quinta-feira, 13 de agosto de 2015

COMO SURGIU A NOÇÃO DE NÚMERO

Como surgiu a noção de número

Profª Denise F B Marquesin

Profª Maria da Graça Torres Bagne


IFRAH, Georges. Os Números: História de uma grande invenção. 10ª ed. São Paulo: Globo, 2001. p. 31-71.


Há cerca de 10.000 anos atrás...
Os pastores de ovelhas tinham necessidades de controlar os rebanhos. Precisavam saber se não faltavam ovelhas. Como os pastores podiam saber se alguma ovelha se perdera ou se outras haviam se juntado ao rebanho?

Alguns vestígios indicam que os pastores faziam o controle de seu rebanho usando conjuntos de pedras. Ao soltar as ovelhas, o pastor separava uma pedra para cada animal que passava e guardava o monte de pedras.


Quando os animais voltavam, o pastor retirava do monte uma pedra para cada ovelha que passava. 

Se sobrassem pedras, ficaria sabendo que havia perdido ovelhas. Se faltassem pedras, saberia que o rebanho havia aumentado. Desta forma mantinha tudo sob controle.
Uma ligação do tipo: para cada ovelha, uma pedra chama-se, em Matemática, correspondência um a um. 




Correspondência um a um
●Fazer correspondência um a um é associar a cada objeto de uma coleção um objeto de outra coleção. Como você vê, o homem resolveu seus primeiros problemas de cálculo usando a correspondência um a um. A correspondência um a um foi um dos passos decisivos para o surgimento da noção de número.

Os primeiros registros de números
● Nos museus de todo o mundo há inúmeros objetos com marcas, pertencentes a épocas antigas. São pedaços de pau com talhos, pedaços de barro com marcas e cordas com nós. Existem cavernas em cujas paredes podemos ver marcas talhadas ou pintadas.

●Isso parece indicar que o homem sentiu necessidade de registrar o total de objetos que contava. E como se fazia isso? Para registrar o total de objetos ele usava também a correspondência um a um: uma marca para cada objeto 








Como contar sem saber contar
Imaginemos um grupo de indígenas. Eles ainda não são capazes de conceber os números abstratos, mas conseguem contornar o problema, obtendo resultados satisfatórios quando se trata de quantidades relativamente reduzidas. Para tanto, recorrem a todo tipo de meios concretos. Mas na maioria das vezes eles “contam visualmente” segunda a técnica corporal a seguir:

Toca-se sucessivamente um por um os dedos da mão direita a partir do menor, em seguida o pulso, o cotovelo, o ombro, a orelha e o olho do lado direito. Depois se toca o nariz, a boca, o olho, a orelha, o ombro, o cotovelo e o pulso do lado esquerdo, acabando no dedo mindinho da mão esquerda. Chega-se assim ao número 22. Se isto não basta, acrescenta-se primeiramente os seios, os quadris e o sexo, depois os joelhos, os tornozelos e os dedos dos pés direito e esquerdo.
O que permite atingir dezenove unidades suplementares, ou seja, 41 no total.






Uma expedição militar foi recentemente levada a cabo por estes grupos indígenas contra uma aldeia vizinha que se revoltou, submetendo-se em seguida. Ao fim da reunião do conselho de guerra, o chefe decide exigir uma reparação, e encarrega vários de seus comandados de cobrar o resgate junto aos habitantes desta aldeia.

“Para cada guerreiro perdido no combate” – diz o chefe _ “deverão dar-nos tantos colares de pérolas quantos existem desde o dedo mindinho da mão direita até o olho do mesmo lado. Em seguida, tantas peles quantas existirem desde o dedo mínimo da mão esquerda até a boca. Finalmente, tantos cestos de alimento quantos podem haver o mindinho da mão direita até o pulso esquerdo.”

O chefe explica então aos seus homens que a punição infligida aos rebeldes foi fixada em:



●10 colares de pérolas
●12 peles de animais
●17 cestos de alimentos
●Para cada guerreiro morto em combate.


Nesta batalha, nossos indígenas perderam dezesseis homens. Evidentemente, eles não conhecem o número dezesseis, mas dispõem no caso de um meio infalível para determiná-lo. Antes da expedição, cada guerreiro coloca um pedrinha num monte e a retira na volta. Assim, as pedras restantes correspondem exatamente ao número de perdas no combate.


Um dos enviados do chefe pega então dezesseis pedrinhas, que são substituídas por um monte de pauzinhos de mesmo número, mais fáceis de transportar. O chefe verifica se seus mensageiros assimilaram e guardaram bem todas as instruções, e eles partem para a aldeia rebelde.


A noção de ordem já está aí presente, mesmo não sendo verdadeiramente conhecida.


Registrando grandes quantidades
Depois que o homem teve a ideia de fazer agrupamentos para facilitar a contagem, surgiu o problema de registrar os agrupamentos usando algum tipo de marca. Veja porque isso era necessário:
Imagine que uma pessoa usasse traços para representar cada ovelha. Por exemplo: um homem tinha | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | ovelhas.
Não seria nada prático, não é mesmo? Talvez a solução encontrada tenha sido separar grupos de marcas.
Um homem tinha | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | ovelhas
Neste caso, as marcas estão agrupadas de dez em dez.


A invenção da base
Dez, a base mais comum.
Como a humanidade aprendeu a contar nos dedos da mão, esta preferência quase geral pelos grupos de dez foi comandada por este “acidente da natureza” que é a anatomia das nossas duas mãos.

  
Imaginem um rebanho de 627 animais. Como contar?

Uma outra solução: a base cinco

Encontrada em diversas regiões da África e da Oceania e que vários comerciantes indianos da região de Bombaim ainda empregam até hoje para atender às necessidades mais correntes.




Vinte dedos para contar.
Outros povos preferiram adotar a base vintesimal.


Foi, por exemplo, o caso dos malinké do Alto Senegal e da Guiné, dos yébu e dos ioruba da Nigéria, dos banda da África central, dos tamara do Orinoco (aos pés do planalto das Guianas na Venezuela), dos esquimós da Groelândia, dos aino da ilha Sakhalin 9próximo às costas da àsia oriental, entre o mar do Japão e o mar de Okhotsk), dos maias e dos astecas da América Central pré-colombiana etc.






Muito mais difundida é a base duodecimal, que, se tivesse evoluído, poderia ter dado origem a uma numeração completa de base doze, o que nos teria dado um sistema mais cômodo que a nossa numeração decimal, sendo o número doze divisível ao mesmo tempo por 2, 3, 4 e 6.
Foi empregada em antigos sistemas comerciais, dos quais temos o testemunho das nossas dúzia e grosa (dúzia de dúzias), que ainda conservamos para os ovos e as bananas, por exemplo.

A enigmática base sessenta:
Esta base, difícil de guardar na memória, foi primeiramente empregada pelos sumérios, que tinham o hábito de contar por base sessenta e potências de 60. Em seguida foi transmitida aos matemáticos e astrônomos babilônios (sucessores dos sumérios na Mesopotâmia), que dela se serviram para elaborar um avançado sistema de numeração, antes de nos legá-la por intermédio dos astrônomos gregos e árabes.


Nossa própria cultura guardou seus vestígios, pois a utilizamos ainda para exprimir a medida do tempo em horas, minutos e segundos, ou a dos arcos e dos ângulos em graus, minutos e segundos. 


O sistema de numeração egípcio
Essa ideia de agrupar marcas foi utilizada nos sistemas mais antigos de numeração.
Os egípcios da Antiguidade criaram um sistema muito interessante para escrever números, baseado em agrupamentos.
  

O sistema de numeração romana


Vamos lembrar como eram escritos alguns números:



●Para não repetir 4 vezes um mesmo símbolo, os romanos utilizavam subtração.

●Observe alguns números que seriam escritos com 4 símbolos e como os romanos passaram a escrevê-los:



Em alguns relógios o 4 são quatro pauzinhos (IIII) e não com um pauzinho e um “v” (IV),  porque IV também é a primeira sílaba de IVPITER, Júpiter em latim. E como Júpiter era o deus mais importante dos antigos romanos, achavam desrespeitoso usar essas iniciais para designar o número 4, que nem é um número muito importante. Por isso, eles escreviam o 4 com quatro I.
Somente na Idade Média é que começou a escrever IV, mas os relógios mantiveram a tradição romana antiga.

A civilização do Vale do Indo

O rio Indo está localizado onde hoje é o Paquistão: próximo à Índia atual.
Em seu vale, há mais de 4000 anos, foram construídas várias cidades, com ruas, calçadas, sistemas de fornecimento de água e canalizações de esgoto. Possuíam piscinas para banhos públicos e casas construídas com tijolos de barro. Seus habitantes praticavam um comércio bastante intenso, inclusive trocando mercadorias com outros povos.
·Como não poderia deixar de ser, numa sociedade com este nível de organização, os habitantes da região possuíam uma linguagem escrita e um sistema numérico. Entretanto, este não era ainda o sistema de numeração que usamos hoje. Muitos séculos se passaram até que os hindus desenvolvessem o sistema de numeração decimal. Não há muitos documentos sobre a Matemática conhecida pelos hindus da Antiguidade. Por isto é impossível saber, com exatidão, quando e como os hindus chegaram ao sistema de numeração decimal posicional. Ao que parece é que, por volta do século V, eles já o utilizavam.
·Entretanto, uma coisa é certa: os hindus tiveram contato com muitas outras civilizações. Influenciaram-nas e foram influenciadas por elas. O princípio posicional, presente na numeração hindu, também aparece no sistema numérico dos babilônios, e sabemos que houve contato entre esses povos. A base dez, que é uma das características do sistema hindu, também era usada pelos egípcios e chineses. Isto pode ser explicado pelo fato de todos terem dez dedos nas mãos, mas, talvez, também seja devido ao intercâmbio que houve entre eles.
·O zero, que é outra característica importante da numeração dos hindus, talvez também não seja uma criação deles. Há indícios de que, na fase final da civilização babilônia, já era usado um símbolo para o nada.
·Entretanto, um grande mérito deve ser creditado aos hindus: o de reunir estas diferentes características num mesmo sistema numérico.
·O intercâmbio cultural entre os povos da Antiguidade também se revela no uso do ábaco, cuja origem não é conhecida, mas que, sabemos, era usado pelos chineses, hindus e romanos. É certo que o ábaco teve grande importância na criação do nosso sistema de numeração, como procuramos mostrar na segunda parte da lição.

O Império Muçulmano e a difusão da numeração hindu
Enquanto os hindus, que habitavam o vale do rio Indo e tinham contatos com muitos outros povos, iam pouco a pouco juntando os fios e preparando a trama do nosso sistema de numeração; grandes acontecimentos tiveram início na Península Arábica.
Esta era uma região desértica habitada principalmente por tribos nômades que se deslocavam em grandes caravanas entre os poucos centros de comércio existentes. Nesse ambiente viveu Maomé, o criador da religião islâmica (ou religião muçulmana) no início do século VII da era cristã.
Maomé não foi apenas líder religioso, mas também grande chefe guerreiro que submeteu ao seu governo toda a Península Arábica. Seus sucessores empreenderam muitas guerras de conquista, ampliando a área de influência do islamismo e estabelecendo um grande império que, um século depois da morte de Maomé, atingia, a leste, a região do rio Indo e, a oeste, o norte da África e a Península Ibérica.
Os árabes não foram apenas guerreiros. Ao contrário, tiveram um papel importantíssimo no campo da cultura e da ciência, especialmente na Matemática. A grande extensão do Império Islâmico permitiu aos estudiosos árabes entrar em contato com as mais variadas culturas.
 Seus sábios estudaram e traduziram as obras dos filósofos e matemáticos gregos, preservadas na célebre biblioteca de Alexandria, no Egito. Não fossem as traduções para o árabe, essas obras teriam sido perdidas para sempre com a destruição daquela biblioteca, no final do século VII.
No extremo oriental do seu império, os árabes entraram em contato com a cultura hindu e interessaram-se especialmente pela astronomia, a aritmética e a álgebra, muito desenvolvidas naquela civilização. Estudaram sobretudo o sistema numérico hindu, reconhecendo sua simplicidade e praticidade. Esses conhecimentos já eram dominados pelos hindus há vários séculos, mas não haviam se difundido entre os povos do ocidente.
Os árabes, que haviam penetrado na Europa e dominavam a Península Ibérica, foram os introdutores da ciência oriental na Europa medieval. Entre os séculos VIII e XIII, por iniciativa dos árabes, foram criadas muitas universidades e bibliotecas, desde Bagdá, no Oriente Médio, até Granada e Córdoba, na atual Espanha. Nesses centros, as obras dos hindus foram traduzidas para o árabe e difundidas entre os estudiosos.

Entretanto, na Europa Medieval houve grande resistência à introdução do saber oriental, sobretudo ao sistema de numeração hindu e à maneira de realizar as operações nesse sistema. Estabeleceu-se um conflito entre os partidários do velho ábaco, herança dos romanos, e os que reconheciam as vantagens do método hindu. Esse confronto ficou conhecido como a contenda entre "abacistas" e "algoristas", e terminou com a vitória final destes últimos, já em pleno Renascimento.

"al-Khowarizmi" virou "algarismo"
Os dez símbolos do nosso sistema de numeração são chamados dígitos ou algarismos. Dizemos, por exemplo, que 507 é um número de três dígitos ou três algarismos.
A palavra dígito vem da palavra latina "digitus", que significa dedo. É claro que isto tem a ver com o uso dos dedos nas contagens.
É curiosa a origem da palavra algarismo. Durante o reinado do califa al-Mamun, no século IX, viveu um matemático e astrônomo árabe, que se tornou famoso. Chamava-se Mohammed ibm-Musa al-Khowarizmi. Ele escreveu vários livros. Num deles, intitulado "Sobre a arte hindu de calcular", ele explicava minuciosamente o sistema de numeração hindu. Na Europa, este livro foi traduzido para o latim e passou a ser muito consultado por aqueles que queriam aprender a nova numeração. Apesar de al-Khowarizmi, honestamente, explicar que a origem daquelas idéias era hindu, a nova numeração tornou-se conhecida como a de al-Khowarizmi. Com o tempo, o nome do matemático árabe foi modificado para algorismi que, na língua portuguesa, acabou virando algarismo.



O sistema numérico criado pelos romanos foi usado na europa durante muitos séculos. Isto aconteceu, sobretudo, devido ao grande poder da igreja católica apostólica romana durante toda a idade média (do século v ao século xv, aproximadamente). O sistema de numeração decimal, como vimos, chegou à europa, levado pelos árabes, por volta do século viii. Portanto, quando a numeração hindu chegou à europa, os europeus estavam acostumados com a numeração romana.
para nós, que conhecemos os dois sistemas, é muito fácil perceber as enormes vantagens que o sistema numérico decimal tem sobre a numeração romana. Isto poderia nos fazer concluir que a numeração hindu-arábica tenha sido prontamente aceita pelos europeus, em vista de sua superioridade. Entretanto, não foi isso que aconteceu.
foram necessários alguns séculos para que as novas idéias triunfassem definitivamente. Isto só aconteceu no século xvi.
durante muitos anos, uma verdadeira batalha foi travada entre os adeptos do novo sistema e os defensores do sistema antigo. Os numerais hindu-arábicos chegaram a ser proibidos nos documentos oficiais, mas eram usados na clandestinidade.
a perseguição, contudo, não conseguiu impedir a disseminação do novo sistema, que se impôs pelas suas qualidades.

A resistência ao novo
O sistema numérico criado pelos romanos foi usado na europa durante muitos séculos. Isto aconteceu, sobretudo, devido ao grande poder da igreja católica apostólica romana durante toda a idade média (do século v ao século xv, aproximadamente). O sistema de numeração decimal, como vimos, chegou à europa, levado pelos árabes, por volta do século viii. Portanto, quando a numeração hindu chegou à europa, os europeus estavam acostumados com a numeração romana.
Para nós, que conhecemos os dois sistemas, é muito fácil perceber as enormes vantagens que o sistema numérico decimal tem sobre a numeração romana. Isto poderia nos fazer concluir que a numeração hindu-arábica tenha sido prontamente aceita pelos europeus, em vista de sua superioridade. Entretanto, não foi isso que aconteceu.
Foram necessários alguns séculos para que as novas idéias triunfassem definitivamente. Isto só aconteceu no século xvi.
Durante muitos anos, uma verdadeira batalha foi travada entre os adeptos do novo sistema e os defensores do sistema antigo. Os numerais hindu-arábicos chegaram a ser proibidos nos documentos oficiais, mas eram usados na clandestinidade.
A perseguição, contudo, não conseguiu impedir a disseminação do novo sistema, que se impôs pelas suas qualidades.

 Mudanças na escrita dos algarismos
●Antes da invenção da imprensa, que ocorreu no século XV, os livros eram copiados manualmente, um a um. Como cada copista tinha a sua caligrafia, durante os longos séculos de copiagem manual as letras e os símbolos para representar números sofreram muitas modificações. Além disso, como o sistema de numeração criado pelos hindus foi adotado pelos árabes e passado aos europeus, é natural que, nesse percurso, a forma de escrever os dez algarismos sofresse alterações.
●Por volta do século IV, os hindus representavam os algarismos assim:


 Não havia ainda um símbolo para o nada.
 No século IX, já com o zero, a representação evoluiu para:


 No século XI os hindus representavam os dez dígitos assim:


 No mesmo século XI, os árabes que estavam no Ocidente representaram assim:

                                       
 No século XVI os árabes orientais empregavam esta representação

                                        
Veja as formas usadas pelos europeus nos séculos XV e XVI:

                                           

 Hoje a representação é esta:

                                                                      2 3 4 5 6 7 8 9 0


Após a invenção da imprensa, as variações foram pequenas. Os tipos foram sendo padronizados. Mas, mesmo assim, as modificações são inevitáveis. No visor das calculadoras eletrônicas e dos relógios digitais, os dez algarismos são representados assim: 

 Senso numérico
Vamos fazer uma experiência.

Observe as figuras :



Agora veja estas figuras :



Em qual dos dois casos foi mais fácil perceber onde há mais pessoas?
No primeiro bastou uma simples olhada, não é mesmo? Mas no segundo, provavelmente, você precisou contar.
Somos capazes de distinguir visualmente pequenas quantidades (até quatro, cinco...talvez seis objetos). Entretanto este senso numérico não nos permite distinguir quantidades maiores.
Um fato curioso: alguns animais também parecem ter esta capacidade de distinguir pequenas quantidades. Sobre isso, há um caso interessante relatado por Tobias Dantzig, no livro que indicamos nas sugestões de leitura. 

A história é mais ou menos essa :

Um fazendeiro decidiu matar um corvo, pois este fizera o ninho na chaminé de sua lareira, impedindo a saída da fumaça. Por várias vezes o homem tentou pegá-lo de surpresa, mas sempre que se aproximava o corvo fugia.






Um dia o fazendeiro resolveu enganar a ave. Duas pessoas entraram no galpão próximo à chaminé e, depois de algum tempo, apenas uma saiu. O animal não se deixou enganar: fugiu e só voltou ao ninho após a saída do segundo homem.
A experiência foi repetida nos dias seguintes, com três e, depois, quatro pessoas. Não adiantou: a ave só voltou ao ninho depois da saída de todos.
Finalmente, com cinco pessoas, o corvo "perdeu a conta". Não percebendo a diferença entre cinco (que entraram) e quatro (que saíram) ele voltou ao ninho assim que o quarto homem se retirou. Pobre corvo! Passou desta para melhor!

E as crianças? Será que elas têm senso numérico como o corvo da história?
Em crianças pequenas, de 2 ou 3 anos de idade, o senso numérico, às vezes, é menos desenvolvido do que o do corvo. Entretanto essa percepção limitada é o ponto de partida para o desenvolvimento da noção de número. Essa noção, que se desenvolve na mente da criança e que os animais não têm, está vários passos à frente do senso numérico.
O desenvolvimento da noção de número depende das experiências que são vividas pela criança. Mas atenção: Nem todas as crianças vivem as mesmas experiências e, às vezes, encontramos crianças de 5, 6 ou mesmo 7 anos que não têm uma noção adequada de número.

Há crianças que escrevem os números e os recitam até trinta ou quarenta. Apesar disso, se você pedir que elas tragam cinco lápis, elas não acertam.
Isto quer dizer que, na verdade, essas crianças não entendem os números.
É possível ajudar as crianças a formar a ideia de número, mas não devemos nos iludir: somente explicações não levam a criança à noção de número.

Pense em um treinador que ensina um menino a jogar futebol da seguinte maneira: ele explica o que é drible, trave, gol, chute etc; faz o menino decorar tudo isso e depois manda o menino jogar e marcar gols.
Será que o menino vai jogar bem?
Só com explicações, é quase impossível. Aprende-se a jogar futebol jogando, tendo contatos, experiências com a bola, o campo, os companheiros, o adversário. Só depois é que as explicações do treinador podem ser úteis. Podem contribuir para desenvolver o conhecimento sobre o jogo e, talvez, até transformar o aprendiz em craque.

Com as crianças e os números acontece a mesma coisa. Para entender bem os números, as crianças precisam ter vivido certas experiências. Só depois disso que os nossos ensinamentos serão úteis.
A criança começa a formar a ideia de número a partir de situações que envolvem quantidades. A criança pode viver essas situações em casa ou brincando com amigos, antes mesmo de ir à escola. Mas existem crianças que nunca passaram por essas situações.
Por isso, antes de ensinar a escrever números e a contar, devemos criar situações para o aluno ter experiências com quantidades.

Referência Bibliográfica

FRABETTI, Carlo. Alice no País dos números. São Paulo: Editora Ática, 2002. p.42.
 IFRAH, Georges. Os Números: História de uma grande invenção. 10ª ed. São Paulo: Globo, 2001. p. 31-71.

BLOCOS LÓGICOS

BLOCOS LÓGICOS

A Geometria exige uma maneira específica de raciocinar, explorar e descobrir, fatores que desempenham importante papel na concepção de espaço pela criança.
As figuras geométricas mais conhecidas pelos alunos são o quadrado, o retângulo, o triângulo e o círculo que são trabalhadas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Nas classes de educação infantil, os blocos lógicos, pequenas peças geométricas, criadas na década de 50 pelo matemático húngaro Zoltan Paul Dienes, são bastante eficientes para que os alunos exercitem a lógica e evoluam no raciocínio abstrato. Foram utilizados de modo sistemático com crianças pelo psicólogo russo Vygotsky (1890-1934), quando ele estudava a formação dos conceitos infantis.
Eles facilitarão a vida dos alunos nos futuros encontros com números, operações, equações e outros conceitos da disciplina.
Sua função é dar aos alunos idéias das primeiras operações lógicas, como correspondência e classificação. Essa importância atribuída aos materiais concretos tem raiz nas pesquisas do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980).
Segundo Piaget, a aprendizagem da Matemática envolve o conhecimento físico e o lógico-matemático. No caso dos blocos, o conhecimento físico ocorre quando o aluno manuseia, observa e identifica os atributos de cada peça.
O lógico-matemático se dá quando ela usa esses atributos sem ter o material em mãos (raciocínio abstrato).


Material: um jogo de blocos lógicos contém 48 peças divididas em três cores (amarelo, azul e vermelho), quatro formas (círculo, quadrado, triângulo e retângulo), dois tamanhos (grande e pequeno) e duas espessuras (fino e grosso).


Alunos: a turma estará dividida em pequenos grupos para a realização das atividades.

1 - JOGO LIVRE
Primeiramente, os alunos reconhecerão o material. Formarão desenhos com as formas dos blocos lógicos, observando e comparando as cores, os tamanhos e as formas. Esse trabalho poderá ser feito em grupo, pois os alunos, através de diálogos, enriquecerão o conhecimento das características físicas de cada bloco.

Trenzinho feito com círculos, quadrados e retângulos: Formas                                                       livres no primeiro contato das crianças com as peças dos blocos lógicos.

2 - EMPILHANDO PEÇAS
 Peças do material espalhadas pela mesa (ou pelo chão). Cada aluno deverá pegar uma peça e colocar no centro do grupo, de modo que as peças serão empilhadas uma a uma. O aluno deverá fazer de tudo para a “torre” não cair. Para isso os alunos terão que pensar nas peças mais adequadas para a base, meio ou topo da torre deixando as “piores” para o companheiro seguinte. Nesta atividade os alunos desenvolverão a capacidade de discernimento, raciocínio lógico e motricidade.

3 - JOGO DA CLASSIFICAÇÃO
Apresentar um quadro às crianças para que classifiquem os blocos.
Criar junto com os alunos os atributos que serão dados para os tipos de blocos existentes.

Exemplos:
a) as quatro formas: círculo, quadrado, retângulo e triângulo
b) as duas espessuras: grosso e fino
c) os dois tamanhos: pequeno e grande
d) as cores: amarelo, azul e vermelho

Fazer em cartolina um quadro. Escolher alguns atributos e pedir aos alunos que separem os blocos de acordo com os atributos escolhidos.
Primeiramente, escolher apenas um atributo (quadrada).
Exemplo: separar apenas as peças quadradas.
Depois, ir acrescentando atributos (vermelha, fina, pequena).
Os alunos irão completar o quadro com a peça quadrada, pequena, fina e vermelha.


4 - A HISTÓRIA DO PIRATA
 Agora, contar a seguinte história: "Era uma vez um pirata que adorava tesouros. Havia no porão de seu navio um baú carregado de pedras preciosas. Nesse porão, ninguém entrava. Somente o pirata tinha a chave. Mas sua felicidade durou pouco. Numa das viagens, uma tempestade virou seu barco e obrigou todos os marinheiros a se refugiarem numa ilha. Furioso, o pirata ordenou que eles voltassem a nado para resgatar o tesouro. Mas, quando retornaram, os marujos disseram que o baú havia sumido. 'Um de vocês pegou', esbravejou o pirata desconfiado."
Nesse ponto, começa o jogo com as crianças. Peça que cada uma escolha um bloco lógico. Ao observar as peças sorteadas, escolha uma delas sem comunicar às crianças qual é. Ela será a chave para descobrir o "marujo" que está com o tesouro. Apresente então um quadro com três colunas (veja abaixo). Supondo que a peça escolhida seja um triângulo pequeno, azul e grosso, você diz: "Quem pegou o tesouro tem a peça azul". Pedindo a ajuda das crianças, preencha os atributos no quadro. Em seguida, dê outra dica: "Quem pegou o tesouro tem a forma triangular". Siga até chegar ao marinheiro que esconde o tesouro. A atividade estimula mais que a comparação visual. Também exercita a comparação entre o atributo, agora imaginado pela criança, e a peça que a criança tem na mão. A negação (segunda coluna do quadro) leva à classificação e ajuda a compreender, por exemplo, que um número pertence a um e não a outro conjunto numérico.



5 – JOGOS ADIVINHEM QUAL É A PEÇA
Dividir a classe em grupos e espalhar os blocos lógicos pelo chão. Para descobrir qual é a peça, as crianças farão uma competição. Dar um comando das características de uma peça (por exemplo: amarelo, triângulo, grande e fino) para um grupo.
Em seguida, o grupo deve procurar e selecionar a peça correspondente para mostrá-la, o mais rapidamente possível, às outras equipes.
A competição poderá ter como objetivo verificar qual grupo encontra a peça correta primeiro ou de qual grupo encontra mais peças corretas. À medida que acertam, recebem uma pontuação.
Outra opção é de cada equipe desafiar os outros grupos da classe distribuindo eles mesmos os atributos.

6- O JOGO DAS DIFERENÇAS
Neste jogo os alunos observarão três peças sobre o quadro.
Exemplo:
1- triângulo, amarelo, grosso e grande;
2- quadrado, amarelo, grosso e grande;
3- retângulo, amarelo, grosso e grande;
Eles deverão escolher a quarta peça (círculo, amarelo, grosso e grande) observando que, entre ela e sua vizinha, deverá haver o mesmo número de diferenças existente entre as outras duas peças do quadro (a diferença na forma).
As peças serão colocadas pela professora de forma que, em primeiro lugar, haja apenas uma diferença. Depois duas, três e, por fim, quatro diferenças entre as peças. Os alunos farão comparações cada vez mais rápidas quando estiverem pensando na peça que se encaixe em todas as condições. 

7 - SIGAM OS COMANDOS
As crianças vão transformar uma peça em outra seguindo uma sequência de comandos estabelecida pelo professor. Esses comandos são indicados numa linha por setas combinadas com atributos. No exemplo da foto, vemos uma sequência iniciada com os atributos círculo, azul e grosso. As crianças então escolhem a peça correspondente. O comando seguinte é mudar para a cor vermelha. As crianças selecionam um círculo grosso e vermelho. Em seguida, devem mudar para a espessura fina. Então, um círculo vermelho e fino é selecionado. Assim por diante, o professor pode continuar acrescentando comandos ou pode apresentar uma sequência pronta.
 Depois é feito o processo inverso.

 

As crianças são então apresentadas a uma nova seqüência de comandos, já com a última peça. Elas deverão reverter os comandos para chegar à peça de partida. A atividade é essencial para o entendimento das operações aritméticas, principalmente a soma como inverso da subtração e a multiplicação como inverso da divisão. E também contribui, no futuro, para que as crianças resolvam problemas e entendam demonstrações, atividades que exigem uma forma de raciocínio em etapas sequenciais.

8 – DOMINÓ
Essa atividade é semelhante ao jogo de dominó. As peças serão distribuídas entre os alunos sendo que uma delas será escolhida pelo professor para ser a peça inicial do jogo. O professor estabelece o nível de dificuldade da atividade estipulando o número de diferenças que deve haver entre as peças. Supondo que deva haver uma diferença entre as peças e que a peça inicial seja um triângulo vermelho pequeno e grosso. A peça seguinte deverá conter apenas uma diferença, como por exemplo, um triângulo amarelo pequeno e grosso (a diferença nesse caso é a cor). A atividade segue até que uma das crianças termine suas peças. As demais deverão sempre conferir se a peça colocada pelo colega “serve”, ou seja, se contém o número de diferenças estipulado pela professora.

OBSERVAÇÃO:
Esse material é muito utilizado no trabalho com conjuntos (notações, relação de pertinência, relação de inclusão, união e intersecção de conjuntos). As diferenças existentes entre as peças são utilizadas nessas construções e as atividades realizadas anteriormente são maneiras de internalizar estes conceitos.
Após a realização dessas atividades, outras podem ser realizadas.

9 – CONJUNTOS DAS PARTES
Para essa atividade são necessários quatro dados: um com o desenho dos blocos em cada face (triângulo,quadrado, círculo e retângulo), outro com as faces coloridas (azul, amarelo e vermelho), outro com a grandeza (grande e pequeno) e outro com a espessura (grosso e fino).
Uma criança lança o primeiro dado e retira do conjunto de blocos as peças que satisfazem a característica da face superior. Lança o segundo dado e retira do subconjunto obtido as peças que satisfazem a característica da face superior. Lança o terceiro dado e retira do último subconjunto obtido as peças que satisfazem a característica indicada no dado. Lança o quarto dado e retira a peça que satisfaz a última condição, chegando, assim, a um conjunto unitário.
Variação:
Se em vez de utilizarmos todas as peças da caixa escolhermos algumas peças aleatórias. Poderemos chegar à noção do conjunto vazio usando o mesmo procedimento.

10 – DESCOBRINDO A INTERSECÇÃO E A UNIÃO
Entrega de dois pedaços de cordão para cada grupo para a formação de dois conjuntos. O professor solicita aos grupos que:
  • Retirem da caixa todas as peças triangulares e todas as peças amarelas.
  • Coloquem no interior de uma das curvas todas as peças amarelas e, a seguir, na outra, todas as triangulares.
O professor deverá observar se os grupos atenderam corretamente as ordens dadas e solicitar aos grupos um relato do ocorrido.
***Os alunos perceberão, sem a interferência do professor, que existem peças que devem estar, simultaneamente, no interior das duas curvas. Notarão que para isto ser possível, as curvas não poderão estar separadas. Isto é, existe uma região comum entre eles onde as peças que possuem as duas características, triangulares e amarelas, ficam localizadas (o professor deve enfatizar este fato).
A partir da descoberta dos alunos, o professor salientará que as curvas representam conjuntos e que a região comum entre ambas formam o conjunto intersecção.
Da mesma forma, se o professor pedir para que construam um conjunto formado por todas as peças amarelas ou triangulares, teremos a definição de união de conjuntos.
Variação:
Usando três cordões, o professor poderá solicitar que no interior de cada curva coloquem, sucessivamente (por exemplo):
- todas as peças circulares;
- todas as peças azuis;
- todas as peças pequenas
e verificar a intersecção entre eles.
***Quando não existir a intersecção eles serão conjuntos disjuntos.

11 – A atividade número 4 seria ideal para trabalhar o conceito de pertinência. O tesouro pertence à coluna (conjunto) “Quem pegou o tesouro?” e não pertence à coluna (conjunto) “Quem não pegou o tesouro?”. Além disso, o conjunto das peças azuis e triangulares (*) está contido no conjunto das peças azuis e o conjunto das peças triangulares contém o mesmo (*).

BIBLIOGRAFIA:
COSTA, Maria da Piedade Resende da. Matemática para deficientes mentais. São Paulo: EDICON, 1997. (Coleção Acadêmica. Série Comunicação)
FALZETTA, Ricardo. Construa a lógica, bloco a bloco. In: Nova Escola, 111 ed., abr 1998, p.20-23.
FERRARI, Márcio. A criança como protagonista. In: Nova Escola, 164 ed., ago 2003, p.32-34.
PACHECO, Alice Teresinha. Material Dourado; Blocos Multibásicos. In: Educação Matemática em Revista, 4 ed., 2002, p. 51-56.





CUISENAIRE PARA PROFESSORES

                                                           MATERIAL CUISENAIRE



O Material Cuisenaire tem mais de 50 anos de utilização em todo o mundo.
Foi criado pelo professor belga Georges Cuisenaire Hottelet (1891-1980) depois de ter observado o desespero de um aluno, numa das suas aulas.
Decidiu criar um material que ajudasse no ensino dos conceitos básicos da Matemática tais como: explorar seqüência numérica; frações (o aluno identifica as relações entre a parte e o todo); coordenação motora; memória; análise-sintese; constância de percepção de forma, tamanho e cores.
Então cortou algumas réguas de madeira em 10 tamanhos diferentes e pintou cada peça de uma cor tendo assim surgido a Escala de Cuisenaire.
Durante 23 anos, Cuisenaire estudou e experimentou o material que criara na aldeia belga de Thuin.
Só 23 anos depois da sua criação (a partir de um encontro com outro professor – o egípcio Caleb Gattegno), é que o seu uso se difundiu com enorme êxito. O egípcio, radicado na Inglaterra, passou a divulgar o trabalho de Cuisenaire – a quem chamava de Senhor Barrinhas.
Levou apenas 13 anos para passar a ser conhecido nas escolas de quase todo o mundo.

Feito originalmente de madeira, o Cuisenaire é constituído por modelos de prismas quadrangulares com alturas múltiplas da do cubo – representante do número 1 – em 10 cores diferentes e 10 alturas proporcionais.


A - JOGOS DE INICIAÇÃO À ADIÇÃO


“Amarela + Verde-clara = Castanha












B - INÍCIO DO ESTUDO E COMPARAÇÃO DEPARTES DE

A mãe da Joana e do Pedro comprou-lhes dois chocolates iguais num super-mercado. No dia seguinte, ambos repararam que cada chocolate podia dividir-se em dez pedacinhos iguais. Enquanto que o Pedro decidiu comer de manhã sete desses dez pedacinhos, guardando os restantes três para depois do almoço, a Joana decidiu guardar a maior parte do chocolate para essa altura, comendo somente de manhã, três dos dez pedacinhos do seu chocolate.

a)  Que parte do chocolate comeu o Pedro de manhã?










  b) Que parte do chocolate comeu a Joana de manhã?

c) Quem comeu mais chocolate nessa parte do dia, o Pedro ou a Joana?


 

C - JOGOS DE INICIAÇÃO ESTUDO DA

PROPRIEDADE COMUTATIVA DA ADIÇÃO

   Numa Segunda-Feira de aulas, o Ricardo tentava explicar ao seu melhor amigo, o Rui, um problema que se lhe tinha colocado à hora de almoço do dia anterior, a propósito de um bolo que comeram nesse dia. Então, contava o Ricardo:
n A minha mãe Irene, ao pegar na faca para partir o bolo disse que iria ser a pessoa que iria comer mais bolo, pois, das doze fatias que o compunham, pretendia comer metade.
n O meu pai Artur, interrompeu-a dizendo que seria ele o que iria comer mais, uma vez que pretendia comer a terça parte do bolo.
n A minha irmã Mónica, como é muito gulosa disse que ela é que iria comer mais fatias, pois iria comer quatro fatias.
n Depois de muito pensar, disse-lhes que seria eu quem comeria mais bolo, pois pretendia comer seis fatias.

            Consegues adivinhar, Rui, quem de nós comeu mais fatias inteiras do bolo?

Analisando o esquema anterior e, tendo em conta o tamanho do bolo, alguma dúvida ainda a haver estaria entre o que a tua mãe comeu e aquilo que tu comeste. Por um lado a tua mãe disse que dividia o bolo em duas partes iguais e comia uma delas. Por outro lado, tu comias seis das doze fatias. Tenho necessidade de comparar essas duas quantidades:


Posso concluir que se assim fosse ambos teriam comido igual quantidade de bolo, pois seria igual dizer que comiam metade do bolo ou seis das doze fatias desse bolo. 



Não acredito é que isso tenha ocorrido, pois o teu pai e a tua irmã não comeriam nada desse bolo! Já agora deixa-me perguntar-te quem pretendia comer mais bolo, o teu pai ou a tua irmã?

 

Tal como tu concluíste antes, também eu posso concluir que, se assim fosse, ambos teriam comido igual quantidade de bolo, pois seria igual dizer que comiam a terça parte do bolo ou quatro das doze fatias desse bolo.


E - JOGOS ENVOLVENDO

OPERAÇÕES COM FRACÇÕES

Estando-se discutindo sobre as contribuições que cada membro da família deveria dar para pagar o bolo, o pai referiu que contribuiria para pagar um quarto do bolo e a Mónica pagaria a sexta parte. Se o Ricardo pagasse o dobro da quantia paga pela irmã, que parte do custo do bolo ficaria para a mãe pagar?


BIBLIOGRAFIA

Kátia Stocco Smole, tel. (11) 5548-6912, www.mathema.com.br
Aprendendo e Ensinando Geometria, Ivonny Lindquist, 320 págs., Ed. Atual.
Jogando e Construindo Matemática, Maria Verônica Rezende de Azevedo, 142
págs. Ed. VAP.




quarta-feira, 12 de agosto de 2015

JEAN PIAGET E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE NÚMERO

JEAN PIAGET - CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE NÚMERO

Jean Piaget (1896-1980) investigou como se processa a construção do conceito de número de forma experimental. Para explicar o desenvolvimento intelectual, este autor, partiu da ideia que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio.
Assim, Piaget entende que o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico (WADSWORTH, 1996) e, que a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento "total" do organismo.

Na aquisição do conceito de número, destacam-se quatro noções básicas: classificação, seriação, correspondência biunívoca e conservação da quantidade.

Haja vista disso, Jean Piaget afirma que “os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus meios”. Dessa forma, “o professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas”.

Construtivista
Baseado principalmente nas idéias de Piaget. Tem como proposta de que a mente é modelada como uma experiência organizativa de modo a lidar com um mundo real que não pode ser conhecido em si.

Envolve dois princípios:
1. o conhecimento é ativamente construído pelo sujeito cogniscente e não passivamente recebido do meio.
2. conhecer é um processo adaptativo que organiza o mundo experiencial de cada um, não descobre um mundo independente, pré-existente, exterior à mente do sujeito.
Acredita que cada ser humano constrói o significado para a linguagem que usa, no caso matemática, à medida que vai construindo o seu mundo experiencial.

Comportamentalista
Esta corrente associou o comportamento humano ao dos outros animais. Possui uma abordagem cartesiana, busca encontrar os elementos básicos do pensamento humano e seu comportamento. Thorndike, primeiro comportamentalista a pensar o ensino da matemática, entende a aprendizagem como uma série de conexões entre situações ou estímulo e resposta. 

E baseia-se em três leis fundamentais para a aprendizagem:
1. Lei do efeito: uma conexão recém estabelecida tem sua força aumentada se acompanhada por uma sensação de satisfação
2. Lei do exercício: quanto mais utilizada uma conexão, mais forte ela se torna.
3. Lei da prontidão: parte da idéia de que as conexões podem ou não estar prontas para serem postas em prática, se uma conexão está pronta, seu uso gera satisfação, se não está, seu uso gera desconforto.

O eixo central da teoria de Piaget consiste, portanto, na interação organismo-meio, sendo que essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida, sendo denominadas “invariáveis funcionais”. A adaptação ocorre através da assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento.

A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é modificado e produz consequências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. 


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