sexta-feira, 25 de setembro de 2015

CONCEPÇÕES DE EJA E EDUCAÇÃO POPULAR



PRIMEIRAS REFLEXÕES
Concepção é ponto de partida que norteia um pensamento, um argumento, uma prática.
Discutir a Educação de Jovens e Adultos é primeiramente admitir que o seu público foi excluído da escola ainda quando criança ou adolescente. É pensar no acanhamento que os alunos da EJA manifestam quando são julgados pela sociedade e inclusive pelo poder público como um mal do sistema regular de ensino.
“São pessoas que não deram certo!”


1ª Concepção: o aluno da EJA é um “coitado”. Concepção de EJA como suplência da educação fundamental, colocando como seu primordial objetivo, a reintrodução dos jovens e adultos, principalmente os analfabetos, no sistema formal de educação. Essa concepção de EJA compreendida como suplência (TRADICIONAL), via o analfabetismo como uma chaga. “O Supletivo”: o aluno “perdeu muito tempo” – Visão ainda recorrente.
“A EJA na lógica do atalho”: ênfase quase exclusiva nos processos de certificação e pela insipiência ou pela total ausência de apropriação e valorização das experiências culturais vivenciadas pelos sujeitos jovens e adultos. O educando como um indivíduo incapaz de participar de diálogos com os educadores.

(VIDE PLT – pg. 115, 118, 120)

Outra característica da “EJA na lógica do atalho” está na concepção de uma educação para a apropriação de um “mínimo” de conteúdos. “A lógica do pouco para quem é pouco”: atingiu o mínimo, ganha o certificado. Não existe dúvida quanto o valor social dos certificados, mas limitar os processos formativos ao objetivo da certificação é bastante questionável do ponto de vista pedagógico e político. Educadores e Educandos ainda estão impregnados com esta concepção. É compreensível que alguns docentes adotem tal perspectiva não como opção, mas como uma imposição. Para obter uma remuneração suficiente diante das necessidades de sobrevivência são obrigados a submeterem-se a excessivas jornadas de trabalho; ao lecionarem na EJA, muitos estão na sua terceira jornada de trabalho em sala de aula: EJA COMO “BICO”!

Nesse sentido, a possível solução advogada pelos docentes que adotam tal perspectiva para atenuar as dificuldades dos alunos da EJA estaria no aligeiramento, na redução dos conteúdos e na simplificação das avaliações para facilitar ao máximo a
permanência e a aprovação, o que concomitantemente também facilitaria seu trabalho na EJA.
Persiste entre docentes e discentes da EJA uma concepção restrita sobre os seus sujeitos e suas experiências, percebendo-os como aqueles que “não estudaram no tempo certo”, indicando a crença de que existiria uma época “certa” para aprendizagem.

Na concepção “A EJA como direito mutilado” as experiências culturais dos alunos da EJA são consideradas nos processos educativos, mas em uma perspectiva de certificação para a inserção subordinada no mercado, mantendo-se o paradigma da dualidade do sistema educativo (uma escola para ricos, outra para os pobres). Nessa concepção, além da finalidade da certificação são consideradas as experiências culturais vivenciadas pelos jovens e adultos. Todavia, os objetivos dessa educação estão vinculados com as demandas da preparação de mão-de-obra para atender às necessidades de reprodução da força de trabalho, em funções subordinadas ou de menor qualificação. Há o reconhecimento da identidade dos jovens e adultos trabalhadores na EJA, sem contudo, pensar numa mudança dessa condição.

A Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (1960) trouxe duas concepções distintas: a primeira como continuação da educação formal e a segunda como educação de base comunitária. Essa educação de base comunitária também ficou reconhecida, devido à influência dos ideais de Paulo Freire, como educação popular.
A educação de jovens e adultos é uma modalidade de ensino, amparada por lei e voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada. Porém são pessoas que tem cultura própria.

Apenas em 1997, na V Conferência Internacional de Educação para Adultos, formou-se um conceito de Educação de Jovens e Adultos que se tornou referência para EJA. Ela aprovou a Declaração de Hamburgo que definiu em seu terceiro artigo:


 A EJA passa a ser vista como uma formação contínua, que tenha por finalidade uma aprendizagem por toda a vida, numa construção coletiva.
A Educação é direito de todos.
Concepção Dialógica / Problematizadora
(VIDE PLT – pg. 116)


BRASIL:
Documentos Oficiais – Concepção de EJA emancipadora.
Na Prática: concepção tradicional, supletiva e comprometedora de EJA - programas de
curto prazo, de baixo custo e de qualidade questionáveis.







O PROFESSOR FRENTE ÀS CONCEPÇÕES DE EJA
Sabe-se que o papel docente é de fundamental importância no processo de reingresso do aluno às turmas de EJA. Por isso, o professor da EJA deve, também, ser um professor especial, capaz de identificar o potencial de cada aluno.
•É preciso que a sociedade compreenda que alunos de EJA vivenciam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas dentre tantos outros. E que tais questões são vivenciadas tanto no cotidiano familiar como na vida em comunidade. 

Faz-se necessário evidenciar que a EJA é uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa, permitindo-lhe reescrever sua história de vida.
•A história da EJA no Brasil está muito ligada a Paulo Freire. O Sistema Paulo Freire, desenvolvido na década de 60, teve sua primeira aplicação na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. E, com o sucesso da experiência, passou a ser conhecido em todo País, sendo praticado por diversos grupos de cultura popular.

EJA E O PROCESSO DE EXCLUSÃO SOCIAL
•Desemprego estrutural (geração);
•Desemprego juvenil;
•Baixa escolaridade;
•Qualificação insuficiente;
•Concentração de riqueza;
•Incorporação das tecnologias da Informação;
•Políticas públicas comprometidas com transformações estruturais. 


QUESTÕES NORTEADORAS
 Quais reais necessidades de aprendizagem dos alunos da EJA?
Como produzem ou produziram os conhecimentos que postam? (conhecimento de mundo)
Quais suas lógicas, estratégias e táticas de resolver situações e enfrentar desafios?

Como articular os conhecimentos prévios (seu estar no mundo) frente aos disseminados pela cultura escolar?
Como o sujeito-professor da EJA pode interagir com os sujeitos-alunos EJA nessa relação de múltiplas aprendizagens?

É preciso reinventar a didática cotidiana para a organização do Trabalho Pedagógico, de acordo com a concepção de EJA que se pretende seguir.


AÇÕES:
Formular respostas político-pedagógicas específicas que:
Atenda as necessidades de todos os envolvidos (nem puramente academicista, nem puramente instrumental);
Dialogar sobre:
O campo de atuação profissional;
O mundo do trabalho;
Sobre a vida.

Os alunos da EJA não têm garantia de emprego e melhoria material de vida, mas pela EJA abrirão possibilidades de alcançar esses e outros objetivos.
Professor com formação diferente para atuar nesta esfera de ensino;
Compreender a realidade deste público para descobrir seus modos de aprender e favorecer essas lógicas de aprendizagem no ambiente escolar;
Compreender e aprender uns com os outros (atividades cognitivas, afetivas, emocionais = prazerosas) 

Atuar positivamente sobre o estigma do preconceito no retorno a escola: Estudos interrompidos; Idade/retorno; Dificuldades de adaptação; Baixa autoestima.
•Sólida formação continuada para ser também sujeito determinante e determinado em processo de aprender por toda a vida.
•Teorias da Educação (filosóficas, sociológicas, psicológicas e pedagógicas;
•Estudos específicos no campo da EJA;
•Reflexões teórico-práticas (EJA, Ensino Médio e cursos de formação profissional – Rede Federal de Educação Profissional).


PRINCÍPIOS DA EJA
Primeiro princípio:
 Compreensão da inclusão da EJA.

Segundo princípio:
 EJA integrada a educação profissional.

Terceiro princípio:
 Universalização do Ensino Médio.

Quarto princípio:
Trabalho como princípio educativo

Quinto princípio:
Pesquisa

Sexto princípio:
Gênero e relações étnico-raciais



ALGUMAS ESTATÍSTICAS






•Analfabetismo – Maior na Zona Rural e entre Negros
•Mulheres estudam mais que Homens 



Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.

                                                                                                                      Paulo Freire




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