Faculdade Anhanguera
de Anápolis
EDUCAÇÃO
E DIVERSIDADE – Profa. Valnete Amorim
Prática
Pedagógica em Ambientes Educacionais Multiculturais
Neste tema, você estudará a
Prática Pedagógica em Ambientes Educacionais Multiculturais. Levar em
consideração o multiculturalismo na educação exige mudanças no comportamento do
professor em sala de aula em que precisa estar adequadamente preparado para atender
a esta demanda. Moreira e Candau (2011) afirmam que (práticas pedagógicas) isto
já vem acontecendo com muito mais frequência que o suposto.
Um ambiente educacional
multicultural é aquele em que todos são considerados como iguais, é um local
onde todos são tratados da mesma forma, não deveria existir nenhum tipo de
preconceito ou discriminação derivada de quaisquer diferenças causadas por
crença, raça, cor, mito, cultura. “O saber ambiental questiona todas as
disciplinas e todos os níveis do sistema educacional. A formação ambiental
implica assumir com paixão e compromisso a criação de novos saberes e recuperar
a função crítica e prospectiva do conhecimento [...] e discutir os métodos
tradicionais de ensino, colocando novos desafios à transmissão do saber, em que
existe uma estreita relação entre pesquisa, docência, [discência, cultura]
difusão e extensão do saber. A educação ambiental [multicultural] exige, pois,
novas atitudes dos professores e alunos, novas relações sociais para a produção
do saber (...) e, novas formas de inscrição da subjetividade nas práticas
pedagógicas”. (LEFF, 2001, p. 220-221)
Um ambiente multicultural
tira o foco do professor e o coloca sobre o aluno e suas necessidades e
diferenças.
É importante compreender que
“A escola como instituição está construída tendo por base a afirmação de
conhecimentos considerados universais, uma universalidade muitas vezes formal
que, se aprofundamos um pouco, termina por estar assentada na cultura ocidental
e europeia, considerada como portadora da universalidade” (MOREIRA; CANDAU,
2011, p. 33). Isso porque ela se fundamenta na visão e conceituação do
colonizador.
A educação multicultural
leva para a sala de aula assuntos amplamente expostos pela mídia, tais como:
gênero, sexualidade, religiões afro, homossexualidade. Todos presentes no dia a
dia, mas raramente são trabalhados em sala de aula como instrumentos de debates
que venham a promover na sociedade, um novo olhar sobre o outro e suas
diferenças; é essa “quebra” de padronização ou perpetuação que o
multiculturalismo propõe. É uma exigência multicultural que, simplesmente, não
aceita de forma passiva o universalismo, fruto da colonização do europeu. É a
importância desta compreensão que determinará a mudança do ambiente da sala de
aula, porque “exige desvelar o caráter histórico e construído dos conhecimentos
escolares e sua íntima relação com os contextos sociais em que são produzidos.
Obriga-nos a repensar nossas escolhas, nossos modos de construir o currículo
escolar e nossas categorias de análise da produção dos nossos alunos/as”
(MOREIRA; CANDAU, 2011, p. 33). “A problemática das relações entre a
diversidade cultural e o cotidiano escolar constitui, portanto, um tema de
especial relevância para a construção de uma escola verdadeiramente democrática
hoje.”
A ambientação multicultural
precisa ser um lugar no qual se desenvolve a sensibilidade desta pluralidade e
de seus valores culturais, e que, ainda, possa trabalhar com o propósito de
recuperar os valores culturais ameaçados de desaparecimento, por exemplo: a
cultura indígena.
A ambientação multicultural
também pode trabalhar valores mal compreendidos e, neste caso específico,
pode-se tomar, como exemplo: a questão racial.
Como você pode ver é uma
proposta de trabalho ampla e diversificada que visa combater, instruir e
corrigir as injustiças cometidas contra minorias, levando os alunos à
compreensão e a obtenção de uma nova ótica do que realmente aconteceu; diante
de uma nova construção de conceito, isto poderá promover mudança social.
Compreender e conhecer as
injustiças que foram cometidas sob a perspectiva do oprimido, significa
oferecer uma nova oportunidade de conhecimentos sobre o fato, e com essa nova
compreensão somado ao apoio da comunidade, conceitos antigos serão transformados,
é como diz Moreira: “ajudar os que foram excluídos não é mais uma tarefa
humanitária. É do próprio interesse do Ocidente: a chave de sua segurança”.
(BECK, 2001, p. 4).
O ambiente multicultural
possibilita o conhecimento do outro e permite o dialogo entre os diferentes
grupos sociais e culturais que foram silenciados por décadas nas escolas.
Segundo Walsh é um “Um intercâmbio que se constrói entre pessoas,
conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando
desenvolver um novo sentido entre elas na sua diferença; espaço de negociação e
de tradução onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas, e as
relações e os conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos e sim
reconhecidos e confrontados” (MOREIRA;CANDAU, p 23).
Essa transformação não é
consequência das novas tecnologias, mas da capacidade que a escola tem de
proporcionar diálogos com os diferentes, com as diferentes culturas e mudanças
culturais presentes no contexto social onde ela se integra. “A escola é
concebida como um centro cultural em que diferentes linguagens e expressões
culturais estão presentes e são produzidas”. (MOREIRA; CANDAU, 2011, p. 34).
O Livro-Texto narra a
experiência de um ambiente escolar que teve como proposta de trabalho, durantes
as aulas de leitura, a maneira como poderiam contribuir para a reconstrução das
visões de raça, gênero e sexualidade dos alunos. O trabalho realizado seguiu os
seguintes passos: seleção da turma com alunos de maior faixa etária, esse fato
ajudou na discussão dos assuntos, sala com menos alunos que facilitou as
discussões, foram realizados doze encontros com 60 minutos cada um, que
funcionaram da seguinte forma: primeiramente, foi feita uma introdução sobre a
temática da pluralidade cultural, neste primeiro momento, foi feito um
exercício para que os alunos percebessem o “arco-íris de diferenças” presentes
no contexto a ser trabalhado; e nos encontros que se seguiram o foco foi a
“raça negra”, depois novos assuntos, foram igualmente trabalhados, como gênero
e sexualidade.
O aspecto mais interessante
desta intervenção foi a prática do discurso e letramento, pois segundo Moreira
e Candau (2011, p. 57): “Aquilo que os sujeitos dizem aos outros e aquilo que
lhes dizem têm papel central em sua formação”, ainda, “um traço da natureza
social do discurso é ‘o fato de que ao mesmo tempo em que levamos em
consideração a alteridade quando se engaja no discurso, também se pode alterar
o outro e o outro pode modificar” (MOREIRA; CANDAU, 2011, p.57), dessa forma,
as práticas de letramento, leitura e discussão de textos, são por excelência
ideais para provocar e promover a interação entre autor-leitor e entre
diferentes leitores, como um recurso de reconstrução de sujeitos. A prática de
letramento é um interessante instrumento de trabalho em um ambiente
multicultural, pois a partir dele é possível levar o aluno à reflexão e mudança
de pensamento.
A prática citada permitiu
que os alunos tivessem a visão sobre o negro ao longo da história: como
sujeitos marginalizados, discriminados e feios. Com certeza, essas concepções,
aceitas sobre os negros, estão carregadas da herança cultural advinda da
escravidão e do padrão cultural do branco, colonizador.
Mello (2009) relata outra
experiência muito interessante que foi vivenciada pela “professora Lívia Maria
Ferreira Soares engajada na luta contra o preconceito racial e que também fazia
parte do COMIRA (Conselho Municipal pela Igualdade Racial) do município de São
João de Meriti, surgiu a possibilidade de trabalhar o tema do preconceito
racial numa perspectiva multicultural, durante suas aulas de Literatura, visto
que em uma de suas discussões sobre o poeta Castro Alves, ao propor um debate o
tema “Livres dos açoites da senzala, presos à miséria da favela”, percebeu que
entre os alunos havia falas bastante preconceituosas. Portanto, conhecendo
trabalhos anteriores em relação aos episódios de discriminação racial ocorridos
no ambiente escolar e nos casos relatados por professores em suas entrevistas
(SANTOS; CANEN, 2007), a professora solicitou uma intervenção em suas aulas
para que pudéssemos discutir, juntamente com os alunos, sobre essa questão”.
(MELLO, 2009)
Veja que a opção não foi
pelas novas tecnologias, mas por intermédio das aulas de literatura. A escola
não transforma seu ambiente apenas com a introdução de novas tecnologias, mas,
sobretudo, com a sua capacidade de dialogar com os processos de mudanças
culturais, que estão presentes em toda a população, tendo, no entanto, maior
incidência entre os jovens e as crianças, configurando suas identidades.
Uma escola que procura
adotar um ambiente multicultural é aquela que olha para o seu aluno como um
todo, que adota uma linguagem ou que possibilita a escolha de um segundo idioma
que poderia ser, no caso dos índios, seu idioma nativo. É uma escola que tem
uma biblioteca rica, variada, que permite o contato com todas as diferenças
culturais, a escola que está pronta para comemorar as diferenças culturais, e
aproveita estes momentos para estudar a diversidade. Ainda, existe nela uma
luta permanente contra o racismo. O currículo não privilegia nenhuma cultura,
investe na formação de seus professores, que são devidamente qualificados e
treinados para trabalharem de acordo com a visão multicultural.
GLOSSÁRIO
Ambiente multicultural: é
aquele em que todos são considerados como iguais, é um local onde todos são
tratados da mesma forma, não deveria existir nenhum tipo de preconceito ou
discriminação derivada de quaisquer diferenças.
Formação ambiental: implica
assumir com paixão e compromisso a criação de novos saberes e recuperar a
função crítica e prospectiva do conhecimento.
Quebra de padronização: ruptura
provocada pela compreensão e percepção de um conceito anterior, advindo de uma
estrutura tradicional dentro de um padrão de escola com modelo do colonizador.
Universalismo: conjunto
de valores tidos e considerados como universais, e que não dependem das
culturas presentes nas diferentes comunidades estes valores são considerados
por todos, tendo o mesmo valor, cultural, social e moral.
ATIVIDADES
01 - Ao falar sobre a
necessidade de um ambiente multicultural, na realidade fala-se da mudança da prática
pedagógica e da construção de um ambiente que proporcione uma maior interação
entre as várias manifestações culturais e as diversidades. Por que é importante
conhecer as teorias que estudam essas mudanças na prática educativa?
02 - Sobre o conceito do
ambiente multicultural, marque (F) para as alternativas falsas e (V) para as
verdadeiras.
a) Uma educação
multicultural pode ser facilmente adaptada e não exige mudanças para que a sua
prática seja efetivada.
b) Em um ambiente
multicultural todos são igualmente aceitos e tratados da mesma forma.
c) Um saber ambiental não
questiona todas as disciplinas e todos os níveis educacionais.
d) Não existe a menor
necessidade de se discutir sobre os métodos tradicionais de ensino que podem
ser perfeitamente adequados aos formados multicultural.
e) A formação multicultural
exige novas atitudes dos professores e alunos, novas relações sociais para a
produção do saber.
03 - Relacione os conceitos
aos conteúdos.
( ) Num
ambiente multicultural.
( ) A
formação ambiental.
( )
Assuntos abordados por uma educação multicultural.
( ) A
ambientação multicultural.
( ) O
conhecimento do outro é alcançado
(a) Todos são considerados
como iguais.
(b) Implica assumir com
paixão e compromisso a criação de novos saberes e recuperar a função crítica e
prospectiva do conhecimento.
(c) Gênero, racismo,
religiões afro, sexualidade.
(d) Precisa ser um lugar no
qual se desenvolva a sensibilidade desta pluralidade e de seus valores
culturais.
(e) Pelo diálogo realizado
entre os diferentes grupos sociais.