - ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE HUMANA
1. ENSINAR EXIGE SEGURANÇA, COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL E GENEROSIDADE A Segurança é fundamentada na competência
profissional, portanto a incompetência profissional desqualifica a autoridade
do professor. A autoridade deve fazer-se generosa e não arrogante. Deve
reconhecer a eticidade. O educando que exercita sua liberdade vai se tornando
tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas
ações. Testemunho da autoridade democrática deixa claro que o fundamental é a
construção, pelo indivíduo, da responsabilidade da liberdade que ele assume. É
o aprendizado da autonomia.
2. ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO
A
maneira como os alunos me percebem tem grande importância para o meu
desempenho. Não há como sendo
professor não revelar minha maneira de
ser, de pensar politicamente, diante de meus alunos. Assim, devo preocupar-me
em aproximar cada vez mais o que digo do que faço e o que pareço ser do que
realmente estou sendo.
Minha presença é uma presença em si
política, e assim sendo, não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções.
Devo revelar aos alunos, minha capacidade de analisar, comparar, avaliar; de
fazer justiça, de não falhar à verdade. Meu testemunho tem que ser ético. O
espaço pedagógico neutro prepara os alunos para práticas apolíticas. A maneira
humana de se estar no mundo não é, nem pode ser neutra.
3. ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A
EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE INTERVENÇÃO NO MUNDO
Implica tanto o esforço de
reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento. Como professor
minha prática exige de mim uma definição. Decisão. Ruptura. Como professor sou
a favor da luta contra qualquer forma de discriminação, contra a dominância
econômica dos indivíduos ou das classes sociais, etc. Sou a favor da esperança
que me anima apesar de tudo. Não posso reduzir minha prática docente ao puro
ensino dos conteúdos, pois meu testemunho ético ao ensiná-los é igualmente
importante. É o respeito ao saber de “experiência feito” dos alunos, o qual
busco superar com eles. É coerência entre o que digo, o que escrevo e o que
faço.
4. ENSINAR EXIGE LIBERDADE E AUTORIDADE
A autonomia vai se constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões
que vão sendo tomadas. Vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia,
enquanto amadurecimento do ser por si, é processo; é vir a ser. Não posso
aprender a ser eu mesmo se não decido nunca porque há sempre alguém decidindo
por mim.
Quanto mais criticamente assumo a
liberdade, tanto mais autoridade ela tem para continuar lutando em seu nome.
5. ENSINAR EXIGE TOMADA CONSCIENTE DE
DECISÕES
A educação, especificidade humana é um ato de intervenção no mundo.
Tanto intervenções que aspiram mudanças radicais na sociedade, no campo da
economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à
terra, à educação, etc. quanto as que pelo contrário, pretendem imobilizar a
História e manter a ordem injusta.
A educação não vira política por causa
da decisão deste ou daquele educador. Ela é política e sua raiz se acha na
própria educabilidade do ser humano, que se funde na sua natureza inacabada e
da qual se tornou consciente. O ser humano, assim se tornou um ser ético, um
ser de opção, de decisão.
Diante da impossibilidade da
neutralidade da educação, é importante que o educador saiba que se a educação
não pode tudo, alguma coisa fundamental ela pode. O educador crítico pode
demonstrar que é possível mudar o país. E isto reforça nele a importância de
sua tarefa político-pedagógica. Ele sabe o valor que tem para a modificação da
realidade, a maneira consistente com que vive sua presença no mundo. Sabe que
sua experiência na escola é um momento importante que precisa ser
autenticamente vivido.
6. ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR
Aprendemos a escutar escutando. Somente quem escuta paciente e criticamente o
outro, fala com ele, e sem precisar se impor. No processo da fala e escuta, a
disciplina do silêncio a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que falam e
escutam é um “sinequa” da comunicação dialógica. É preciso que quem tem o que
dizer saiba, que sem escutar o que quem escuta tem igualmente a dizer, termina
por esgotar sua capacidade de dizer. Quem tem o que dizer deve assim, desafiar
quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda.
O espaço do educador democrático, que
aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem
falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala.
Não há inteligência da realidade sem a
possibilidade de ser comunicada. O professor autoritário que recusa escutar os
alunos, impede a afirmação do educando como sujeito de conhecimento. Como
arquiteto de sua própria prática cognoscitiva.
7. ENSINAR EXIGE RECONHECER QUE A
EDUCAÇÃO É IDEOLÓGICA
Ideologia tem que ver diretamente com a
ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para opacizar a
realidade, ao mesmo tempo que nos torna “míopes”. Sabemos que há algo no meio
da penumbra, mas não o divisamos bem. Outra possibilidade que temos é a de
docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e não a
verdade distorcida.
Por exemplo, o discurso da globalização
que fala da ética, esconde porém, que a sua ética é a do mercado e não a ética
universal do ser humano, pela qual devemos lutar se optamos, na verdade, por um
mundo de gente.
A teoria da transformação político-social
do mundo, deve fazer parte de uma compreensão do homem enquanto ser fazedor da
História, e por ela feito, ser da decisão, da ruptura, da opção. Seres éticos.
Os avanços científicos e tecnológicos
devem ser colocados a serviço dos seres humanos. Para superar a crise em que
nos achamos, impõe-se o caminho ético.
Como professor, devo estar advertido do
poder do discurso ideológico. Ele nos ameaça de anestesiar a mente, de
confundir a curiosidade, de distorcer a percepção dos fatos, das coisas. No
exercício crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou
gerando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável à minha
prática docente. Me predisponho a uma atitude sempre aberta aos demais, aos
dados da realidade, por um lado; e por outro, a uma desconfiança metódica que
me defende de tornar-me absolutamente certo de certezas.
8. ENSINAR EXIGE DISPONIBILIDADE PARA O
DIÁLOGO
Como professor devo testemunhar aos alunos a segurança com que me
comporto ao discutir um tema, analisar um fato. Aberto ao mundo e aos outros,
estabeleço a relação dialógica em que se confirma a inconclusão no permanente
movimento na História. Postura crítica diante dos meios de comunicação não pode
faltar. Impossível a neutralidade nos processos de comunicação. Não podemos
desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la.
9. ENSINAR EXIGE QUERER BEM AOS
EDUCANDOS
Querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que
participo. Essa abertura significa que a afetividade não me assusta, que não
tenho medo de expressá-la. Seriedade docente e afetividade não são
incompatíveis. Aberto ao querer bem significa minha disponibilidade à alegria
de viver. Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e minha
docência, tanto mais alegre e esperançoso me sinto.
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